
O que vem � sua mente quando voc� pensa em assentamento de sem-terra? Meu bisav� era fazendeiro, meu av� herdou a fazenda dele. Minha m�e nasceu na fazenda. Eu passei minha inf�ncia indo � fazenda, mas sempre com aquele olhar de herdeira. Vendo floresta ser transformada em pasto. Vendo gado para todo lado. Indo acompanhar a ordenha.
Tinha horta, tinha pomar, tinha galinheiro. A gente nadava em a�ude, subia em �rvore, colhia ovos no galinheiro, bebia leite tirado na hora, colhia frutas no p�.
Tinha horta, tinha pomar, tinha galinheiro. A gente nadava em a�ude, subia em �rvore, colhia ovos no galinheiro, bebia leite tirado na hora, colhia frutas no p�.
Quando ouvia falar em assentamento de sem-terra, era sempre de uma forma negativa. A gente tem uma ideia de bandidos roubando terras produtivas. Barracas. Bandeiras vermelhas.
Com o passar dos anos, comecei a ver not�cias diferentes. Sobre o cultivo de legumes e verduras, sobre pessoas vivendo da terra, sobre agricultura familiar. Toda hist�ria tem muitas vers�es, resolvi conhecer uma diferente da que me havia sido apresentada originalmente.
“O �ltimo Censo Agropecu�rio, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE, 2006), constatou que 84,4% das unidades de produ��o agr�cola brasileira correspondem � agricultura familiar. Apesar de ocupar pouco mais de 24% do territ�rio nacional, ela � respons�vel pelo fornecimento da maior parte dos alimentos b�sicos da popula��o e por cerca de 70% dos empregos no campo.” (Fonte: Sebrae)
Falta-nos ver o mundo com mente de principiante. Com a percep��o atenta do momento presente, sem julgamento, com curiosidade e aceita��o. Mente de principiante � olhar as coisas como se fosse a primeira vez. Quando a gente olha a vida com mente de principiante, conseguimos ser mais leves. Deixamos os preconceitos de lado e abrimo-nos para o diferente.
H� uns dois anos, uma amiga se casou e foi viver com o marido, um assentado, no Assentamento Pastorinhas. Adalto j� vivia havia quase 20 anos, boa parte deles acampado. Ele se formou em biologia e tem uma produ��o agroecol�gica, ele mesmo planta, colhe e entrega os produtos aos clientes em Belo Horizonte.
Gra�as � Elisa, tive a oportunidade de conhecer de perto a hist�ria dessa ocupa��o. Estive l� tomando um caf� com ela, e fui apresentada aos seus cachorros, galinhas, porcos e estive na planta��o.
A ocupa��o da Associa��o Pastorinhas come�ou como todo movimento sem-terra. Um grupo de pessoas busca terras improdutivas e vai para l� com a inten��o de produzir. O governo entra em contato com os propriet�rios, e compra essas terras que s�o repassadas aos titulares. Atualmente, eles est�o finalizando o processo, aguardando para receber a titularidade da terra.
O Assentamento Pastorinhas est� consolidado. As pessoas chegaram l� h� 20 anos, n�o existe mais ningu�m acampado. Todos t�m suas casas. S�o 20 fam�lias numa ecovila. O movimento deu in�cio a uma comunidade que se desenvolve como qualquer outra comunidade. Cada fam�lia tem liberdade sobre o que vai cultivar e qual o tipo de cultivo. Tem produ��o convencional, agroecol�gica, org�nica e agroflorestal.
A terra � a principal fonte de renda dessas fam�lias. A quinta �rea de agrofloresta est� sendo implantada. Um sistema agroflorestal � um sistema de plantio de alimentos que � sustent�vel e ainda faz a recupera��o de uma floresta.
A gente se surpreende quando vai conhecer. Viver do campo n�o � f�cil. N�o tem nenhum glamour. O trabalho � pesado. Enquanto Adalto cuida da planta��o, Elisa cuida da casa, das galinhas, das m�dias sociais da Sabores da Terra, do site da associa��o, das vendas, e cozinha maravilhosamente. Ela levou para a comunidade o olhar de quem vivia na cidade.
Antes da pandemia existia um turismo pedag�gico, escolas de Belo Horizontem iam l� conhecer e aprender. Hoje, eles est�o trabalhando na melhoria da estrutura para receber visitantes, dar cursos e fazer eventos para a comunidade, que fica a 2,5 quil�metros do C�rrego do Feij�o, afetado pelo rompimento da barragem de Brumadinho.
Sa� de l� com uma caixa com acelga, espinafre, br�colis, couve, cenoura, agri�o, compotas e o cora��o cheio de alegria pela oportunidade de ser apresentada �quela realidade t�o diferente da minha e apresentar tudo aquilo ao meu filho, que foi comigo e amou o passeio, que foi uma aula.
Olhe para o mundo com mente de principiante, voc� vai se surpreender.