Guido. Meu cunhado. Casou-se com minha irm�, Marta.
Velei seu namoro quando menino, o que me rendeu boas idas ao bar do Ben� comprar guloseimas. Eu vendia caro os arrochos na minha irm�. Marca��o implac�vel para tranquilidade da minha m�e.
Era namoro s�rio. Ele saia de Te�filo Otoni e ia at� Ibi� para pegar na m�o e em outras partes da minha irm�, provavelmente, enquanto eu n�o estava por perto. 1000km em estradas quase inexistentes. Era amor.
Sujeito sistem�tico. Engenheiro. Preciso como eram os c�lculos de suas pontes e pr�dios. Chegou at� Ibi� com um colega de turma.
Bo�mio apaixonado pela bossa nova, pelo Galo e Flamengo. Me contaminou com as duas primeiras op��es. A terceira, imposs�vel. Sou imune de nascen�a.
Aprendi com ele coisas importantes nessa vida. Degustar os prazeres da carne foi uma delas. O cara preparava uma picanha inesquec�vel: - cortar em postas de 2 dedos, lev�-la � brasa por 2 minutos de cada lado, salgar, 5 gotas de molho ingl�s e assar 5 minutos de cada lado e pronto. Claro, churrasqueira no talo!
Tudo com precis�o trigonom�trica.
Casou-se com minha irm� e a levou para morar em Te�filo Otoni, que passou a ser a minha segunda casa.
L�, conheci pequi, carne de sol, pelada descal�o no Palmeiras (pra n�o estragar a grama), o restaurante Le Chateau e o calor acolhedor e orgulhoso do nordeste de Minas. Outro pa�s nas muitas Minas.
Quando fui extra�do a f�rceps de Ibi�, fiquei dividido entre BH e Te�filo Otoni. Entre meu irm�o e ele. Entre a inf�ncia leve e a rebeldia da adolesc�ncia.
Fiquei em BH, com o cora��o entre o Tri�ngulo e a porta do Jequitinhonha. Mergulhei na complexidade de ser mineiro.
Me formei e passei a cuidar do seu cora��o. Um universo que cabia todas as pontes do mundo. Safenas, mam�rias, colaterais e conex�es imposs�veis entre v�rios mundos.
Em sua �ltima cirurgia card�aca, esqueceram um Buldogue (pin�a de coron�ria) em sua caixa tor�cica. No p�s-operat�rio propuseram retirar o "c�o" de seu peito. Ele recusou: deixa ele a� tomando conta das pontes. Finalmente fiquei completo. Nascemos um para o outro.
Assim, ele e o Buldogue conviveram harmonicamente at� um dia 29 de fevereiro, quando subitamente, ap�s fazer a barba, pararam de funcionar.
Chato para comer (detestava cebola!), sistem�tico e perfeccionista, partiu em um dia ex�tico como ele, que s� existe h� cada 4 anos.
Saudade para mim � tamb�m um lugar chamado Guido.