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Estado de Minas ARTHUR BUGRE

Caminho para diversidade e a inclus�o n�o se constr�i da noite para o dia

Preconceitos di�rios escancaram dificuldades de minorias no Brasil. O desafio � olhar ao redor para averiguar a presen�a das diferen�as


02/07/2021 06:00 - atualizado 02/07/2021 07:54

O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo(foto: Pixabay)
O Brasil � o pa�s que mais mata travestis e transexuais no mundo (foto: Pixabay)
Sou um homem negro e transexual. Frequentemente, passo por diferentes situa��es racistas e transf�bicas, principalmente em ambientes p�blicos. Algumas vezes, o “combo  do mal” vem completo com pessoas querendo me tocar ou fazendo perguntas inconvenientes. J� escutei in�meros tipos de piadas sobre minha apar�ncia, isso quando n�o ocorrem tentativas de agress�es f�sicas, simplesmente por ser quem eu sou.
 
Mas a situa��o mais recorrente em ambientes p�blicos � ter as pessoas me olhando fixamente, como se eu fosse um bicho no zool�gico.  As pessoas deixam de lado a educa��o e a empatia e me encaram fixamente por longos minutos mesmo vendo no meu rosto o constrangimento. � esse olhar que tenta tirar de n�s nossa humanidade! 
 
As pessoas esquecem que n�s – os “diferentes”, as minorias – tamb�m somos pessoas e com sentimentos, prefer�ncias e hist�ria! Meu nome � Arthur Bugre, tenho 35 anos, sou formado em jornalismo pela PUC Minas e em hist�ria pela UFMG. Trabalho h� mais de 10 anos em uma r�dio e j� recebi pr�mios de reconhecimento da qualidade do meu trabalho. Tenho m�e, irm�os, sobrinhos, fam�lia, namorada e amigos... Sou uma pessoa com sonhos, medos, alegrias, defeitos e qualidades. N�o sou um bicho ex�tico, sou um ser humano. 
 
At� aqui, relatei situa��es que j� me atravessaram ou que, infelizmente, ainda me atravessam. Mas existem outras diversidades e minorias no Brasil que passam situa��es parecidas ou at� mais desumanas. Os dados que se repetem, ano a ano, refor�am isso:
 
O Brasil � o pa�s que mais mata travestis e transexuais no mundo; pessoas LGBT sofrem mais com o desemprego e est�o mais vulner�veis � viol�ncia dom�stica; negros t�m mais dificuldade de conseguir um emprego e recebem at� 31% menos que brancos; mulheres ganham, em m�dia, at� 38% a menos que os homens no mesmo cargo, com o mesmo n�vel de escolaridade e a 'Shecession' (um neologismo que diz da recess�o econ�micas para as mulheres durante a pandemia) eleva desigualdade estrutural de homens e mulheres no trabalho, entre outros n�meros que escancaram essa diferen�a. 
 
E os danos provocados pela aus�ncia de acolhimento e respeito � diversidade n�o param por a�. Nesse cen�rio, o sentimento cruel de n�o pertencimento s� cresce. Ou seja, ter conex�o com um grupo, uma organiza��o ou um lugar muitas vezes � negado para quem faz parte dessa diversidade.
 
Quer um exemplo? J� perdi as contas das vezes em que frequentei lugares onde eu era a �nica pessoa negra ou trans e os olhares, falas e questionamentos preconceituosos foram implac�veis. E, com isso, em v�rias dessas situa��es, o sentimento de que aquele n�o era o meu lugar veio forte. 
 
Muitas mulheres, pessoas com defici�ncia, integrantes da comunidade LGBT+  e pessoas acima dos 50 anos, entre outras diversidades, j� enfrentaram piadas, ass�dios e micro agress�es no dia a dia. E muitas s�o testadas at� o limite. E, diante disso, algumas acabam pedindo demiss�o, se isolam ou param de  frequentar determinados lugares por n�o se sentirem pertencentes. Ou seja, existem diferentes formas de expulsar a diversidade dos ambientes. 
 
Fica evidente que apesar de que, na teoria, a sociedade seja diversa – sendo composta por diferentes etnias, cren�as, cores, g�neros e orienta��es sexuais, al�m de diferentes hist�rias e contextos de vida –, na pr�tica, infelizmente, o Brasil ainda est� engatinhando em rela��o ao respeito �s diversidades e a��es concretas de inclus�o. 
 
Mas um caminho j� come�ou a ser trilhado. Nos �ltimos anos, principalmente a partir de 2019, grandes empresas t�m lan�ado a��es e programas para promoverem a diversidade no ambiente de trabalho. E n�o � � toa. 
 
