Rei morto, rei posto

O governador Romeu Zema (Novo) demora a entender o que os deputados estaduais, com a viv�ncia pol�tica, captam velozmente no ar. Quando, h� menos de um m�s, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve na Assembleia Legislativa para receber, das m�os do governador mineiro, o t�tulo de cidad�o honor�rio, notou um plen�rio esvaziado de parlamentares. Dos 77 deputados estaduais – considerando inclusive o presidente da Casa, Tadeu Leite (MDB), que ali cumpriu discretamente um protocolo institucional –, 20 compareceram, entre os quais 9 do PL. Entre os 53 deputados federais, apenas sete homenagearam o ex-presidente. Todos do PL. Obviamente se Bolsonaro tivesse sido reeleito, esse qu�rum seria outro. Mas, nessa hip�tese, ele n�o viria a Minas buscar a homenagem, ali�s, como n�o o fez em 2019, quando recebeu a honraria por indica��o do deputado estadual Coronel Sandro (PL).

Embora ainda percebido como um cabo eleitoral potencial, estando na mira da Justi�a, e ineleg�vel, Bolsonaro tornou-se um aliado inc�modo. E � neste molejo entre o desejo de capturar o esp�lio eleitoral da extrema direita e a identifica��o do momento de dar um passo atr�s, que o governador mineiro est� perdendo o equil�brio. Caminhar no fio da navalha n�o � para qualquer um. Os sinais da narrativa zemista v�o entrando em curto-circuito.

No s�bado, em evento conservador, em Belo Horizonte, organizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Zema pregou “a direita unida para 2026”. Apanhou de todos os lados. Ronaldo Caiado (Uni�o), governador goiano, classificou a narrativa de “besteira ing�nua”. O ex-secret�rio de Comunica��o Fabio Wajngarten disparou pelo Twitter que aquele que "prega esse papo n�o mexe uma palha pela direita", arrebanhando o apoio de outros influenciadores de direita. J� em almo�o-debate ontem, promovido pelo Grupo Lide, Zema tentou afinar o discurso. O apoio a Bolsonaro, no segundo turno de 2022, disse ele, teria sido muito mais uma posi��o “antipetista” do que por identifica��o ideol�gica.

Zema sempre carregou a fama de diletante na pol�tica. Mas a hist�ria ensina que para afirmar certas pretens�es eleitorais, � preciso entender de nuvens e de reis. Que ele n�o entenda de pol�tica e de futurologia, v� l�. Mas em Minas, o l�der n�o pode nunca ser o �ltimo a saber.

A rela��o entre o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG)), e o prefeito Fuad Noman (PSD) j� teve dias melhores. Nesta quinta-feira, o Senado debater� a reforma tribut�ria com os prefeitos de capitais e entidades municipalistas. Fuad Noman se far� representar pelo secret�rio municipal da Fazenda, Leonardo Colombini. A agenda dele, em Bras�lia, ser� em 3 de outubro, em reuni�es com ministros para discutir as obras do PAC e outros investimentos federais na capital.

H� 10 dias, o ministro das Rela��es Institucionais, Alexandre Padilha esteve na Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), acompanhado da base de deputados estaduais e federais de apoio do governo federal, para o an�ncio de obras do novo Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) na capital. Rodrigo Pacheco, que esteve naquele mesmo dia na Assembleia em outra agenda, n�o seguiu para a PBH. Preferiu desagravar o presidente da C�mara Municipal, Gabriel Azevedo (sem partido), em visita pessoal ao legislativo municipal.

Com o PSD em Minas rachado, ontem foi a vez do deputado federal Luiz Fernando Faria (PSD), coordenador da bancada federal mineira, ir � C�mara Municipal prestar solidariedade a Gabriel Azevedo, que na disputa com o antigo aliado e secret�rio de Estado da Casa Civil, Marcelo Aro (PP), enfrenta processo interno de cassa��o. “O prefeito entregou a prefeitura para o Marcelo Aro, que � do grupo de Romeu Zema (Novo). � uma postura sem coer�ncia. Nosso projeto do PSD para 2024 e 2026 n�o � com Zema, mas com o centro e a centro-esquerda, com a base de Lula”, afirma.

O presidente estadual do PSD, o deputado estadual C�ssio Soares, que est� em rota de colis�o com deputados federais pelo controle de diret�rios municipais no interior do estado, rebate. Diz que n�o se confunde acordo para governabilidade com acordo eleitoral.

Com a garantia do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, de que ter� a legenda para concorrer � reelei��o em 2024, Fuad Noman recebeu quatro convites de filia��o de outros partidos. E em evento do Solidariedade no s�bado, 23, foi cortejado: a sigla avisou que apoiar� o prefeito na sucess�o de 2024. (�gor Passarini)

Luiz Fernando Faria avisa que o “sonho de consumo” do PSD � ter Rodrigo Pacheco disputando o governo de Minas em 2026. Primeiro, contudo, ser� preciso convenc�-lo. Pacheco preferiria uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). Para o plano B, tem o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD).

Pouco adiantou o lobby das bebidas – principalmente cerveja e refrigerantes que andaram juntas, de gabinete em gabinete na Assembleia Legislativa, pedindo para retirar o segmento do grupo de “sup�rfluos”, do projeto que retoma o adicional de 2 pontos percentuais nas al�quotas do ICMS. Em compensa��o, a ra��o de animais se garantiu. O l�der do governo na Assembleia, Jo�o Magalh�es (PMDB), estima que sem esse insumo, a arrecada��o adicional para o Fundo de Erradica��o da Mis�ria cair�, em 2024, em cerca de R$ 20 milh�es.