
Quando crian�a, meu pai praticamente obrigava-me a escutar m�sica cl�ssica, em pleno s�bado � tarde. E n�o era uma sonata de Chopin ou uma su�te de Bach, mas sim uma sinfonia de Tchaikovsky, Brahms ou Beethoven. Essa era, talvez, a parte “chata” da conviv�ncia com meu pai. Na fase adulta, passamos a ir juntos a concertos e a trocarmos CDs de m�sicas cl�ssicas. O enlace se fez, silenciosamente, na inf�ncia.
Logo que meu filho mais velho nasceu, minha reclama��o era que “o pai dele pouco partilhava os cuidados diuturnos, envolvia-se emocionalmente menos”. Minha terapeuta � �poca me disse algo que sempre carreguei: “o pai adota o filho ao longo da vida”. E com apenas quatro meses de vida, meu filho sentiu profundamente a aus�ncia do pai, quando saiu em viagem a trabalho, por 10 dias.
Os la�os paternos da ado��o fizeram-se presentes bem cedo e a m�e, t�o misturada na rela��o m�e-filho, amamenta��o-cuidados diversos, n�o foi capaz de perceber que o filho tamb�m se entrela�ava amorosa e incondicionalmente com seu pai. De fato, h� v�rias diferen�as entre o la�o m�e e filho, pai e filho, m�e e filha, pai e filha. Na unicidade de cada ser, nos entrela�amos de forma �nica com cada um e nunca seremos capazes de explicar ou mensurar o que nos torna t�o especialmente ligados amorosamente.
Mas voltando � hist�ria do filho primog�nito e seu pai, aos quatro anos de idade, essa mesma crian�a mudou de cidade e passou a conviver quinzenalmente com seu pai. Foi a partir da� que passou a ter v�rias crises de asma e a m�e, mais uma vez, na sua posi��o egoica de super-m�e, achou que a ado��o de um cachorro seria elo afetivo a suprir parcialmente a aus�ncia quinzenal. Mais um grande equ�voco! �quela �poca ficou claro que, silenciosamente, o la�o entre pai e filho era muito mais forte do que se aparentava.
Passados mais oito anos, pai e m�e se separaram e o filho, mais uma vez, seguiu em sil�ncio sua dor. Fingiu n�o sofrer, mas a rebeldia do despertar de uma adolesc�ncia passou a dar sinais claros dessa dor e exigir maiores cuidados e aten��o. Nessa altura, tudo se desordenava, filho e pai n�o estavam sendo capazes de reestruturar, na velocidade exigida pelas dificuldades da fase, arranjos afetivos que dessem conta das dores e das esperan�as particulares de cada um em meio ao mar revolto de emo��es.
Filhos amam silenciosamente seus pais, sofrem com suas aus�ncias e vibram com sua presen�a inteira e dedicada. Filhos perdoam seus pais... filhos s�o desejosos da presen�a dos pais. Ao se colocarem no papel de adotantes, pais constroem elo afetivo e de integra��o. � nesse sil�ncio de emo��es que pai e filho se encontram; nesse lugar em que a palavra � instrumento raramente utilizado.
O pai � capaz de sentir, sofrer, perceber, mas, muitas das vezes, n�o � capaz de dizer. E l� na frente, se as diversas tempestades em mares revoltos tiverem sido superadas, pai e filho poder�o se reconhecer no escolhido encontro entre adotante e adotado.
Neste domingo, 14/8, os pais que escolheram adotar seus filhos nessa linda jornada chamada vida t�m motivos de sobra para celebrarem com os seus em leve, harm�nico e fraterno domingo!
Neste domingo, 14/8, os pais que escolheram adotar seus filhos nessa linda jornada chamada vida t�m motivos de sobra para celebrarem com os seus em leve, harm�nico e fraterno domingo!