Principais importadores de a�a�, hoje, s�o Estados Unidos, Jap�o, Austr�lia e pa�ses europeus
CHICAGO, EUA (FOLHAPRESS) - "� diferente de tudo que j� provei, parece uma sobremesa, mas vale por uma refei��o. Sempre trago uma amiga para experimentar a�a� depois da academia", diz a contadora Emily Clark, 23, ao sair de uma lanchonete no centro de Chicago com uma tigela, coberta com morangos e mirtilos.
O Brasil � o maior produtor mundial de a�a� e mais de 90% da produ��o � do Par�, que tamb�m � o seu principal mercado consumidor.
Em 2022, o estado exportou mais de 8,158 mil toneladas de a�a�, movimentando mais de US$ 26,5 milh�es (R$ 133,8 milh�es), segundo dados da Fiepa (Federa��o das Ind�strias do Estado do Par�) e do CIN (Centro Internacional de Neg�cios do Par�).
As exporta��es de derivados do a�a� cresceram exponencialmente nos �ltimos anos. Apenas entre 2019, antes da pandemia, e 2022, o aumento foi de 132,5%, segundo c�lculos das duas entidades baseados no Comex Stat (plataforma de dados de com�rcio exterior do governo federal).
Os principais importadores hoje s�o Estados Unidos, Jap�o, Austr�lia e pa�ses europeus, mas h� um interesse crescente em outros mercados do oriente, sobretudo China, Singapura e �ndia.
"Muitos estrangeiros e brasileiros acabam fazendo neg�cios l� fora. Temos clientes na Calif�rnia que montaram uma loja e ajudaram a divulgar o produto. Um outro foi para Dubai, nos Emirados �rabes, e apresentou o a�a�", conta Uberl�ndio dos Santos, s�cio da paraense Xingu Fruit. "O mercado aceita muito bem, ele se torna interessante onde chega."
A empresa de Santos trabalha com cooperativas e grandes produtores, recebe o fruto e faz polpa, sorbet (sobremesa sem leite) e sorvete. 65% das vendas s�o para o mercado nacional e o restante � para exporta��o."O mercado nacional cresce muito mais r�pido, j� que muitas cidades do Brasil ainda est�o descobrindo o produto, mas o volume de exporta��o tamb�m vem aumentando."
Dono desde 2014 da A�a� Town, Murilo Santucci trabalhava no setor de tecnologia, programando an�ncios para a internet at� conhecer uma casa de a�a� aberta por um amigo. "Ele nos ensinou como era a opera��o e minha namorada e eu pensamos que aquilo poderia dar certo em Tatu� (SP)."
O empres�rio chegou a ter quatro lojas f�sicas na cidade e pesquisando um pouco mais sobre o mercado, Santucci viu que a grande oportunidade estava em exportar. No fim de 2016, j� estava participando de um programa de capacita��o da Apex (Ag�ncia Brasileira de Promo��o de Exporta��es e Investimentos) e montou, com recursos pr�prios, uma fabriqueta dentro de um cont�iner.
"Em 2017, passei a fazer o que sabia, traduzir an�ncios para a internet. Come�amos a exportar em 2018, para o Canad� e os Emirados �rabes. O pessoal pedia uma encomenda pequena para conhecer o produto - duas semanas depois, j� pediam mais", lembra.
A produ��o cresceu e ele j� vendeu sorvete de a�a� a 20 pa�ses. "O que a gente percebe � que ele ainda � novidade. Recebemos recentemente uma delega��o do Nepal e outra do Iraque. Eles querem o produto."
Inicialmente, o a�aizeiro era valorado economicamente por conta do palmito produzido a partir de sua palmeira. Por suas propriedades nutricionais e antioxidantes, o a�a� foi se tornando popular como um "superalimento" para fazer sucos, vitaminas e sobremesas com granola e outras frutas.
A partir da d�cada de 1990, a produ��o de frutos, que vinha quase que exclusivamente do extrativismo, passou a ser obtida de a�aizais nativos manejados e de cultivos realizados em �reas de v�rzea e de terra firme, conforme relembra a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
A safra geralmente come�a em agosto e vai at� dezembro, tem seu �pice entre setembro e outubro. Al�m de seu uso gastron�mico, o a�a� tamb�m serve de insumo para a fabrica��o de cosm�ticos, como hidratantes e xampus, e suas sementes s�o reaproveitadas para fazer artesanato.
Os produtores locais sentem o aumento da demanda, o que coloca o a�a� como um exemplo de "bioeconomia" que gera renda para os moradores da Amaz�nia sem desmatar a floresta. Mas apesar de o 'boom' deste fruto no exterior ter beneficiado economicamente produtores tradicionais da Amaz�nia, o a�a� ainda est� longe de ser destaque nas exporta��es do Par�.
Quando considerados todos os produtos, os dados apontam que os paraenses venderam US$ 21,5 bilh�es (R$ 108,6 bilh�es) no ano passado, com destaque para min�rio de ferro (US$ 12,8 bilh�es ou R$ 64,6 bilh�es), soja (US$ 1,4 bilh�o ou R$ 7,1 bilh�es) e carne bovina (US$ 608 milh�es ou R$ 3,1 bilh�es).
Por outro lado, a explora��o excessiva do produto j� preocupa pesquisadores, que temem a concentra��o do cultivo de a�a� e a substitui��o de outras esp�cies visando o aumento da demanda pelo produto.
Quem falou sobre isso � ag�ncia de not�cias AFP foi o bi�logo Madson Freitas, pesquisador no MPEG (Museu Paraense Em�lio Goeldi) e coautor de um estudo sobre este fen�meno, chamado de "a�a�za��o".
"Naturalmente, o a�a� atinge 50, 60, 100 touceiras [conjunto de ramos da planta] por hectare. Quando chega ao n�vel de 200 por hectare, a gente perde 60% da diversidade de outras esp�cies de plantas que naturalmente ocorrem na v�rzea", diz o pesquisador.
A perda destas outras esp�cies vegetais tamb�m acaba tornando o a�a� menos produtivo pela redu��o de polinizadores como abelhas, formigas e vespas. J� os per�odos prolongados de seca, que podem se intensificar devido �s mudan�as clim�ticas, impactam o desenvolvimento dos frutos.
Freitas, que vem de uma comunidade quilombola no Par�, diz acreditar que refor�ar as regras de preserva��o e a fiscaliza��o pode ajudar a combater a monocultura. No entanto, � necess�rio oferecer incentivos aos produtores para que "mantenham a floresta em p�".
Um exemplo positivo � o Maneja� (Centro de Refer�ncia em Manejo de A�aizais Nativos do Maraj�), desenvolvido pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu�ria), que capacita produtores para preservar as demais esp�cies e, assim, aumentar a produtividade do a�a�.
"Manejar o ambiente florestal, para transform�-lo em a�aizal, quer dizer combinar os a�aizeiros com as demais esp�cies vegetais existentes na floresta utilizando-se de t�cnicas, trabalho e consci�ncia ecol�gica", diz o guia para os produtores publicado pela entidade.
Segundo Santos, da Xingu Fruit, as pr�prias certifica��es internacionais j� t�m sido cada vez mais rigorosas para evitar a monocultura. "O a�a�, para ter rentabilidade, precisa de diversidade. O nosso produto � org�nico, principalmente para exporta��o, e precisa da biodiversidade para ser melhor."
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