A obesidade � uma das principais causas da infertilidade da mulher. Segundo dados do Sistema de Vigil�ncia Alimentar e Nutricional do Minist�rio da Sa�de, o problema cresceu nos �ltimos anos. Em 2022, ele atingiu 33,6% da popula��o feminina em idade f�rtil monitorada pelo sistema, contra 27,5% em 2018.
O excesso de peso pode levar a desequil�brios hormonais que afetam a ovula��o e prejudicam a fertilidade. Al�m disso, a obesidade aumenta o risco de complica��es na gesta��o, como diabetes, hipertens�o e pr�-ecl�mpsia. A perda de peso, seja por tratamento cl�nico ou cir�rgico, pode ajudar a melhorar a sa�de reprodutiva.
As complica��es na gesta��o de mulheres com obesidade grave n�o s�o novidade. � comum a ecl�mpsia, pico de press�o alta que pode alterar o fluxo sangu�neo do c�rebro, levar � convuls�o e � morte. Foi o que ocorreu com a enfermeira Mariana Parra, de S�o Paulo. Hospitalizada �s pressas ao final da gesta��o, ap�s um pico de press�o ela precisou ser submetida � ces�rea de emerg�ncia. Segundo Mariana, a experi�ncia como profissional da sa�de foi determinante.
“O que salvou a minha vida e a do meu filho foi buscar o atendimento m�dico r�pido. Foram algumas horas entre os primeiros sintomas e o parto. Felipe teria de nascer naquela noite. Para proteger meu c�rebro, usaram sulfata��o, que altera a fun��o card�aca e renal, e medica��es para baixar a press�o enquanto preparavam a cirurgia”, conta.
“Entrei no centro cir�rgico com press�o 22 por 15. Ap�s a anestesia, que causa a queda, foi para 9 por 5. Fizeram a cesariana e ele n�o chorou. Por causa da diminui��o brusca da press�o, ele passou por reanima��o. Na aspira��o, teve convuls�o e foi para a UTI neonatal”, conta Mariana, tamb�m encaminhada para a UTI ap�s o parto.
A luta de Mariana contra o excesso de peso vem da inf�ncia. Todas as estrat�gias falharam: inibidores de apetite, dietas, medicamentos e bal�o intrag�strico. Mesmo diante da dificuldade do parto, a rela��o dela com a obesidade n�o mudou. “Estava na moda respeitar todos os corpos”, conta.
No come�o da pandemia, atuando como enfermeira na linha de frente do combate � COVID-19, Mariana decidiu definitivamente perder peso. E se submeteu � cirurgia bari�trica. “O fator determinante foi observar que jovens que faleceram em decorr�ncia da doen�a tinham em comum a obesidade. Fiquei com medo”, afirma.
Ap�s a bari�trica, a enfermeira diz que ganhou vida mais tranquila e saud�vel, consegue praticar atividades f�sicas e a autoestima melhorou. “O que mais mudou foi o condicionamento f�sico. Consigo brincar com meu filho e nunca mais tive problema de press�o. Fa�o coisas que nunca imaginei: andei 10 quil�metros, entrei em brinquedos com o meu filho. Isso tudo foi a cirurgia bari�trica que me proporcionou.”
Especialistas s�o un�nimes em alertar que a doen�a � fator determinante para a gravidez de alto ou baixo risco e, at� mesmo, para a melhora da fertilidade. “A redu��o de peso proporcionada pela cirurgia bari�trica pode melhorar a fertilidade feminina, pois o excesso de tecido adiposo interfere na produ��o hormonal dos ov�rios e dificulta a ovula��o”, explica Ant�nio Carlos Valezi, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bari�trica e Metab�lica.
Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, recomenda o acompanhamento por especialistas. “Se a mulher tem sobrepeso ou obesidade e dificuldade de engravidar, ela pode come�ar com o ginecologista e o endocrinologista, que avaliar�o o motivo pelo qual ela apresenta a dificuldade de fertilidade, aquela altera��o do ciclo menstrual”, diz.
Segundo ele, uma das principais comorbidades associadas � obesidade � a s�ndrome dos ov�rios polic�sticos, com a falta de ovula��o, o que o tratamento muitas vezes consegue reverter.
Miranda refor�a que a perda de peso eficaz, antes da gravidez, reduz o risco durante a gesta��o para a m�e e o filho. O beb� pode crescer mais do que o esperado, fator que vai interferir no momento do parto.