
Estima-se que, no mundo, mais de 8 milh�es de crian�as foram concebidas por meio de tecnologias de reprodu��o assistida. Com o avan�o das pesquisas na �rea, esses procedimentos t�m se tornado cada vez mais eficazes e populares. No entanto, ainda h� muita discuss�o sobre a sa�de a longo prazo de crian�as concebidas por meio desses tratamentos, pois, por serem tecnologias recentes, o conhecimento sobre o assunto ainda � limitado.
“O desejo de ter filhos parece superar qualquer quest�o relacionada aos tratamentos de reprodu��o assistida. Isso � o que realmente importa”, diz Fernando Prado, especialista em reprodu��o humana, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM).
Esse � o primeiro estudo sobre os efeitos a longo prazo da reprodu��o com doa��o de gametas ou barriga solid�ria na sa�de psicol�gica de crian�as e fam�lias. Por 20 anos, pesquisadores acompanharam 65 fam�lias brit�nicas com filhos concebidos por meio de barriga solid�ria, doa��o de �vulos ou doa��o de s�men. O grupo foi comparado com 52 fam�lias que tiveram filhos de maneira natural. Concluiu-se que a falta de conex�o gen�tica entre pais e filhos n�o interfere nas rela��es familiares ou no bem-estar emocional das crian�as.
O estudo � o primeiro a investigar o impacto que a descoberta desses tratamentos tem nas crian�as, dependendo da idade em que s�o informadas sobre o assunto. M�es que contaram �s crian�as sobre sua origem biol�gica no per�odo pr�-escolar apresentavam rela��o mais positiva com os filhos e menores n�veis de ansiedade e depress�o.
Jovens adultos concebidos por meio de reprodu��o assistida que souberam de sua origem por volta dos 7 anos conquistaram melhores resultados no question�rio sobre aceita��o parental, comunica��o familiar e bem-estar psicol�gico, al�m de reportarem menos problemas na rela��o familiar em compara��o com os indiv�duos que descobriram sobre sua concep��o ap�s os 7 anos.
“Isso sugere o efeito positivo em ser sincero com as crian�as sobre sua concep��o enquanto ainda s�o jovens, preferencialmente antes de entrarem na escola. � algo bastante similar ao que foi demonstrado por estudos com fam�lias adotivas”, afirma Fernando Prado.
M�es por doa��o de �vulos reportaram rela��es familiares menos positivas que m�es por doa��o de s�men, mas isso n�o se refletiu na percep��o dos filhos sobre a qualidade dessa rela��o. “� poss�vel que esse fato esteja relacionado a inseguran�as maternas causadas pela aus�ncia de conex�o gen�tica com seus filhos”, pondera o m�dico.
Jovens adultos concebidos a partir de doa��o de s�men reportaram pior comunica��o familiar em compara��o com aqueles concebidos por meio de doa��o de �vulos. Al�m disso, apenas 42% dos filhos gerados por doa��o de s�men sabiam desse fato aos 20 anos, contra 88% das crian�as concebidas por doa��o de �vulos e 100% daqueles gestados por barriga solid�ria.
“A explica��o pode ser o maior sigilo que envolve a doa��o de s�men, que muitas vezes n�o � revelada aos filhos. Al�m disso, mesmo quando � revelada, existe maior relut�ncia em falar sobre o assunto”, destaca o especialista.
Atualmente, o estudo pode parecer algo irrelevante, dada a quantidade de casais que conquistaram o sonho de iniciar uma fam�lia por meio de reprodu��o assistida, mas h� 20 anos, quando a pesquisa foi iniciada, a vis�o sobre esse tipo de fam�lia era diferente. Pensava-se que, sem a conex�o gen�tica, as rela��es familiares n�o funcionariam. Ainda hoje, a pesquisa � relevante, pois informa��es sobre sa�de mental de pessoas concebidas a partir de tratamentos de reprodu��o humana s�o escassas.
“O estudo pode encorajar casais inf�rteis a optar pelos tratamentos de reprodu��o assistida como meio de gerar um filho e come�ar uma fam�lia”, finaliza o especialista.