Tive a honra de conhec�-lo e compartilhar com ele discuss�es cient�ficas em viajem inesquec�vel � Universidade de Cambridge, alguns anos atr�s.
Em seu post recente intitulado 'A pr�xima epidemia j� chegou', ele repercute o alerta feito pelo Centro de Controle de Doen�as de Atlanta sobre a explos�o de bact�rias multirresistentes e o cen�rio epidemiol�gico catastr�fico que j� est� em curso.
Trata-se do que tenho chamado de “A epidemia oculta e silenciosa”. O sil�ncio desta trag�dia somente � quebrado pelo choro dos familiares que tem seus entes queridos morrendo nos hospitais e particularmente nas terapias intensivas. Estas estat�sticas, nunca s�o divulgadas de forma clara e com holofotes pand�micos, mas a realidade solapa de forma inexor�vel a vida de milh�es de pessoas no planeta, al�m de comprometer os recursos assistenciais.
Segue a introdu��o do texto referenciado pelo Dr. Knobel, com o qual, mais uma vez, tenho o prazer de viajar junto e compartilhar esta preocupa��o e alerta.
A pr�xima pandemia j� chegou
5 de junho de 2021 |
Por Cardiologia Knobel
Por Cardiologia Knobel
Prezados amigos:
Na atual pandemia de coronav�rus, temos observado algumas posturas de profissionais descrentes dos avan�os conquistados pelos estudos cient�ficos de tantos anos e que foram respons�veis pela melhora da qualidade de vida dos povos do mundo. Um dos aspectos que mais chama a aten��o � a utiliza��o de medicamentos que n�o tem nenhum efeito contra o SARS-COV 2, mas que trazem uma consequ�ncia que n�o � percebida: a gera��o de resist�ncia das bact�rias e de outros microrganismos.
Frequentemente observamos nas UTIs o surgimento de cepas de microrganismos que, em outras �pocas, eram muitos sens�veis e facilmente trat�veis. Atualmente abundam os casos de resist�ncia aos antibi�ticos de uma maneira geral.
Estamos vivendo uma epidemia que embora pare�a n�o ser percept�vel, a cada dia que passa encontramos condi��es clinicas graves e infec��es dif�ceis de serem combatidas devido a falta de algum tipo de antimicrobiano eficaz. O artigo anexo retrata bem o que j� h� algum tempo est� acontecendo.
Elias Knobel
A pandemia global da COVID-19 est� ocorrendo em todos os pa�ses, e muitos gostariam de dispor de algum recurso como a vacina para prevenir e evitar o elevado n�mero de mortes. Mas outra pandemia j� come�ou. Uma pandemia de crescimento mais lento, mas que amea�a matar 10 milh�es de pessoas por ano at� 2050. Mesmo assim, tem recebido pouca aten��o.
Estamos falando sobre a pandemia global de resist�ncia antimicrobiana – uma pandemia que cada vez mais ceifa a vida de pacientes em nossos hospitais. Ao contr�rio das pandemias causadas por novos v�rus, esta pode ser tratada por meio de nossas rotinas de prescri��o e das decis�es de compra e escolhas alimentares feitas em n�vel social.
A crise de resist�ncia antimicrobiana decorre do simples fato de que o desenvolvimento de novos antibi�ticos n�o consegue acompanhar a taxa de resist�ncia bacteriana.
Por causa de um mercado menor e do incentivo de lucro para as empresas farmac�uticas desenvolverem novos antibi�ticos em compara��o com medicamentos que atuam no de estilo de vida das pessoas e outras terapias com indica��es mais amplas, o n�mero de novos antibi�ticos que o FDA aprovou anualmente diminuiu para um numero muito pequeno Ao mesmo tempo, a taxa de muta��o bacteriana est� crescendo exponencialmente.
Costumava levar 21 anos em m�dia para as bact�rias se tornarem resistentes quando os antibi�ticos foram usados pela primeira vez. Agora, leva apenas 1 ano, em m�dia, para que as bact�rias desenvolvam resist�ncia aos medicamentos.
Entre as bact�rias mutantes mais preocupantes est�o Enterobacteriaceae resistentes aos carbapenem (CRE), sendo o carbapenem uma “droga potente de �ltimo gera��o”. Os CREs j� representam uma grande preocupa��o para pacientes e profissionais de sa�de, causando cerca de 13.100 infec��es em pacientes hospitalizados e matando 1.100 todos os anos nos EUA.
O CDC estimou a mortalidade devido � infec��o por CRE em at� 40% -50%. Bact�rias resistentes a antibi�ticos encontradas no ambiente de sa�de, incluindo CRE e Staphylococcus aureus resistente � meticilina , representaram mais de 85% das mortes resistentes a antibi�ticos na an�lise do CDC. No entanto, esse est�gio inicial da pandemia quase n�o recebeu aten��o da m�dia.
