(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas BRILHANDO DEPOIS DA MORTE

As estrelas do c�u

Ainda menino, aprendi que pessoas quando morrem viram estrela. Queria saber que estrela era cada pessoa que eu perdia, assim poderia v�-la quando quisesse


'Na cidade grande perdemos o costume de olhar para o céu e procurarmos as estrelas
'Na cidade grande perdemos o costume de olhar para o c�u e procurarmos as estrelas" (foto: PxHere)


Crian�as, n�o sei de onde essas criaturas surgem! Ali�s, sabemos, mas ao mesmo tempo, s�o t�o �nicas que, mesmo com todo conhecimento gen�tico, n�o conseguimos explicar a beleza de cada uma.

Ainda menino, aprendi que as pessoas quando morrem viram estrela. Por�m, eu queria saber qual estrela era cada uma das pessoas que eu perdia, assim poderia v�-las quando quisesse. Aos poucos, fui percebendo que n�o conseguia mais distingui-las. Descobri dessa maneira que as pessoas s�o iguais e, quando morrem, continuam brilhando dentro de mim.

Pois bem, passei essa forma de ver a morte tamb�m para as minhas filhas. Rafaela, 6 anos, debaixo de um c�u estrelado me perguntou: “qual dessas estrelas � a vov� Maricas?!”. Eu disse: “� aquela ali grandona e brilhante”. Ela n�o duvidou. Nos dias seguintes, olhava para o c�u, escolhia uma estrela, grandona e brilhante e dava boa noite para a vov� Maricas.

Pois bem, voltamos para Belo Horizonte e as estrelas ficaram por detr�s da fuma�a, ofuscadas pelas luzes da cidade. Mas, ela insistia em procurar a vov� que n�o mais aparecia. Olhava para o c�u, procurava e n�o via aquela estrela grandona. Foi ent�o que constatou: “�, a vov� n�o mora no c�u de Belo Horizonte. Ficou na fazenda.” 

Ela estava certa, na cidade grande perdemos o costume de olhar para o c�u e procurarmos as estrelas. Com a correria do dia a dia, vamos aos poucos esquecendo daquelesque se foram. 

Passados alguns dias, Rafaela vendo a minha perplexidade com os nossos quase 2000 mortos em apenas 1 dia de pandemia, me disse: “fica tranquilo pai, est�o todos no c�u da fazenda. A vov� deve estar feliz da vida. Est� cheia de amigos em volta dela. Com tanta gente l�, v�o aglomerar e ter que usar m�scara.”

Com a pandemia, at� as f�bulas ganham uma nova vers�o na imagina��o f�rtil das crian�as. Por�m, a dura realidade n�o nos deixa dormir e nem olhar as estrelas. 

H� exato 1 ano, todas as mais de 260 mil pessoas que se foram na epidemia brasileira da COVID-19 estavam aqui e ainda n�o haviam virado estrela. Olhavam para elas e tinham sonhos...

N�o � normal virarmos estrela por incompet�ncia, neglig�ncia, imper�cia, arrog�ncia ou imprud�ncia de quem quer que seja. 

Parece que tem gente que torce para que o buraco negro sugue as estrelas e obscure�a at� a poesia do olhar das crian�as. Na vida real j� o fazem, mas na f�bula n�o vale. Cair das estrelas machuca muito! 

Pelo menos foi isso que me disseram meus amigos Fernando Supimpa e Gustavo Werneck. 

Como de costume nos feriados prolongados, �amos para a fazenda do meu av� em Ibi�!

Pescadores com a experi�ncia de pescar com anzol de cobre no Mercado Central, foram para a beirada da represa. 

Acenderam um cigarro de palha, bem mais fedorento que o normal, e ficaram conversando com o anzol fora d’�gua. Papo animado, risadas intermin�veis, apenas interrompidas pelo meu irm�o, Marneu, que lhes prop�s uma hist�ria sobre as coisas estranhas que aconteciam ao entardecer e ao surgirem as primeiras estrelas. 

Os dois terr�queos, Supimpa e Werneck, viajavam pelas estrelas quando ele, o moleque Marneu, sorrateiramente deu um tiro para cima. 

Ambos s�o un�nimes em afirmar que cair das estrelas � doloroso, d� muito zumbido nos ouvidos e relaxamento de esf�ncteres. 

Em tempos de pandemia, olhar para o c�u e procurar as pessoas que perdemos � fundamental. 

Marneu � uma destas estrelas brilhantes e grandona. De vez em quando, gosta de escorregar no c�u, ficar cadente e assustar o Supimpa e o Werneckiano. 

Tenho certeza, que cada um de n�s tem algu�m a procurar no c�u, antes de nos aglomerarmos novamente com eles.
 

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)