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Estado de Minas DIA DAS M�ES

Apaziguando as ren�ncias para viver a maternidade

� poss�vel compatibilizar a cria��o dos filhos com outras realiza��es, mesmo que se mantenha algum grau m�nimo de ren�ncia


09/05/2021 06:00 - atualizado 09/05/2021 10:33

Eleonora Cruz e os filhos(foto: Arquivo pessoal)
Eleonora Cruz e os filhos (foto: Arquivo pessoal)


Sou m�e canceriana de um casal, para completar a sorte de poder ser m�e! A corujice, a preocupa��o, os cuidados, a dedica��o e o amor chegam a ser excessivos em alguns momentos. Seguramente, meus tantos anos de psican�lise serviram para n�o permitir que meu amor castrasse meus filhos, mas n�o necessariamente os eximiu das culpas transferidas pela falas de uma m�e em seus rompantes de loucura – n�o t�o infrequentes, por sinal! 


A figura paterna provedora e a materna zeladora, no estilo “bonita, recatada e do lar” j� ca�ram por terra! As m�es s�o, em n�mero cada vez maior, mulheres chefes de fam�lia, trabalham jornadas integrais que se estendem nos cuidados com a casa e os filhos, tudo em modo cont�nuo que parece n�o ter fim. 

A maternidade, quando vivida na pr�tica, e n�o aquela terceirizada para bab�s, tias e av�s � ato de muita luta, mas tamb�m de ren�ncias. E muitas das vezes, as m�es n�o s�o capazes de sustentar essas ren�ncias e exp�em seus filhos, a depender da intensidade, ao risco de suas pr�prias vidas. S� para ficar na fic��o, sugiro a leitura do livro Can��o de ninar, de Leila Slimani, com a narrativa de uma situa��o muito real vivenciada nos tempos atuais.

Viver juntos? � o t�tulo de uma palestra proferida por Contardo Calligaris, em que ele descreve as ren�ncias que a vida a dois nos imp�em e que muitas vezes tornam-se insuport�veis para seguirmos adiante com quem hav�amos escolhido viver em um tempo onde parecia que os desejos se convergiam, ou que seriam compensados por uma demanda de amor atendida pelo outro. Em determinado momento dessa palestra, Calligaris relata a depress�o vivida por sua m�e, configurando, claramente, o adoecimento pelas ren�ncias que foram para al�m do casamento e culminaram com o nascimento dos filhos e a maternidade.  

Dentre as ren�ncias que os la�os afetivos nos imp�em, a escolha pela maternidade talvez seja a mais perigosa. Digo isso pensando em duas quest�es: primeira, que renunciar aos desejos para al�m da realiza��o da maternidade pode ser um ato de desonestidade consigo mesma. � poss�vel compatibilizar a cria��o dos filhos com outras realiza��es, mesmo que se mantenha algum grau m�nimo de ren�ncia.

A segunda � que as m�es s�o capazes de se nutrir da maternidade com atos narc�sicos e buscar o “melhor” para seus filhos limitando-os em seus desejos; afinal, se as m�es fizeram tantas ren�ncias para t�-los, nada mais justo do que serem recompensadas, dentro de uma l�gica ego�sta e de culpa. Nesse sentido, reafirmo a pr�tica da ren�ncia desonesta. Na verdade, o maior perigo da maternidade � o medo de quem a escolheu n�o realizar seus tantos outros desejos e assim os filhos tornarem-se verdadeiros escudos protetores de suas ren�ncias. 

Para vivermos com plenitude a maternidade, precisamos fazer de nossas ren�ncias desafios cont�nuos de equil�brio entre escolhas, aceita��o e amor. Assumirmos que as ren�ncias foram escolhas, apaziguarmos com o que damos conta de fazer e acreditarmos que nossos filhos tamb�m fazem ren�ncias por n�s, mas n�o permitirmos que as ren�ncias deles sacrifiquem seus desejos mais primitivos. Esse �, a meu ver, o grande desafio da maternidade. 

Ouso afirmar que tenho o privil�gio de ter uma m�e, uma irm�, muitas amigas, primas, colegas de trabalho, (ex)cunhadas e enteada que escolheram conciliar e viver o constante equil�brio inst�vel entre maternidade, trabalho, casa(mentos) e outros tantos desejos e v�m seguindo com maestria suas ren�ncias e escolhas. 

Olho retrospectivamente e vejo que as ren�ncias que fiz pela  maternidade valeram a pena. Nesse olhar, me garanto em pequenos e marcantes sinais que a vida me traz. Certa vez minha filha ca�ula viajou e me trouxe de presente uma placa de madeira com os seguintes dizeres: “os dois maiores presentes que podemos dar aos filhos s�o ra�zes e asas”. Com pouco mais de 9 anos, minha filha parecia saber de quais ren�ncias a maternidade n�o poderia recair sobre ela. Essa placa encontra-se, atualmente, fixada na minha cabeceira. 

Um feliz, honesto e corajoso dia das m�es para esse universo maravilhoso de mulheres que ousaram pela maternidade!

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