
“Acabou, porra!”, berrou o presidente Jair Bolsonaro, contrariado com a decis�o do ministro do STF Alexandre de Moraes de busca e apreens�o de computadores e celulares de blogueiros, deputados e empres�rios bolsonaristas no inqu�rito que apura uma rede de fake news e difama��o na internet. Sinto dizer, presidente, n�o acabou.
Os problemas est�o s� come�ando, agravados pelo v�rus e recess�o. O n�mero de contaminados e mortos pelo v�rus Sars-CoV-2, ou COVID-19, continua aumentando e poder� ficar circulando por a� por muito tempo, mesmo com vacina, tal como o H1N1 e outros pat�genos.
N�o h� sinal, tamb�m, de que a recess�o v� acabar com o fim do isolamento social, assim como tudo reabre na segunda-feira depois do domingo e vida que segue, sem nada anormal. O novo normal � a transforma��o.
N�o h� sinal, tamb�m, de que a recess�o v� acabar com o fim do isolamento social, assim como tudo reabre na segunda-feira depois do domingo e vida que segue, sem nada anormal. O novo normal � a transforma��o.
A mortandade de empresas ser� a sequela imediata da pandemia, tal como o desemprego, cujo pico se dar� em maio e junho. No bimestre de mar�o e abril, a destrui��o l�quida de empregos totalizou 1,1 milh�o de carteiras assinadas. Outros 8,1 milh�es de assalariados tiveram o contrato de trabalho suspenso e os sal�rios reduzidos.
Mais de 40 milh�es de informais ficaram subitamente sem renda com as regras de distanciamento social. Tais medidas encolheram a PEA, popula��o economicamente ativa, raz�o de a taxa de desemprego at� abril ter avan�ado relativamente pouco, para 12,6% dos ocupados, j� que milhares n�o sa�ram em busca de empregos. Correram para as filas de pagamento do auxilio emergencial de R$ 600 a R$ 1,2 mil.
No papel de “fisicultor” de PIB, no que repete o ex-ministro Guido Mantega, Paulo Guedes, atual titular da Economia, voltou a esbanjar otimismo. Ele: o governo est� seguro de que vai furar as duas ondas da crise, na sa�de e na economia. Fato: no primeiro trimestre o PIB recuou 1,54% sobre o per�odo de outubro a dezembro, quando j� havia ca�do 0,2%. Em suma, a economia tendia ao quarto ano de desempenho med�ocre, talvez at� em recess�o, muito antes da pandemia.
O pa�s est� longe de poder desabafar gritando “acabou”, ainda que Bolsonaro tivesse aludido ao sentimento de que ora o Congresso, ora o Judici�rio cerceariam suas a��es, indiferentemente ao que consagra a Constitui��o: a independ�ncia dos tr�s poderes, al�m da regra de conviv�ncia harmoniosa entre eles. Quem mesmo semeia desarmonia?
Condicionantes da fortuna
A verdade � que tudo na vida depende das circunst�ncias e, no caso de um governante eleito, do contexto do seu governo, do �nimo entre os eleitores pr�s e contras, das expectativas imediatas e do futuro. O que h�, exatamente, em cada um desses condicionantes da fortuna?
O governante precavido olharia para tr�s, buscando as raz�es que o levaram a se eleger, e para frente, procurando entender as grandes tend�ncias em curso no mundo. Bolsonaro certamente n�o se elegeu por querer armar a popula��o, fazer vista grossa para a devasta��o ambiental, legalizar grilagem na Amaz�nia, elevar n�mero de pontos para a perda da carteira de habilita��o, implicar com cadeirinha de beb� e com radares m�veis nas estradas, os temas das medidas provis�rias (MPs) que o Congresso reformou ou deixou caducar.
Mesmo intuitivamente, o sentimento popular h� muito se move tanto pela percep��o de que o pa�s e a m�dia das pessoas t�m ficando para tr�s nos �ltimos anos quanto pela no��o, certa ou n�o, de que boa parte do retrocesso se deve � corrup��o. A Bolsonaro coube liderar tais transforma��es. Cicl�picas, parece aturdido pelo que n�o sabe.
Com tend�ncia de regress�o
O que ser� depende de n�s mesmos. Se dermos corda ao que n�o tem futuro em lugar algum, j� que passou o tempo de governos cesaristas em sociedades complexas (e isso explica tamb�m parte dos reveses da campanha � reelei��o de Donald Trump), a bolha social tem risco de explodir (como explode a cada trope�o do regime de partido �nico da China, com planejamento central e vi�s de mercado).
A economia � o espelho de nossa j� longa estagna��o, tendendo para a regress�o. Como reporta o economista Nilson Teixeira em artigo no Valor, o PIB recuar� cerca de 1% nesta d�cada, de 2011 a 2020. Per capita, a renda vai diminuir mais de 9%. A renda m�dia, a pre�os de 2017, encolher� de R$ 2.706 (ou US$ 940) em 2010 para R$ 2.475 (US$ 730) ao fim de 2020, e isso se a taxa cambial parar em R$ 5,50.
Em uma frase: estamos empobrecendo a passos largos. N�o h� solu��o f�cil, uma bala de prata. Sabe-se � que n�o ser� brigando com todos nem criando inimigos e conspira��es em redes sociais que se chegar� ao que fazer.
Como diz o presidente da C�mara, Rodrigo Maia, a quem cabe iniciar um processo de impeachment, “a hora � de mais di�logo, paci�ncia e sensatez”. Isso n�o � frase feita nem fake news, como sabe a intelligentsia das corpora��es fardadas e civis.
Como diz o presidente da C�mara, Rodrigo Maia, a quem cabe iniciar um processo de impeachment, “a hora � de mais di�logo, paci�ncia e sensatez”. Isso n�o � frase feita nem fake news, como sabe a intelligentsia das corpora��es fardadas e civis.
Cabe�a fria e intelig�ncia
Na linguagem da inform�tica, � preciso deletar o que n�o funciona e reiniciar noutro modo. A tecnologia � o fio condutor. Ela est� no foco das aten��es no combate ao v�rus e na reabertura das economias em todo o mundo. A tecnologia se conecta umbilicalmente � educa��o, �rea em que desde sempre o pa�s tamb�m � reprovado.
Estender tapete vermelho �s novas iniciativas empresariais � outro caminho que funcionou para todas as economias bem-sucedidas, pa�ses em que ortodoxias entraram em campo s� depois que o desenvolvimento estava maduro. Aqui, em especial, a pobreza � uma chaga a enfrentar n�o s� por raz�es �ticas e de justi�a social, mas pragm�ticas.
O mercado de massa alcan�a, no m�ximo, 30 milh�es de consumidores, contra mais de 100 milh�es de pessoas na for�a de trabalho. N�o faz sentido desperdi�ar o potencial de consumo dos milh�es de informais descobertos pelo governo gra�as ao aux�lio emergencial.
Fake news � tratar essa legi�o de brasileiros como invis�vel. Ou maquina��o de comunista se preocupar com a sua sorte. Isso, sim, � fake news. Bravatas e palavr�es, quando muito, ajudam a desopilar o f�gado. � com cabe�a fria, uni�o e intelig�ncia, onde ela exista, que se acha a solu��o.
Fake news � tratar essa legi�o de brasileiros como invis�vel. Ou maquina��o de comunista se preocupar com a sua sorte. Isso, sim, � fake news. Bravatas e palavr�es, quando muito, ajudam a desopilar o f�gado. � com cabe�a fria, uni�o e intelig�ncia, onde ela exista, que se acha a solu��o.
