
Virtualmente, nosso primeiro contato aconteceu no dia 27 de agosto de 2020. De l� pra c�, “jogamos Ping-Pong” em v�rias �reas, na literatura em especial.
Al�m de informa��es jornal�sticas e cient�ficas, compartilhamos cr�nicas, poesias e devaneios filos�ficos.
Algumas vezes nos falamos pelo telefone. Geralmente para socorro jornal�stico de �ltima hora. Normal! Claudio � um dos fant�sticos invis�veis por tr�s das c�meras.
Combinamos encontros enogastron�micos p�s-pand�micos, os quais ainda n�o aconteceram. Afinal, a pandemia n�o acabou.
Nesse segundo dia do ano, impactados pela cerim�nia de posse presidencial e a sensa��o de al�vio por nos livrarmos do fedor de enxofre que impregnava o ambiente, recebi logo pela manh� o texto do Cl�udio, o qual compartilho com voc�s.
Obra de quem v�, muito al�m de enxergar. Olhar que percebe por meio do s�mbolo, hist�ria e ess�ncia. Coisa de gente madura com poeira nos ombros.
Cena m�gica onde os vis�veis e invis�veis se materializaram em poder e abra�am sonhos do passado e futuro. V�-la e descrev�-la com tamanha sensibilidade � arte pura e cristalina.
Obrigado, medi�nico amigo.
“Rampa dos invis�veis"
Por Cl�udio Renato Passavante
Uma catadora de papel, um jovem com paralisia cerebral, um metal�rgico, um estudante preto de dez anos, um professor, uma cadela e o Cacique Raoni subiram a rampa do Planalto com o presidente Lula e Janja.
Aline, a catadora, vestiu-se com a roupa de domingo, a que ela tem de melhor, para colocar a faixa presidencial no torso do maior l�der popular do s�culo.
No fim da cerim�nia, com p�rolas de l�grimas no olhar, Aline disse que ali estavam representados os invis�veis.
Quase ningu�m viu quando Aleijadinho chegou, bra�os entrela�ados com os de Oscar Niemeyer e Carlos Drummond de Andrade, admirados do mar vermelho, o oceano pac�fico das gentes.
O almirante Jo�o C�ndido e o marechal Rondon perfilaram diante dos Drag�es da Independ�ncia. Contin�ncias devidas.
Abra�ados a Raoni estavam Sep� Tiaraju, Chico Mendes, Bruno Pereira e Darcy Ribeiro, que, embriagado de felicidade e �xtase, gritava; "Assim, eu morro!".
Grande Otelo e Jo�ozinho Trinta ca�am numa gostosa gargalhada!
Noel Rosa, Pixinguinha, Ismael Silva, Cartola, Ary Barroso e Dorival Caymmi, em un�ssono, proclamavam o que a baiana tem...
Carmen Miranda, por sororidade, preferiu seguir Janja, ao lado de Chiquinha Gonzaga, Clementina de Jesus, Gal Costa. Ruth de Souza e Leila Diniz. Cantavam “Coqueiro Verde”, do Erasmo Carlos, na maior anima��o,
Pel�, Garrincha, Vinicius e Aldir Blanc, com a fantasia do Cacique, tentavam romper o mau-humor de Graciliano Ramos, que s� riu quando Jorge Amado lhe fez c�cegas na barriga.
Brizola, Jango e Get�lio preferiram cavaquear perto do Lula, que percebeu a presen�a dos profetas Gilberto Freyre e Nelson Rodrigues e lhes soprou nos ouvidos: "Voc�s s�o foda!".
Quando Aline passou a faixa no pesco�o do Lula, foi ajudada pela m�o invis�vel de dona Lindu e percebeu que a Marisa lhe ajeitava, carinhosamente, o colarinho.
Olhou para baixo, viu um menino lourinho de sete anos, sorridente e orgulhoso, dizer:
- Parab�ns, meu av�!”.