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Estado de Minas

Bahia-Minas: EM refaz o trajeto da linha f�rrea que levou desenvolvimento aos dois estados

Ela foi aberta para levar o milagre econ�mico ao Vale do Jequitinhonha e a um peda�o do Sul da Bahia. Mas a m� gest�o, a corrup��o e a precipitada decis�o do governo militar de apostar no avan�o das rodovias decretaram o fim da linha


02/08/2015 10:30 - atualizado 02/08/2015 10:55



Ponta de Areia (BA), Te�filo Otoni (MG) e Ara�ua� (MG) – Os verdes olhos de Glair Farina, de 71 anos, enxergam o passado toda vez que o ex-ferrovi�rio observa, incr�dulo, “o descanso para sempre” da Pochix�, exposta na Pra�a Tiradentes, em Te�filo Otoni, a 450 quil�metros de Belo Horizonte. A maria-fuma�a � um dos poucos s�mbolos que restaram da Bahia-Minas, a ferrovia aberta para levar o milagre econ�mico ao Vale do Jequitinhonha e a um peda�o do Sul da Bahia, duas das regi�es mais carentes do Brasil.


A Baiminas, como moradores se referem � linha, foi inaugurada em 1881 e desativada em 1966. Seus 578 quil�metros ligaram o Jequitinhonha ao Atl�ntico, de Ara�ua� a Ponta de Areia, onde os trilhos desembocavam num porto que recebia navios da costa do Sudeste. O sert�o se tornou parceiro comercial de grandes centros. Mas n�o foi s� por isso que a ferrovia se tornou um marco na economia.

� medida que os trilhos avan�avam, povoados e cidades eram fundados. Foi assim que a ferrovia atraiu aportes, fomentou a gera��o de empregos e estimulou o plantio em terras at� ent�o in�spitas. O progresso puxado pela maria-fuma�a � descrito por v�rios pesquisadores. Jaime Gomes, autor de Um trem passou em minha vida, destacou que “milhares de pessoas se deslocaram para aquela regi�o. (…) Montaram engenhos, serrarias e olarias; fundaram vilas, povoados e at� cidades. Parte do Sul baiano e do Nordeste mineiro prosperaram, milagrosamente”.

O avan�o econ�mico � mostrado em n�meros. De 1935 a 1944, por exemplo, o volume nos vag�es de carga passou de 76.874 toneladas para 174.161 toneladas (aumento de 126%). O total de passageiros subiu em escala maior num per�odo menor, de 51,3 mil pessoas em 1935 para 373 mil homens e mulheres em 1940 (acr�scimo de 627%).

Mas a m� gest�o, a corrup��o e a precipitada decis�o do governo militar de apostar no avan�o das rodovias, em detrimento das estradas de ferro, decretaram o fim da linha. Em muitas cidades e povoados o progresso foi embora. A �ltima viagem completar� 50 anos em maio de 2016. Em alus�o � data, o EM e o em.com.br mostram, em s�rie de reportagens, como boa parte da regi�o que experimentou o progresso agora est� �rf� dos trilhos.

Ponto final nos anos 1940, estação do distrito de Alfredo Graça necessita de reforma urgente(foto: Beto Novaes/EM/D.A.Press)
Ponto final nos anos 1940, esta��o do distrito de Alfredo Gra�a necessita de reforma urgente (foto: Beto Novaes/EM/D.A.Press)

Lugares que prosperaram encolheram. Carlos Chagas, por exemplo, foi o maior criador estadual de ovinos, ao abrigar 17 mil animais em 1955. No ano em que a maria-fuma�a silenciou, 36,2 mil moradores moravam l�. Em 2010, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) divulgou o �ltimo censo, pouco mais 20 mil pessoas residiam no munic�pio.

J� Te�filo Otoni foi o terceiro munic�pio mais populoso do estado na d�cada de 1960, com 130 mil moradores, atr�s de Belo Horizonte e Juiz de Fora. Agora n�o figura entre os 10 maiores. Na vizinha Itambacuri, o total de habitantes caiu de 29,9 mil para 22,8 mil. Em Pot�, onde havia mais de uma esta��o na �rea rural, de 20,1 mil para 15,6 mil. Em Nanuque, de 50,8 mil para 40,8 mil. Em Serra dos Aimor�s, de 12,8 mil para 8,4 mil.

Os povoados em �reas rurais sofreram mais, como se observa em Alfredo Gra�a. A esta��o, que foi ponto final na d�cada de 1940, agora sofre com o abandono. As vidra�as quebradas e defeitos no telhado deixam claro que o im�vel necessita de reforma urgente. H� propostas para o local ser transformado em espa�o para biblioteca, mas a morosidade do poder p�blico em resgatar o pr�dio contrasta com a import�ncia que a edifica��o teve para o Jequitinhonha.

Em Ponta de Areia, a esta��o foi jogada ao ch�o. O lugar que os trilhos desembocavam no porto se transformou num mangue, onde ex-funcion�rios da linha agora ca�am siris. O povoado � distrito de Caravelas. L� tamb�m havia outra esta��o. Em 1967, um ano depois da �ltima viagem pela Baiminas, a popula��o de Caravelas e de seus distritos somavam 31,1 mil moradores. Hoje s�o 10 mil pessoas a menos.

“Depois que a Baiminas acabou, o emprego sumiu.O povo foi para outros lugares”, explicou Ant�nio Lima Silva, de 80. Ele sente orgulho em dizer que ganhou a vida na estrada de ferro.

“Quanta mudan�a!”, completa Glair, o veterano de olhos verdes que fica incr�dulo diante da Pochix�, que descansa numa pra�a em Te�filo Otoni. Ele trabalhou boa parte da vida na Baiminas: “Fui contratado aos 11 anos de idade, como ajudante, na mesma �poca em que meu pai, ent�o chefe da esta��o, faleceu. Sou o mais velho de oito irm�os e ajudei a sustentar a fam�lia. Uma pena a regi�o ter ficado assim”.

Lamento como o dele � ouvido facilmente nos lugares que um dia ouviram o apito da maria-fuma�a. Entre os veteranos, muitos fazem promessas para que as locomotivas voltem a percorrer os imponentes t�neis ao longo da estrada de ferro, como os que existem entre Ladainha e Te�filo Otoni.

DE UMA PONTA A OUTRA

A viagem que virou m�sica

Sete anos depois de a ferrovia ser desativada, Fernando Brant (1946-2015) percorreu o trecho para uma reportagem publicada na revista O Cruzeiro. O antes e o depois da Baiminas inspiraram o parceiro de Milton Nascimento a compor Ponta de Areia. Brant reparou o quanto pra�as ficaram vazias sem as locomotivas e os vag�es. E lamentou o destino de velhos maquinistas. Os versos soam como saudade aos mais antigos: “Ponta de Areia, ponto final/ Da Bahia-Minas, estrada natural/ Que ligava Minas ao porto, ao mar/ Caminho de ferro mandaram arrancar/ Velho maquinista com seu bon�/ Lembra do povo alegre que vinha cortejar/ Maria-fuma�a n�o canta mais/ Para mo�as flores janelas e quintais/ Na pra�a vazia, um grito, um ai/ Casas esquecidas, vi�vas nos portais”.


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