
Confesso que, quando tinha 33 anos e decidi engravidar, eu via a maternidade de forma superficial. Imaginava- me com um beb� no colo amamentando. Imaginava cenas de comercial de margarina. Achava que bastava dar amor, boa alimenta��o e ter dinheiro para pagar boas escolas e cursos e preparar aquele ser para a vida adulta. Que inocente eu era!
� preciso ir muito al�m da escola para criar um ser humano. � preciso ensinar a ser gente. � preciso ensinar a ter empatia. � preciso ensinar a enxergar al�m do pr�prio umbigo, ensinar a ter maturidade.
Quando estava gr�vida, queria ter um menino, eu e meu marido hav�amos decidido ter um filho s�; se pudesse escolher, eu teria menino, ele teria menina. Eu preferia menino porque acreditava que homens t�m menos obst�culos na vida, as coisas s�o mais f�ceis para eles. Meu marido preferia menina porque achava que mulheres s�o mais presentes na vida dos pais depois de adultas.
Se voc� fosse nascer amanh� e se pudesse escolher, como voc� seria?
Voc� seria homem ou mulher?
Seria preto ou branco?
Seria rico ou pobre?
Voc� teria alguma defici�ncia?
Voc� seria h�tero ou homossexual?
Voc� seria cis ou trans?
Feche os olhos e imagine...
Se voc� � homem, branco, h�tero, cis, sem defici�ncia e rico, voc� escolheria nascer mulher, ou preto, ou pobre, ou deficiente, ou homossexual ou transg�nero?
Conhecendo o nosso pa�s e sabendo como as pessoas vivem aqui hoje, com toda essa desigualdade, voc� gostaria de ser uma mulher negra e pobre?
Voc� gostaria de ter uma defici�ncia? Voc� gostaria de ser gay? Pobre?
Todo mundo sabe o que � ser mulher, ser preto, ser pobre, ser gay, ser deficiente no Brasil. A solu��o para isso n�o � uma pol�tica eugenista, e sim pol�ticas que garantam a equidade entre os cidad�os do pa�s.
Outro dia vi, este questionamento no Twitter:
“Os seus av�s fizeram faculdade? Os seus pais fizeram faculdade? Voc� fez faculdade?”.
Li v�rios coment�rios que mencionavam av�s analfabetos, pais sem ensino m�dio e filhos com curso superior, p�s-gradua��o, mestrado. Em um momento recente da nossa hist�ria, essas pessoas, que sempre foram exclu�das, conseguiram ter acesso � educa��o.
Como disse minha amiga Fl�via Vianna:
“Sempre ressaltamos aqui no grupo que o que pode mudar o mundo n�o s�o armas ou discuss�es acaloradas: � a educa��o. Viver com dignidade, com acesso � educa��o de qualidade, seguran�a e comida na mesa devia ser um direito de todo cidad�o brasileiro, mas infelizmente n�o � essa a realidade. E, honestamente, acho que a tend�ncia � piorar.
Vejo o governo atual e todo o seu descaso com a educa��o. Desmerecem as universidades federais, bolsas Capes foram cortadas, n�o h� incentivo � pesquisa. Al�m disso, existe todo um debate sobre a desvaloriza��o dos professores e o descaso com a educa��o municipal e estadual”.
Quando penso nisso tudo, vejo que o papel de m�e vai muito al�m de olhar para o pr�prio filho e querer que ele tenha sucesso e felicidade. Papel de m�e � criar filhos melhores, � transformar o mundo, � entender que os filhos das outras m�es tamb�m merecem o me- lhor. � saber dividir e se doar, e ajudar as pessoas que t�m menos a ter mais oportunidades, para que possamos crescer juntos.
A maternidade pode ajudar voc� a amadurecer, a sair daquela caixinha onde nos colocaram e abrir o mudo para nossos filhos, para que eles sejam pessoas melhores e corrijam os erros da nossa gera��o e das gera��es passadas. Um mundo mais justo, com menos desigualdade, ser� um mundo muito melhor para nossos filhos viverem.
Papel de m�e � plantar sonhos para colher felicidade. Papel de m�e � acreditar num mundo melhor. Papel de m�e � mostrar para os filhos que o planeta � um s� e estamos todos conectados. Papel de m�e � ir al�m do que se espera.