
Chego na reda��o do jornal e recebo uma raridade nestes tempos do computador: a carta de um senhor de 91 anos me relatando o prazer de passar adiante os livros que gosta de ler. Falava de um livro do qual tamb�m gosto muito: “Cora��o”, do italiano Edmondo de Amicis.
Tenho uma hist�ria curiosa a respeito desse cl�ssico italiano, que leio desde sempre. Meu marido foi convidado pela Fiat para visitar Turim e, por delicadeza, me convidaram tamb�m. Como companhia, n�o para visitar f�bricas. Acontece que no avi�o em que fomos para a It�lia ia um convidado famoso: Pel�.
Por um desses casos raros, t�o logo chegou � It�lia, nosso avi�o teve de fazer uma parada. Um outro avi�o que vinha do Oriente parou tamb�m. Quando os passageiros viram Pel�, foi um deus nos acuda. Tomaram conta dele. Se o pessoal da companhia a�rea n�o entra na dan�a, ficar�amos horas esperando para voltarmos a voar.
Chegamos a Turim e a porta do hotel estava repleta de admiradores do jogador, a not�cia tinha chegado antes de n�s. Foi outra confus�o at� alcan�armos o nosso quarto.
No dia seguinte, os convidados da Fiat deveriam seguir uma programa��o. Eu, fora daquela agenda, resolvi dar uma volta pela cidade. Queria chegar at� a igreja onde estava exposto o santo sud�rio de Jesus, rel�quia que, para a Igreja Cat�lica, foi a pe�a que cobriu Cristo pela �ltima vez.
Sabia mais ou menos a dire��o da igreja e fui andando. Passei por uma pra�a que tinha como atra��o uma grande livraria. Entrei para tentar conseguir “Cora��o” em sua l�ngua original. Quando perguntei se tinham “Cuore”, foi um espanto total. Editado em 1886, funcion�rios n�o podiam acreditar que o livro de Amicis seria procurado, depois de tantos anos, por uma turista brasileira.
A curiosidade foi total. Depois de muito buscar, acharam o livro e fizeram quest�o de me presentear. Fiquei totalmente sensibilizada com a aten��o deles, espantados com meu interesse por uma obra marcante e muito antiga da literatura italiana.
Outro dado: “Cora��o” era considerado livro de cabeceira tanto de Manuel Bandeira quanto do mineiro Paulo Mendes Campos.
Um pouco mais adiante da livraria ficava a igreja. Entrei. Antes dos bancos foi colocado o pedestal com o caix�o de vidro. L� dentro, bem vis�vel, ficava o sud�rio. Mas tive uma surpresa: era a c�pia fiel do original, que estava correndo o mundo. Para n�o perder a caminhada, fiquei um tempo reparando na c�pia, que deve ter sido feita por algum artista muito bom.
O tecido, um linho branco e fino, copiava t�o bem o original que estava gasto pelo tempo, mas as fei��es de Jesus estavam l�.
A viagem a convite da Fiat continuou. Fui para a confer�ncia que teria Pel� como atra��o. Audit�rio lotado, o craque no palco, falando em portugu�s e o p�blico atento, aplaudindo muito ao final. Achei Pel� muito simp�tico e am�vel, sem arrog�ncia nenhuma.
A programa��o terminou em Roma, com um almo�o na embaixada brasileira, comandada por Paulo de Tarso Flecha de Lima ao lado da embaixatriz L�cia, ambos mineiros. Deste almo�o, tenho at� hoje a foto de Pel�, outro mineiro, conversando separadamente com a dom�stica da embaixada.
“CUORE”
. De Edmondo de Amicis
. Tradu��o de Maria Val�ria Rezende
. Editora Aut�ntica
. R$ 49,80
. R$ 34,90 (e-book)