(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas PADECENDO

A m�e exausta

'A vida j� est� cobrando demais de todos, precisamos que a escola acolha, que seja um ref�gio. Mesmo que virtual'


23/05/2021 04:00 - atualizado 23/05/2021 10:15

(foto: Depositphotos)
(foto: Depositphotos)

 
Acordou com vontade de ficar na cama, mas se levantar n�o era uma escolha, era obriga��o.
 
Enquanto tomava seu caf� abriu seu e-mail e l� estava mais um relat�rio escolar para sua cole��o.
 
“O aluno n�o ligou a c�mera e foi desligado da aula.”
 
“O aluno n�o fez a tarefa de matem�tica.”
 
“O aluno riu durante a aula de ingl�s.”
 
“O aluno ficou conversando no chat com os colegas sobre assuntos aleat�rios durante a aula de portugu�s.”
 
Falou com as outras m�es no grupo do WhatsApp, n�o deu para saber qual tinha a maior cole��o de relat�rios. Todas exaustas.
 
Viu que “o aluno” estava assistindo a mais uma aula on-line e voltou para os seus afazeres. Colocou a roupa na m�quina. Dobrou as roupas que estavam secas no varal. E foi pensar no almo�o segundo todas as dicas sobre nutri��o que leu durante os �ltimos anos.
 
� tarde se sentou para entregar o projeto, trabalhava muito, mas precisava fazer tamb�m o que a remunerava. Tentava raciocinar nos intervalos entre os chamados: m�e, m�e, m�e... Tentava contornar as brigas entre irm�os inventando atividades manuais. Mal come�ou a produzir, j� est� hora do jantar e colocar as crias na cama. Aproveitou o sossego para trabalhar madrugada adentro para o chefe n�o reclamar que sua produtividade estava caindo.
 
Foi dormir l� pelas tantas e, quando viu, j� era hora de acordar. Levantou-se para preparar o caf�, com vontade de continuar na cama. Abriu o e-mail e ignorou os comunicados da escola. Colocou as crian�as na aula. C�meras ligadas. Oremos.
 
A internet caiu. Voltou. A c�mera desconectou. O computador travou. A filha chorou. O filho ficou nervoso e esbravejou. Ela parou e respirou. Reiniciou o computador. Chamou a filha de volta. Fingiu que n�o viu que a menina est� com Amoeba grudada no cabelo. Correu no grupo de m�es para descobrir se tinha como tirar aquele grude sem deixar a menina careca.
 
O filho voltou para a aula. Ela fingiu que n�o viu que ele lia “Harry Potter” pela cent�sima vez fingindo que estava prestando aten��o na aula.
 
Tira a poeira da casa, recolhe a roupa suja jogada no ch�o. Faz macarr�o no almo�o, esquecendo todo o aprendizado sobre os nutrientes importantes para uma inf�ncia saud�vel. � noite, faz pipoca, hoje pipoca � janta! Anota na lista da geladeira: comprar macarr�o instant�neo. Essa semana, algumas fadas v�o morrer. Coloca os filhos na cama e dorme babando no teclado do computador.
 
Acorda com torcicolo e escreve uma carta para a escola:
 
“Querida coordena��o, queridos professores,
 
Entendo que o trabalho de voc�s � necess�rio, essencial, e que a pandemia tamb�m afetou a vida de voc�s, mas, por favor, n�o cobrem tanto dos alunos. Depois de 14 meses a vida j� tem nos cobrado muito. Perdemos amigos, perdemos parentes, perdemos �dolos. Perdemos a liberdade de ir e vir. Somos os idiotas do 'fique em casa', valorizamos a vida, a nossa e a dos outros. N�o esper�vamos viver uma quarentena infinita. Se as crian�as n�o est�o fazendo as tarefas, ou n�o conseguem assistir com aten��o a todas as aulas, n�o � porque as m�es n�o est�o se esfor�ando, � porque ningu�m aguenta mais.
 
Pode parecer que eu sou uma m�e desnaturada, que n�o sei o que acontece dentro da minha casa, eu sei sim. � porque sei que desisti de exigir deles mais do que eles s�o capazes.
 
O passarinho preso na gaiola canta de tristeza. N�s estamos assim, feito passarinhos na gaiola. Eu tenho tentado ser o Guido do filme 'A vida � bela' enganando a mim mesma fingindo que est� tudo bem.
 
Minha esperan�a est� morrendo aos poucos. Sobrevivo de pequenas gotas. Uma pessoa vacinada, um dia de sol, uma CPI, um menino rindo de um malfeito.
 
A vida j� est� cobrando demais de todos, precisamos que a escola acolha, que seja um ref�gio. Mesmo que virtual. O conte�do � importante, mas as cobran�as se tornam desnecess�rias quando existe prazer em aprender. Continuem me mandando relat�rios, especialmente aqueles que falam sobre as crian�as rirem no meio da aula. Se elas ainda encontram motivos para rir, ainda h� esperan�a.”

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)