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Estado de Minas Cora��o de m�e

E se fosse voc� na rua?

Ela quis saber de tr�s pessoas especiais como seria estar na rua como lixo humano, sem direitos b�sicos, apesar de personagens da pr�pria hist�ria


30/08/2020 04:00 - atualizado 26/08/2020 16:23


Ela prop�e a voc�s, leitores, um exerc�cio de se colocar no lugar do outro, de sentir na pele, no cora��o e na alma como seria se um dia tiverem que passar por essa situa��o.

Ainda mais neste tempo em que o coronav�rus n�o escolhe ra�a, classe social, pa�s, religi�o, sexo, enfim, que qualquer ser humano pode ser atacado por estilha�os dessa guerra que mata sem d� nem piedade. Sem mira certa, em ponto cego, extermina a todos.

Ela pediria que cada um de voc�s parasse e se imaginasse em situa��o de rua. Sem casa, sem comida, sem trabalho, sem renda, sem fam�lia, sem sa�de, sem amanh�, sem sonhos e projetos. Que voc�s fazem parte de uma sociedade invis�vel, que tem olhos de desprezo e esc�rnio, ouvidos tampados para a dor alheia, m�os que n�o compartilham e n�o acolhem, p�s que est�o acostumados � viol�ncia, que chutam e torturam.

Ela quis saber de tr�s pessoas especiais como seria estar na rua como lixo humano, sem direitos b�sicos, apesar de personagens da pr�pria hist�ria.

Maur�cio Melo, um dos gestores da Rede Humanit�ria Canto da Rua Emergencial, n�o hesitou: “Se eu estivesse na rua iria sentir uma solid�o existencial. Iria desacreditar de Deus. Iria ver o ser humano do outro lado. Um n�o humano. Iria pirar de vez. Viver uma vida louca durante um tempo, pois o que leva essas pessoas para as ruas, n�o as trazem de volta. Algo se perdeu no caminho. � um vazio esse n�o lugar. Voc� n�o tem ningu�m, n�o tem nada. A defini��o de inferno � quase isso”.

A psic�loga Maria Genoveva Coelho, que todos chamam de Gen�, e que por muito tempo foi psicoterapeuta do Sistema �nico de Sa�de (SUS), at� se aposentar, ao ouvir a pergunta fez o sinal da cruz: “Deus me livre”, e olha que ela n�o � apegada a nenhuma doutrina.

Mas s� invocando Deus para se livrar do fogo desse inferno em vida, aqui na Terra. “Miseric�rdia!” Ela repete como uma ladainha, apesar de n�o professar nenhuma religi�o. “Nem consigo me imaginar no lugar desse outro.”

Gen�, que mora no Bairro Santa Tereza, apinhado de pessoas em situa��o de rua em cada canto, debaixo das marquises dos supermercados, da entrada do cinema local, nas pra�as, viadutos, professa: “O sentimento que tenho � de que eles viraram objetos, coisas, de que n�o s�o gente. Pois essa n�o � condi��o de ser humano viver. Rua n�o � casa de ningu�m. Eles precisam acender fogueiras na rua para fazer comida, dormem de qualquer maneira, no frio ou na chuva”.

Genoveva conta que uma dessas pessoas em situa��o de rua est� pelos lados de Santa Tereza h� anos. Ela se chama Janine, tem transtornos mentais e todos a conhecem. Em momentos de surto, ela agride as pessoas e n�o se junta a outros na mesma condi��o. Vive perambulando, como um zumbi.

“Certo dia, dei de presente um xampu e um condicionador para que ela arrumasse os cabelos, mas nem sei se usou, porque, �s vezes, ela fica internada. Complicado e dif�cil aceitar que um ser humano possa ser abandonado e desprezado desse jeito.”

Maria Cristina Bove, da Pastoral Nacional do Povo da Rua, que luta para que eles sejam sujeito de direitos – e tamb�m gestora da Rede Humanit�ria Canto da Rua Emergencial, na Serraria Souza Pinto – considera a situa��o complicada e adversa.

Confessa que quando esteve em S�o Paulo por um tempo, dormiu na rua para ver o que eles passavam. “Mas como gosto muito de privacidade e sil�ncio fica dif�cil. Como � que a gente faz se em situa��o de rua voc� precisa de algu�m por perto, para n�o correr riscos de viol�ncia, ataques, roubos e todo tipo de sofrimento. Ainda mais sendo mulher � mais dif�cil sobreviver sozinha.”

Estar em situa��o de rua quebra todos os paradigmas. “� contradit�rio, porque a gente se adapta facilmente tamb�m. Quando o cansa�o vence, voc� dorme em qualquer lugar, de qualquer jeito. Est� com fome? Vai atr�s de comida. � insuport�vel.”

Ela conta que, certa vez, uma mulher em situa��o de rua definiu bem o que � a rua. “Quando as luzes se acendem nos quartos dos apartamentos, � uma vasta solid�o. A noite cai e voc� est� sozinha na rua, com todos os seus fantasmas e pesadelos.”

Cristina Bove tamb�m cita a fala de Edson, que tem trajet�ria de rua e hoje faz parte da equipe t�cnica da Serraria Souza Pinto, que � m�sico dos bons e se apresenta sempre pelos palcos da vida. Ele disse que na rua ningu�m fala com a gente, a� voc� come�a a falar sozinho. “�s vezes, eu perguntava as horas s� para conversar com algu�m e escutar o som da minha pr�pria voz.” 

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