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Estado de Minas DIREITO A SER

Popula��o LGBTQIAP+ e as dores das religi�es

No lugar de acolhimento e respeito, muitos grupos minorizados s� encontram julgamentos em algumas igrejas


20/01/2023 06:00 - atualizado 20/01/2023 10:27

Quem me acompanha aqui j� sabe que sou um homem trans negro e, h� mais ou menos quatros anos, iniciei meu processo de transi��o. Mas o que muitas pessoas n�o sabem � que, durante o per�odo entre a minha pr� adolesc�ncia e in�cio da minha vida adulta, frequentei e participei ativamente das atividades religiosas em uma grande igreja neopentecostal. At� cargos de lideran�a ocupei nessa institui��o. 

Durante esse per�odo, a culpa, o julgamento e as frequentes “maldi��es” proferidas nas reuni�es dessa grande igreja neopentecostal me oprimiram, e por anos posterguei os meus pensamentos, desejos e a possibilidade de ser quem eu sou. 

No meu caso, sempre soube que era diferente e, desde muito cedo, entendi que essa diferen�a n�o era algo que as pessoas gostavam. Pelo contr�rio, sobretudo nessa igreja escutava frases como: “quem pratica essas coisas desagrada a Deus”, “essas coisas s�o abomin�veis aos olhos de Deus”. 

Por isso me dediquei �s atividades dessa igreja desde a pr�-adolesc�ncia, buscando “aceita��o divina” e tamb�m social. S� para voc� ter uma ideia, meus primeiros cargos nessa institui��o religiosa, que mais se parece com uma empresa, se iniciaram aos 12, 13 anos de idade. Minha dedica��o era de segunda a segunda e volunt�ria. Realizava tudo de cora��o, achando que estava agradando e servindo a Deus.

Quando um simples pensamento sobre meninas passava pela minha cabe�a ou nos momentos em que me sentia muito desconfort�vel por ser lido como mulher, rapidamente ia orar e pedir perd�o a Deus. Perdi as contas de quantas vezes fui dormir chorando implorando para n�o ser quem eu era. 


Mas ap�s o ingresso na faculdade (aos 19 anos), passei a n�o ter tanto tempo para me dedicar como antes e as cobran�as e julgamentos dos l�deres religiosos aumentaram.
 
Tamb�m passei a questionar mais algumas atitudes que eram recorrentes nessa igreja: abusos de autoridades de bispos e pastores, ass�dio moral, persegui��es, humilha��es, falta de incentivo para os obreiros estudarem, press�o psicol�gica para as pessoas darem dinheiro no “altar”, sem falar nas amea�as e “maldi��es” caso voc� cogitasse sair da institui��o ou questionar alguma atitude dos chamados “homens de Deus”. Esses l�deres religiosos costumam “dar pitaco” at� sobre com quem voc� deve namorar. Um comportamento de seita mesmo. 

Ent�o, aos 21 anos resolvi deixar os cargos que tinha nessa igreja, mas a lavagem cerebral foi t�o bem feita em mim que realmente pensei que estava indo contra Deus por me dedicar aos estudos e ter pensamentos diferentes por meninas.

Afinal, essa institui��o religiosa me ensinou desde cedo que o mais importante era ser fiel nos d�zimos, nas ofertas e nos frequentes SACRIF�CIOS EM DINHEIRO. L� aprendi que o julgamento, as “maldi��es” e as acusa��es valiam mais do que empatia, acolhimento e perd�o.
 
Um Jesus que ama, que abra�a e que n�o julga n�o me foi apresentado l�. Por isso, mesmo sabendo que gostava de meninas, mesmo com um desconforto gigante por ser lido como mulher,  por conta dessa press�o e do julgamento religioso, s� fui come�ar a me permitir ser quem eu sou entre os meus 24 e 25 anos. Mesmo assim, com muito medo e culpa.

De forma resumida, � poss�vel ver como a religiosidade hip�crita e conveniente me impediram por muito tempo de viver algumas facetas da minha vida. E infelizmente essa � a realidade de muitas outras pessoas que s�o LGBTQIAP+.
 
Muitas vezes, a religi�o � usada como ferramenta para ensinar essas pessoas a se odiarem, a procurar por uma falsa “cura” e viver em uma constante e angustiante pris�o espiritual, mental e emocional. N�o � � toa que muitas pessoas LGBTQIAP que frequentam determinadas institui��es religiosas ainda vivem nesses ambientes.

E te garanto que, para muitas pessoas que comp�em essa popula��o, mesmo depois de anos fora desse arm�rio, infelizmente, at� hoje a dor gerada por alguns l�deres religiosos que s� se preocupam com grana, em julgar e desprezar quem n�o � igual a eles, ainda � algo muito presente.
 
No meu caso, continuo crendo em Jesus, e estou em um processo para desenvolver minha espiritualidade para al�m das dores da religi�o que habitam em mim. Tanto que o assunto ainda � tema de muitas das minhas sess�es de terapia. 

Mas uma coisa te garanto: n�o h� nada de errado em ser quem voc� �! E digo mais, meu objetivo com esse artigo n�o � atacar as religi�es. Meu objetivo � demonstrar como algo que deveria ser ambiente de acolhimento, restaura��o, um lugar que promove afeto e o respeito, infelizmente, muitas vezes vem sendo usado por algumas lideran�as religiosas para proferir discurso de �dio, persegui��es, ass�dio moral e humilha��es, sobretudo contra pessoas que fazem parte de grupos minorizados. 


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