
As manh�s sempre me inspiram. S�o a inf�ncia do dia. As luzes sobre a cidade e a serra do Curral Del Rey aquecem e acendem para o espet�culo do acordar.
Costumo dizer que as manh�s me pertencem. Resolvi adot�-las para o meu deleite. H� alguns anos venho tentando praticar essa peculiar forma de desfrutar a �nica coisa que de fato temos na vida: o nosso tempo.
S�o nessas manh�s, que come�am nas madrugadas, que escrevo, pedalo e, quase sempre, leio.
Leio de tudo um pouco. De mensagens de WhatsApp (as piadas principalmente), a filosofia e textos diversos. Come�ar o dia rindo � uma receita preciosa.
� nessa hora tamb�m, que respondo a alguns amigos pr�ximos e distantes.
Eventualmente, muito distantes e jamais encontrados pessoalmente, como Irfan, que vive na Tanz�nia.
Em minha primeira olhada no WhatsApp, me deparei com o relato de um efeito colateral comum, p�s-vacinal, em um colega do mesmo grupo que participamos: febre baixa, dor de cabe�a e algumas dores articulares.
A primeira hip�tese, naturalmente, era que se trataria do processo natural de metamorfose para transmuta��o em jacar�. Teoria e premoni��o do Messias, assessorado pelo seu gabinete oculto de not�veis e letais desconhecidos. Megueles nacionalizados, defensores do cloroquinamento amazonense, tratamento precoce e imunidade de rebanho.
Tudo que nos colocou no p�dio mundial de mortes nessa pandemia e, agora, a caminho de 1 milh�o de mortes.
Na tentativa de acolher o colega em sua ang�stia metam�rfica, dissertei sobre a prov�vel origem daquela rea��o adversa t�o comum.
Expliquei que, provavelmente, se trata de uma rea��o natural do nosso organismo ao adenov�rus, usado como ve�culo para os marcadores imunog�nicos do coronav�rus. Simples resposta da nossa mem�ria imunol�gica a um v�rus ao qual sobrevivemos h� milh�es de anos.
Certamente, naquela �poca, o insumo terap�utico de hoje foi um pesadelo, o qual superamos com o sacrif�cio de milhares de nossos descendentes. Ou seja, o pesadelo pand�mico passado se transformou em uma das estrat�gias terap�uticas do presente.
Mas, n�o estar�amos brincando de Deus e mudando o curso natural da evolu��o humana, argumentariam os antivacin�logos e defensores da imunidade de rebanho. Deixa morrer at� surgirem os super-homens daqui a 60 milh�es de anos imunes ao v�rus da moda.
Mas, como � madrugada de domingo, dia da semana que, na minha inf�ncia, sempre foi de ir � missa e visitar a divindade, me senti no direito de defend�-la.
Sim, se podemos brincar de Deus, � porque somos parte do todo universal. Poeira c�smica com livre arb�trio e amor ao pr�ximo.
Mesmo sem entender nada dos c�nticos em latim das missas das minhas manh�s de domingo, a energia aben�oada do momento da comunh�o me contaminou e fez sentir parte e fruto da complexa engenharia c�smica. Coisas que iluminam todos os meus dias quando abro os olhos.
Foi nesse momento que uma mariposa subitamente apareceu voando, passou bem perto do meu nariz e decolou rumo � luz do box do chuveiro. Em seguida, despencou e achou o ralo. Entrou ralo adentro e n�o a vi mais. Triste destino de mariposa.
Lembrei mais uma vez do meu amigo Treco. Velho companheiro de viola, sanfona e serenatas nas noites de Ibi�. Ele, sempre ao apagar das luzes de uma boa farra, recitava a poesia das mariposas: "Nois semos as mariposa, que voemos e esvoarcemos em redo das lampidas e n�o queimemos as asas. Oh flor."
Se Plat�o tinha S�crates, eu tenho o Treco, meu av�, Didico e tantos outros com os quais aprendi a rir e a chorar.
Livre arb�trio!