Trabalhador remove mato em planta��o de a�a� em Abaetetuba (PA)
O 'boom' desta fruta beneficiou economicamente os produtores tradicionais da Amaz�nia, mas ao mesmo tempo amea�a a biodiversidade da floresta tropical, devido ao aumento da monocultura.
A cidade rural de Igarap� S�o Jo�o, 120 quil�metros ao sul da capital paraense, Bel�m, fica �s margens do rio Itacuru��, uma plan�cie inund�vel onde o a�a� cresce naturalmente.
A comunidade est� localizada no munic�pio de Abaetetuba, que tem a quinta maior popula��o quilombola do Brasil e � um importante polo de a�a� no Par�, estado que concentra mais de 90% da produ��o brasileira desta fruta.
O homem de 41 anos raspa um cacho enquanto os frutos caem em um cesto. Ele conta que em um dia bom, consegue encher 25 desses recipientes de 14 kg, que vende de 12 a 25 reais cada.
Os intermedi�rios compram as frutas da comunidade e as levam de barco at� Bel�m para vend�-las at�, no m�ximo, o dia seguinte no centen�rio mercado Ver-o-peso, evitando que estraguem.
Todas as manh�s, o movimento � intenso no cais: dezenas de homens suados descarregam as frutas dos barcos para vend�-las aos fabricantes de polpa, sucos e outros derivados.
"A noite inteira, num dia em que todos os meus clientes v�m, eu consigo fazer 250 a 300 reais numa noite", diz o carregador Maycon de Souza, ao equilibrar tr�s cestos sobre a cabe�a e outros dois, acomodados em seu ombro direito. No total, ele leva 70 kg.
- "A�a�za��o" da Amaz�nia -

Um homem coloca a�a� em uma sacola no Mercado de A�a�, �s margens da Ba�a de Guajara (PA)
EVARISTO SA / AFPPor suas propriedades nutricionais e antioxidantes, nas �ltimas duas d�cadas ele se tornou popular como um 'superalimento' no Brasil e em pa�ses como Estados Unidos e Jap�o, que o importam para fazer sucos, vitaminas e sobremesas com granola e outras frutas.
Os produtores locais se beneficiaram do aumento da demanda, colocando o a�a� como um exemplo de "bioeconomia", que permite gerar renda para os moradores da Amaz�nia sem desmatar a floresta.
Entretanto, estudos mostram que essa expans�o est� gerando uma perda da biodiversidade em algumas regi�es devido � substitui��o de outras esp�cies.
"Naturalmente (o a�a�) chega at� 50, 60, 100 touceiras [plantas] por hectares (...) Quando chega no n�vel de 200 por hectare, a gente perde 60% da diversidade de plantas, outras esp�cies que naturalmente ocorrem na v�rzea", explicou � AFP o bi�logo Madson Freitas, pesquisador no Museu Paraense Em�lio Goeldi (MPEG) e autor do estudo sobre este fen�meno, chamado de "a�a�za��o".
A perda destas esp�cies vegetais tamb�m afeta o a�a�, que se torna menos produtivo pela perda de polinizadores como abelhas, formigas e vespas, acrescenta Freitas.
Os per�odos prolongados de seca, que podem se intensificar devido �s mudan�as clim�ticas, tamb�m impactam o desenvolvimento dos frutos.
- "Servi�o ambiental" -
Freitas, que tamb�m vem de uma comunidade quilombola no Par�, acredita que refor�ar as regras de preserva��o e a fiscaliza��o pode ajudar a combater a monocultura. No entanto, � necess�rio oferecer incentivos aos produtores para que "mantenham a floresta em p�", refor�a.
Um bom exemplo � o Centro de Refer�ncia em Manejo de A�aizais Nativos do Maraj� (Maneja�), desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu�ria (Embrapa), que capacita produtores para preservar as demais esp�cies e, assim, aumentar a produtividade do a�a�.
Salom�o Santos, l�der comunit�rio de Igarap� S�o Jo�o, admite que a monocultura "pode se tornar um problema (...) porque a gente vive na Amaz�nia e a Amaz�nia n�o vive de uma esp�cie s�", afirmou ele, temendo que a�a� deixe de sustent�-los, como j� aconteceu com os ciclos econ�micos da cana-de-a��car e da borracha.
De acordo com o �ltimo censo do IBGE, existem 3.500 comunidades quilombolas no Brasil, totalizando 1,3 milh�o de pessoas, que muitas vezes se sentem invis�veis aos olhos da sociedade.
"N�s prestamos um grande servi�o ambiental e social para o mundo. Porque n�s preservamos" a floresta, disse Santos, que � membro do Conselho Diretor da Malungu, organiza��o que representa as mais de 500 destas comunidades no Par�.
"Agora a gente quer que esse estado (...) e todos aqueles que foram beneficiados com suor e sangue daqueles que foram escravizados, tenham o dever de retribuir o nosso povo", ressaltou.
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