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Estado de Minas TRNASFOBIA

Pessoas trans saem menos de casa por medo de agress�o, revela estudo

'Olhar zool�gico' intimida e amedronta, fazendo com que pessoas trans e travestis percam o direito de ir e vir


17/02/2023 09:30 - atualizado 17/02/2023 11:39

Mulher negra com cabeça raspada sentada em um sofá olhando para o notebook no colo, ao lado de um colega asiático com fones de ouvido utilizando o celular
Estudo realizado pelo Instituto Locomotiva mostra que nove em cada pessoas trans 10 temem sofrer algum tipo de agress�o ou ass�dio em deslocamentos (foto: Reprodu��o)


Imagine a seguinte situa��o: sempre que voc� precisa sair de casa, as pessoas na rua d�o risada, “fazem piadas” sobre sua apar�ncia, seu corpo, sua identidade, sobre seu nome, fazem "brincadeiras" sobre sua ess�ncia e sobre suas viv�ncias.

Imagine tamb�m que sempre que voc� sai de casa as pessoas na rua te encaram como se voc� fosse um ser de outro mundo. Voc� percebe olhares de nojo, deboche, rejei��o, medo e �dio. 

Por �ltimo, imagine que sempre que voc� sai de casa, algumas pessoas na rua tentam tocar no seu copo, ou partem pra cima para te agredir s� por voc� ser quem voc� �. 

Imaginou essas situa��es? Diante disso eu pergunto, como seria sua rela��o com espa�os p�blicos? Voc� teria vontade de sair de casa ou evitaria sempre que poss�vel circular por lugares p�blicos?  

Infelizmente, essas s�o algumas das situa��es que a popula��o trans enfrenta diariamente no Brasil. S� para voc� ter uma ideia, no in�cio da minha transi��o fui fazer compras com minha esposa no centro de Belo Horizonte e depois fomos almo�ar em um restaurante tamb�m na regi�o central. Escolhemos uma mesa que ficava em uma das extremidades do estabelecimento, bem no cantinho. 

Em poucos minutos, percebi que um senhor que estava na outra extremidade do restante estava me encarando muito. Resolvi ignorar, sobretudo porque estava dias sem sair de casa e queria aproveitar aquele in�cio de tarde com minha esposa. 

Mas esse senhor, n�o satisfeito em oferecer esse olhar de zool�gico, ele se deu ao trabalho de pegar seu prato, atravessar todo o restante e se acomodar em uma mesa bem ao nosso lado. Sem nenhuma cerim�nia ele se posicionou bem na nossa frente, fixou os olhos em mim, com um sorriso deixado de lado. Ele ficou minutos assim, nem mesmo terminou de almo�ar. 

Passando um tempo, pedi que ele parasse, que aquela postura n�o era adequada, minha esposa j� nervosa tamb�m se posicionou. Mas adivinha, esse senhor passou a me encarar ainda mais, e o sorriso debochado j� n�o era de lado, mas sim largo, escancarado. 

Esse senhor s� parou com esse comportamento transf�bico e invasivo, quando me levantei para chamar a ger�ncia do restaurante. Naquele momento, ele pagou a conta e foi embora. E um s�bado rotineiro e tranquilo, ganhou o peso do constrangimento, dor e indigna��o.

“Mas Arthur, essas situa��es s�o muito frequentes com a popula��o trans ainda?”, SIM, muito mais do que voc� imagina. Muitas pessoas se sentem no direito de ter esse comportamento com pessoas trans e travestis. Naturalizam diferentes viol�ncias, mas n�o naturalizam nossas vidas, nossa exist�ncia, nossos corpos e nossas identidades. Para essas pessoas tudo que n�o � espelho n�o pode ser acolhido e respeitado. 

Diante disso, infelizmente � comum que pessoas trans muitas vezes evitam sair de casa, evitam permanecer muito tempo na rua, para n�o ser alvos de viol�ncia f�sica, “piadas”, “brincadeiras”, abusos, olhares e xingamentos. 

Posso falar por experi�ncia, durante um longo per�odo da minha transi��o, evitei sair de casa. S� quem passa por essas situa��es j� citadas aqui sabe o tamanho da dor gerada em uma simples ida a padaria perto de casa. Um percurso pequeno, que muitas vezes � recheado de “piadas”, “brincadeiras”, olhares e outras viol�ncias. O que estou tentando dizer � que, uma pessoa trans muitas vezes n�o tem nenhum lugar de paz, e as agress�es s�o tantas que ela vai evitando sair para se proteger. At� mesmo o prazer de sair diminui. 

A transfobia, infelizmente, contribui para a retirada do direito de ir e vir da popula��o trans e travesti. Tanto que uma pesquisa in�dita do Instituto Locomotiva mostra que pessoas trans saem menos de casa do que as pessoas cisg�nero, por medo de serem agredidas. O estudo tamb�m mostra que nove em cada 10 temem sofrer algum tipo de agress�o ou ass�dio em deslocamentos. Quatro em cada 10 trans j� foram v�timas de transfobia s� por andar pela cidade. 

O direito de ir e vir � garantido em nossa Constitui��o de 1988 (artigo 5º, XV) e tamb�m � conferido a todo cidad�o pela Declara��o dos Direitos Humanos da ONU, assinada em 1948. Mas na pr�tica isso ainda n�o vale para a popula��o trans e travesti. 

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