
H� uma semana, a abertura da 78a Assembleia Geral das Na��es Unidas trouxe o tema “Reconstruindo a esperan�a, revigorando a solidariedade: Acelerar a a��o da Agenda 2030 e seus Objetivos do Desenvolvimento Sustent�vel (ODS) atrav�s da paz, da prosperidade, do progresso e da sustentabilidade”. De fato, esses foram os principais temas refor�ados pela Climate Week NYC (Semana do Clima na cidade de Nova Iorque, em tradu��o livre).
A Climate Week NYC acontece, anual e simultaneamente, em parceria com a Assembleia Geral das Na��es Unidas e, portanto, re�ne importantes personalidades internacionais de governos, do setor privado e da sociedade civil em torno das quest�es clim�ticas. Entre o in�cio da Climate Week e a abertura da Assembleia das Na��es Unidas, a Global Gateway apresentou sua proposta para o Brasil.
Global Gateway � uma iniciativa da Uni�o Europeia para reduzir o d�ficit de investimento global, com a meta de investir em pa�ses parceiros, entre 2021 e 2027, at� 300 bilh�es de Euros nas �reas de sa�de, clima e energia, educa��o e pesquisa e tecnologia.
Alinhada � Agenda 2030 e aos ODSs, ao que tudo indica, a Global Gateway pretende funcionar como uma repara��o social (e sustent�vel) aos pa�ses mais pobres – desde que alinhados com princ�pios democr�ticos, de boa governan�a e transpar�ncia.
Global Gateway pode vir a disseminar o t�o esperado avan�o nas agendas sociais e clim�ticas, sobretudo se acreditarmos na benevol�ncia do velho continente. Digo isso em virtude do estudo intitulado “World Inequality Report 2022” (WIR 2022), que tem nada menos que Lucas Chancel, Thomaz Piketty, Emmanuel Saez e Gabriel Zucman como coordenadores e conta com Alinhada � Agenda 2030 e aos ODSs, ao que tudo indica, a Global Gateway pretende funcionar como uma repara��o social (e sustent�vel) aos pa�ses mais pobres – desde que alinhados com princ�pios democr�ticos, de boa governan�a e transpar�ncia.
Merecem aten��o especial os cap�tulos quatro a seis que tratam:
(i) das desigualdades de riqueza dentro dos pa�ses, em especial na Europa Ocidental, nos Estados Unidos e nos pa�ses que comp�em os BRICS, incluindo-se a� o Brasil;
(ii) da diferen�a de renda entre g�neros, com evid�ncia de que as mulheres ganham apenas um ter�o da renda global do trabalho; e (iii) das desigualdades da emiss�o de carbono. Especificamente em rela��o �s press�es clim�ticas, o relat�rio apresenta a Europa e os Estados Unidos como os grandes vil�es.
(i) das desigualdades de riqueza dentro dos pa�ses, em especial na Europa Ocidental, nos Estados Unidos e nos pa�ses que comp�em os BRICS, incluindo-se a� o Brasil;
(ii) da diferen�a de renda entre g�neros, com evid�ncia de que as mulheres ganham apenas um ter�o da renda global do trabalho; e (iii) das desigualdades da emiss�o de carbono. Especificamente em rela��o �s press�es clim�ticas, o relat�rio apresenta a Europa e os Estados Unidos como os grandes vil�es.
A� a Global Gateway pode ter papel realmente reparador se olharmos atentamente para os resultados do WIR 2022: na estimativa dos autores, entre 1850 e 2020, o mundo emitiu 2.450 bilh�es de toneladas de carbono, dos quais os Estados Unidos responderam por 27%; a Europa, por 22%; e a China, por 11%.
No entanto, em 2019, no comparativo entre a emiss�o local de carbono e a pegada de carbono – grosso modo, definida como a transfer�ncia da emiss�o local de carbono de onde o produto � gerado para onde ele � consumido -, a Europa torna-se a grande l�der, com 23%, e os Estados Unidos cai para 5%.
No entanto, em 2019, no comparativo entre a emiss�o local de carbono e a pegada de carbono – grosso modo, definida como a transfer�ncia da emiss�o local de carbono de onde o produto � gerado para onde ele � consumido -, a Europa torna-se a grande l�der, com 23%, e os Estados Unidos cai para 5%.