O CDC estimou a mortalidade devido � infec��o por CRE em at� 40% -50%. Bact�rias resistentes a antibi�ticos encontradas no ambiente de sa�de, incluindo CRE e Staphylococcus aureus resistente � meticilina , representaram mais de 85% das mortes resistentes a antibi�ticos na an�lise do CDC. No entanto, esse est�gio inicial da pandemia quase n�o recebeu aten��o da m�dia.
Cada vez mais, os cirurgi�es removem um �rg�o simplesmente porque n�o h� outra maneira de controlar a infec��o. No caso da colite por Clostridium difficile ( C. diff ), uma colectomia de emerg�ncia � realizada quando os pacientes n�o respondem aos antibi�ticos ou � bacterioterapia fecal. Hoje, at� 30% dos pacientes com C. diff grave ,colite e sepse exigir�o cirurgia de emerg�ncia, e a mortalidade dos pacientes que se submetem � cirurgia permanece alta.
Profeticamente, Alexander Fleming, o descobridor da penicilina, alertou sobre a resist�ncia antimicrobiana do uso excessivo de antibi�ticos em seu discurso quando recebeu o Pr�mio Nobel de 1945. Sua descoberta foi um acidente, mas seu aviso foi deliberado.
O uso excessivo de antibi�ticos � o principal impulsionador da resist�ncia aos antibi�ticos hoje. De acordo com o CDC, em 2018 foram realizadas sete prescri��es de antibi�ticos para cada 10 americanos. Um ter�o foi considerado desnecess�rio e muitas vezes foi para doen�as virais que n�o respondem aos antibi�ticos, incluindo infec��es nos seios da face, infec��es de ouvido, dores de garganta virais e resfriado comum. Os m�dicos que fizeram essas prescri��es frequentemente argumentam que o antibi�tico pode ajudar se a infec��o incluir um pequeno componente bacteriano ou criar oportunidade para infec��o bacteriana.
Na Faculdade de Medicina, deve-se ensinar n�o apenas qual antibi�tico usar, mas quando us�-lo. Precisamos enfatizar os limites para o tratamento de pacientes e como permanecer firmes quando os pacientes imploram por antibi�ticos que claramente n�o s�o indicados.
Em nenhum lugar o uso excessivo de antibi�ticos foi mais aparente do que no tratamento do v�rus da COVID-19.
Em uma recente meta-an�lise no Journal of Clinical and Infectious Diseases de 18 estudos, de 2.010, pacientes hospitalizados com COVID-19, impressionantes 72% deles receberam um antibi�tico, embora apenas 8% tivessem uma coinfec��o bacteriana.
Os dados realmente sugerem que a resist�ncia antimicrobiana pode estar piorando durante a pandemia de COVID-19. � medida que os esfor�os globais de sa�de se concentram na crescente pandemia viral, os esfor�os de erradica��o da resist�ncia aos antibi�ticos foram negligenciados.
A ado��o de estrat�gias de mitiga��o para prevenir a dissemina��o de COVID-19 sugere que podemos agir agora para combater a resist�ncia aos antibi�ticos. Al�m disso, as medidas atuais de controle de infec��o tamb�m podem ser ben�ficas para reduzir o risco de dissemina��o e a incid�ncia de infec��o resistente a antibi�ticos.
Os medicamentos prescritos pelos m�dicos, entretanto, n�o s�o a �nica fonte de nossa crise de resist�ncia aos antibi�ticos. Nos EUA, 70% a 80% de todos os antibi�ticos s�o administrados a animais, onde as condi��es de superlota��o facilitam as muta��es. Uma vez que os animais desenvolvem resist�ncia aos medicamentos para a bact�ria, ela pode se espalhar para o meio ambiente e para os nossos alimentos, eventualmente se transferindo para as pessoas que comem esses alimentos.
Em resumo, aqui est�o algumas recomenda��es para combater esta pandemia em nossas rotinas cl�nicas di�rias:
- Eduque cada paciente que voc� atende sobre a import�ncia de evitar adquirir alimentos sem antibi�ticos
- Discuta com eles os potenciais danos diretos, como rea��es al�rgicas – um em cada cinco antibi�ticos tem efeitos colaterais
- Incentive o servi�o de alimenta��o do seu hospital a usar alimentos sem antibi�ticos para ajudar a combater a pandemia de resist�ncia antimicrobiana
- Ao prescrever, lembre-se de que os antibi�ticos nem sempre s�o apropriados, como para infec��es virais, feridas abertas e pequenas infec��es que melhoram
- Incentive outros m�dicos a adotar pr�ticas seguras de antibi�ticos em hospitais e cl�nicas
- Ao prescrever, certifique-se de usar a dose, a dura��o e a cobertura corretas do antibi�tico
- Incentive a constante higiene das m�os para prevenir a transmiss�o de bact�rias resistentes. Lembre-se de que os produtos com gel alco�lico n�o matam esporos como C. diff
- Promova programas de administra��o de antibi�ticos em seu ambiente cl�nico.
Fonte: MedPage Today