Al�m de jornalista, tamb�m sou especialista e palestrante de Diversidade, Equidade e Inclus�o (DE&I) e, nessa jornada, j� me deparei com muitas empresas que, na teoria, adoram passar a imagem de inclusivas e diversa, mas que, na pr�tica, t�m pavor de gerar inc�modos necess�rios e mudan�as reais. S� pra voc� ter uma ideia, em novembro do ano passado, fui procurado por uma uma grande empresa e, durante a negocia��o da palestra que tinha como tema “Como acolher de fato profissioniais negros no ambiente de trabalho”, expliquei que um dos assuntos que abordo � sobre os perigos da express�o “mimimi”.
Depois de um tempo, tive o retorno da empresa. Qual foi o feedback? “A empresa n�o est� pronta para ter uma palestra com um tema t�o cir�rgico. Al�m disso, a empresa n�o gostou da inclus�o da problematiza��o do termo “mimimi” na palestra, porque esse termo tem uma liga��o com politica”, explicou a grande empresa.
Vamos l�, se liga neste exemplo: h� alguns anos, por duas vezes, no meio da reda��o, uma lideran�a questionou como eu consegui comprar meu celular. Essa lideran�a, em nenhum momento, questionou as demais pessoas que estavam na reda��o (todas brancas) sobre como elas tiveram condi��o de comprar seus celulares. Em um outro momento, estava conversando com alguns colegas de trabalho sobre casa pr�pria e falei que esse era um dos meus sonhos. Nesse momento, essa mesma lideran�a falou, na frente dos meus colegas (todos brancos), que eu poderia at� ter uma casa pr�pria, mas s� poderia ser um ap� muito simples e em uma regi�o muito perif�rica.
Ou seja, essa lideran�a praticou o racismo institucional comigo diversas vezes. Mas para algumas pessoas e algumas empresas isso � apenas “mimimi”: “Ah, Arthur, deixa de frescura, isso � mimimi da sua parte”. Esse “argumento” s� mostra como o racismo � c�nico e, ao mesmo tempo, sofisticado. De acordo com a fil�sofa e escritora Djamila Ribeiro, o racismo � o crime perfeito, porque sua manifesta��o gera desigualdades, dor e tamb�m a desumaniza��o de milh�es de pessoas, mas ainda assim muitos negam sua exist�ncia. Mesmo depois de s�culos da “aboli��o da escravid�o”, ainda existe uma manuten��o das estruturas de poder no Brasil.
Quando falamos de diversidade e inclus�o, estamos falando de pessoas! Ou seja, estamos falando de acolhimento, respeito, gera��o de oportunidades dignas, humaniza��o, sentimento de pertencimento, equidade, inclus�o, entre outras coisas. Quando problematizamos as nocividades que nascem da express�o “mimimi”, n�o estamos falando de direita, esquerda ou centro, n�o estamos falando de um determinado partido em detrimento ao outro. Estamos afirmando em alto e bom som: N�O DIMINUA A DOR DO OUTRO! Na pr�tica, as empresas que n�o problematizam o uso da express�o “MIMIMI” ESCOLHEM ESVAZIAR E ENFRAQUECER a��es concretas que visam promover DE&I.
Para ser bem sincero, ainda hoje, muitas empresas ainda mant�m essa postura: “at� queremos fazer um evento no ano para falar sobre diversidade, mas desde que isso n�o gere inc�modo. E essa postura se manifesta de diferentes formas. Quer um exemplo? Uma colega que tamb�m trabalha com DE&I, uma vez me disse que uma determinada empresa pediu que ela indicasse um especialista do pilar �tnico-racial para falar sobre o combate ao racismo para altas lideran�as. Mas fizeram uma exig�ncia: “essa pessoa n�o poderia ser uma negra, porque se n�o os executivos n�o iriam escutar”.
Agora te pergunto, tem cabimento isso? A empresa quer combater o racismo institucional praticando racismo (vetando a participa��o de um profissional negro)? A empresa quer combater o racismo institucional sem gerar inc�modo e sem gerar impacto na atual estrutura de poder? Isso faz algum sentido?
Entenda, mesmo que a palestra/treinamento/programa de DE&I seja extremamente did�tico, n�o � poss�vel falar sobre racismo, transfobia, etarismo, capacitismo, entre outros, com flores nas m�os. � extremamente importante falar abertamente sobre esses temas.
Se voc� � dona, dono de empresa, reflita! H� quanto tempo profissionais que fazem parte de grupos minorit�rios sofrem constrangimentos, s�o incomodados e humilhados de diferentes formas no ambiente de trabalho e nada � feito? � mais f�cil naturalizar todas essas dores do que investir, de fato, em mudan�as concretas no ambiente de trabalho?