O que o WIR 2022 defende � que a redu��o dr�stica das emiss�es de gases com efeito estufa nos pa�ses ricos s� ser� alcan�ada se as desigualdades ambientais e sociais fizerem parte do desenho das pol�ticas ambientais. E mais, que o controle correto das desigualdades de emiss�o de carbono s� � poss�vel tendo o controle das emiss�es individuais de cada pa�s, incluindo as pegadas de carbono. A maioria dos pa�ses s� publica as emiss�es, e n�o as pegadas.
Global Gateway � “consci�ncia institucional” da necessidade de se fazer a��es que, de fato, mitiguem as press�es clim�ticas e preparem, simultaneamente, condi��es humanas mais igualit�rias entre os pa�ses. E o Brasil, por in�meras raz�es, mas em destaque por responder por 60% da Amaz�nia, tem papel relevante nessa transi��o. Talvez seja a oportunidade �nica para o pa�s negociar o mercado de carbono a seu favor.
- Mudan�as clim�ticas: cientistas treinam vacas para usar banheiro contra aquecimento global
Nessa linha, “Carbon Prices and Forest Preservation Over Space and Time in the Brazilian Amazon”, estudo desenvolvido por quatro pesquisadores de renome - os economistas brasileiros Juliano Assun��o e Jos� Alexandre Scheinkman, o laureado ao Nobel de Economia, Lars Peter Hansen, e o cientista computacional Todd Munson, agraciado com o “Presidential Early Career Award for Scientists and Engineers” -, pode ser importante instrumento de negocia��o brasileira nas tratativas internacionais e no mercado de carbono.
Os economistas Assun��o e Scheinkman, representando o grupo Amazonia 2030, apresentaram vers�o resumida desse estudo nessa “Week Climate”. O estudo apresenta uma estrat�gia bem interessante como pol�tica p�blica para salvaguardar a Amaz�nia e gerar ganhos expressivos de bem-estar social e econ�mico, partindo da seguinte pergunta: “Qual pre�o de carbono faria com que o governo e os produtores rurais trocassem a pecu�ria extensiva pela restaura��o florestal em larga escala na Amaz�nia(?)”.
De forma bem simplista diante da sofistica��o e da qualidade do estudo, o que os autores estimam � que o reflorestamento em �reas que v�m sendo tomadas pela pecu�ria n�o s� traria um ganho ambiental em termos l�quidos de emiss�o de carbono, como se tornaria bem mais rent�vel que a atividade depredadora da pecu�ria. Para sua efetiva��o, � imprescind�vel a atua��o do governo federal junto aos pecuaristas, o que n�o deve ser nada trivial, sobretudo considerando-se que o pre�o real do mecanismo dos cr�ditos do carbono ainda n�o � totalmente compreendido.
Outro estudo (“Oportunidades para Exporta��o de Produtos Compat�veis com a Floresta na Amaz�nia Brasileira”), liderado pelo economista Salo Colovsky, professor assistente da New York University e tamb�m integrante do grupo de estudiosos da Amazonia 2030, indica que, na Amaz�nia brasileira, entre os anos de 2017 e 2019, foram exportados 955 produtos dos quais 64 s�o denominados como “compat�veis com a floresta” por serem oriundos de extrativismo florestal n�o-madeireiro, sistemas agroflorestais, pesca e piscicultura tropical e hortifruticultura tropical.
Colovsky aposta no potencial de expans�o desses 64 produtos, mas ressalta os riscos inerentes, como aumento do uso de agrot�xico, extin��o de esp�cies etc. Em suma, o autor afirma que a expans�o precisa ser compat�vel com a manuten��o da floresta e com o bem-estar dos seus habitantes e do planeta que dependem de seu ar.
Os desafios trazidos nessa �ltima semana encontram eco no discurso do Secret�rio-Geral da ONU, Ant�nio Guterres, quando diz “(...) n�o tenho ilus�es, as reformas s�o uma quest�o de poder(...)”. Suas falas me lembram Caetano Veloso ao nos fazer sentir que “somos uns bo�ais, enquanto os homens exercem seus podres poderes” em um planeta em extin��o.