Algumas pesquisas j� demonstram como a diversidade � essencial para promover engajamento entre os colaboradores, aumentando a criatividade, a produtividade e os lucros das empresas. S� para voc� ter uma ideia, o relat�rio “A diversidade como alavanca de performance”, da  consultoria McKinsey&Company, mostrou que empresas que investem em diversidade de g�nero em suas equipes executivas, por exemplo, s�o 21% mais propensas a ter lucratividade acima da m�dia do que as empresas que n�o investem em diversidade. Com rela��o � diversidade �tnica e cultural, os dados indicavam 35% de probabilidade de desempenho superior. 
 
Por isso, muitas empresas buscam a diversidade. Dados do Instituto Ethos tamb�m refor�am a relev�ncia da estrat�gia de investir em diversidade nos neg�cios: entre as 500 maiores empresas do Brasil, 7 a cada 10 j� possuem treinamentos sobre diversidade.
 
Mas pavimentar o caminho da diversidade n�o acontece da noite para o dia. Tanto o racismo, o machismo, o capacitismo, a transfobia, a homofobia e tantos outros preconceitos s�o problemas sociais e estruturais, ou seja, foram alimentados durante s�culos. Sendo assim, n�o � f�cil desconstruir essas estruturas. Leva tempo e, para acelerar esses processos, s�o necess�rios investimentos reais e efetivos na promo��o do respeito �s diversidades. 
 
Nessa coluna, como homem negro e trans, vou apresentar um pouco da minha viv�ncia e refor�ar como � importante criar lugares seguros paras as diversidades e minorias, principalmente no mercado de trabalho e ambiente profissional. At� porque n�o existe diversidade sem inclus�o. Nessa estreia, quero deixar alguns questionamentos para voc� que est� lendo essa coluna. 
 

'Deixo aqui meu primeiro convite: fa�a uma leitura de como voc� olha as diversidades, as minorias. Eu sei que para muitos e muitas, admitir que, at� de forma inconsciente, j� reproduziram racismo, transfobia, capacitismo, machismo, e por a� vai, � algo dif�cil, mas essa atitude � essencial para entender como os preconceitos e discrimina��es s�o estruturais e como � importante buscar caminhos para desconstruir essas atitudes e comportamentos.'

 
Como voc� trata a diversidade no seu dia a dia? No churrasco de fam�lia, entre seus colegas de trabalho, na sua roda de seus amigos e amigas? Como olha e fala dos seus vizinhos e vizinhas, principalmente aqueles e aquelas que, por exemplo, n�o t�m a mesma cren�a, orienta��o sexual e ra�a que voc�? 
 
Deixo aqui meu primeiro convite: fa�a uma leitura de como voc� olha as diversidades, as minorias. Eu sei que para muitos e muitas, admitir que, at� de forma inconsciente, j� reproduziram racismo, transfobia, capacitismo, machismo, e por a� vai, � algo dif�cil, mas essa atitude � essencial para entender como os preconceitos e discrimina��es s�o estruturais e como � importante buscar caminhos para desconstruir essas atitudes e comportamentos. 
 

Al�m disso, quantas pessoas transexuais, por exemplo, voc� conhece que ocupam cargos de alta lideran�a dentro de diretorias e presid�ncias de empresas? Ou ent�o, quando voc� vai a um restaurante, voc� j� parou para observar quantas pessoas negras est�o no ambiente que n�o estejam trabalhando?
 
Esse � o meu segundo convite: passe a observar ao seu redor como a diversidade � tratada e quais espa�os ela tem ocupado. Observe, principalmente, a aus�ncia de diversidade em determinados espa�os. Nesse processo, � importante reconhecer seus privil�gios. E, como j� disse Ricardo Sales, consultor de diversidade: “privil�gio n�o � sobre culpa. � sobre responsabilidade”. 
 

'Esse � o meu segundo convite: passe a observar ao seu redor como a diversidade � tratada e quais espa�os ela tem ocupado. Observe, principalmente, a aus�ncia de diversidade em determinados espa�os. Nesse processo, � importante reconhecer seus privil�gios. E, como j� disse Ricardo Sales, consultor de diversidade: 'privil�gio n�o � sobre culpa. � sobre responsabilidade'.'

 
 
Para ter uma sociedade que realmente respeita e celebra suas individualidades e ess�ncia, muito mais que discurso, s�o necess�rias a��es pr�ticas de acolhimento e respeito. Espero, por meio dessa coluna, poder te ajudar a refletir sobre esses assuntos e encontrar caminhos para desconstruir preconceitos e discrimina��es. 


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