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Estado de Minas ECONOM�S EM BOM PORTUGU�S

A semana que fez ecoar as press�es clim�ticas

Ant�nio Guterres, quando diz "(...) n�o tenho ilus�es, as reformas s�o uma quest�o de poder(...)". Suas falas me lembram Caetano Veloso na m�sica Podres poderes


26/09/2023 08:16 - atualizado 26/09/2023 08:36
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Estiagem no nordeste brasileiro
Estiagem no nordeste brasileiro (foto: M�dia Ninja)


H� uma semana, a abertura da 78a Assembleia Geral das Na��es Unidas trouxe o tema “Reconstruindo a esperan�a, revigorando a solidariedade: Acelerar a a��o da Agenda 2030 e seus Objetivos do Desenvolvimento Sustent�vel (ODS) atrav�s da paz, da prosperidade, do progresso e da sustentabilidade”. De fato, esses foram os principais temas refor�ados pela Climate Week NYC (Semana do Clima na cidade de Nova Iorque, em tradu��o livre).

A Climate Week NYC acontece, anual e simultaneamente, em parceria com a Assembleia Geral das Na��es Unidas e, portanto, re�ne importantes personalidades internacionais de governos, do setor privado e da sociedade civil em torno das quest�es clim�ticas. Entre o in�cio da Climate Week e a abertura da Assembleia das Na��es Unidas, a Global Gateway apresentou sua proposta para o Brasil. 
Global Gateway � uma iniciativa da Uni�o Europeia para reduzir o d�ficit de investimento global, com a meta de investir em pa�ses parceiros, entre 2021 e 2027, at� 300 bilh�es de Euros nas �reas de sa�de, clima e energia, educa��o e pesquisa e tecnologia.

Alinhada � Agenda 2030 e aos ODSs, ao que tudo indica, a Global Gateway pretende funcionar como uma repara��o social (e sustent�vel) aos pa�ses mais pobres – desde que alinhados com princ�pios democr�ticos, de boa governan�a e transpar�ncia. 

Global Gateway pode vir a disseminar o t�o esperado avan�o nas agendas sociais e clim�ticas, sobretudo se acreditarmos na benevol�ncia do velho continente. Digo isso em virtude do estudo intitulado “World Inequality Report 2022” (WIR 2022), que tem nada menos que Lucas Chancel, Thomaz Piketty, Emmanuel Saez e Gabriel Zucman como coordenadores e conta com s�tio eletr�nico pr�prio, que vale a pena ser visitado.

Merecem aten��o especial os cap�tulos quatro a seis que tratam:

(i) das desigualdades de riqueza dentro dos pa�ses, em especial na Europa Ocidental, nos Estados Unidos e nos pa�ses que comp�em os BRICS, incluindo-se a� o Brasil;
(ii) da diferen�a de renda entre g�neros, com evid�ncia de que as mulheres ganham apenas um ter�o da renda global do trabalho; e (iii) das desigualdades da emiss�o de carbono. Especificamente em rela��o �s press�es clim�ticas, o relat�rio apresenta a Europa e os Estados Unidos como os grandes vil�es. 
A� a Global Gateway pode ter papel realmente reparador se olharmos atentamente para os resultados do WIR 2022: na estimativa dos autores, entre 1850 e 2020, o mundo emitiu 2.450 bilh�es de toneladas de carbono, dos quais os Estados Unidos responderam por 27%; a Europa, por 22%; e a China, por 11%.

No entanto, em 2019, no comparativo entre a emiss�o local de carbono e a pegada de carbono – grosso modo, definida como a transfer�ncia da emiss�o local de carbono de onde o produto � gerado para onde ele � consumido -, a Europa torna-se a grande l�der, com 23%, e os Estados Unidos cai para 5%. 

O que o WIR 2022 defende � que a redu��o dr�stica das emiss�es de gases com efeito estufa nos pa�ses ricos s� ser� alcan�ada se as desigualdades ambientais e sociais fizerem parte do desenho das pol�ticas ambientais. E mais, que o controle correto das desigualdades de emiss�o de carbono s� � poss�vel tendo o controle das emiss�es individuais de cada pa�s, incluindo as pegadas de carbono. A maioria dos pa�ses s� publica as emiss�es, e n�o as pegadas. 

Global Gateway � “consci�ncia institucional” da necessidade de se fazer a��es que, de fato, mitiguem as press�es clim�ticas e preparem, simultaneamente, condi��es humanas mais igualit�rias entre os pa�ses. E o Brasil, por in�meras raz�es, mas em destaque por responder por 60% da Amaz�nia, tem papel relevante nessa transi��o. Talvez seja a oportunidade �nica para o pa�s negociar o mercado de carbono a seu favor.
Nessa linha, “Carbon Prices and Forest Preservation Over Space and Time in the Brazilian Amazon”, estudo desenvolvido por quatro pesquisadores de renome - os economistas brasileiros Juliano Assun��o e Jos� Alexandre Scheinkman, o laureado ao Nobel de Economia, Lars Peter Hansen, e o cientista computacional Todd Munson, agraciado com o “Presidential Early Career Award for Scientists and Engineers” -, pode ser importante instrumento de negocia��o brasileira nas tratativas internacionais e no mercado de carbono. 

Os economistas Assun��o e Scheinkman, representando o grupo Amazonia 2030, apresentaram vers�o resumida desse estudo nessa “Week Climate”. O estudo apresenta uma estrat�gia bem interessante como pol�tica p�blica para salvaguardar a Amaz�nia e gerar ganhos expressivos de bem-estar social e econ�mico, partindo da seguinte pergunta: “Qual pre�o de carbono faria com que o governo e os produtores rurais trocassem a pecu�ria extensiva pela restaura��o florestal em larga escala na Amaz�nia(?)”. 

De forma bem simplista diante da sofistica��o e da qualidade do estudo, o que os autores estimam � que o reflorestamento em �reas que v�m sendo tomadas pela pecu�ria n�o s� traria um ganho ambiental em termos l�quidos de emiss�o de carbono, como se tornaria bem mais rent�vel que a atividade depredadora da pecu�ria. Para sua efetiva��o, � imprescind�vel a atua��o do governo federal junto aos pecuaristas, o que n�o deve ser nada trivial, sobretudo considerando-se que o pre�o real do mecanismo dos cr�ditos do carbono ainda n�o � totalmente compreendido. 

Outro estudo (“Oportunidades para Exporta��o de Produtos Compat�veis com a Floresta na Amaz�nia Brasileira”), liderado pelo economista Salo Colovsky, professor assistente da New York University e tamb�m integrante do grupo de estudiosos da Amazonia 2030, indica que, na Amaz�nia brasileira, entre os anos de 2017 e 2019, foram exportados 955 produtos dos quais 64 s�o denominados como “compat�veis com a floresta” por serem oriundos de extrativismo florestal n�o-madeireiro, sistemas agroflorestais, pesca e piscicultura tropical e hortifruticultura tropical.
Colovsky aposta no potencial de expans�o desses 64 produtos, mas ressalta os riscos inerentes, como aumento do uso de agrot�xico, extin��o de esp�cies etc. Em suma, o autor afirma que a expans�o precisa ser compat�vel com a manuten��o da floresta e com o bem-estar dos seus habitantes e do planeta que dependem de seu ar. 

Os desafios trazidos nessa �ltima semana encontram eco no discurso do Secret�rio-Geral da ONU, Ant�nio Guterres, quando diz “(...) n�o tenho ilus�es, as reformas s�o uma quest�o de poder(...)”. Suas falas me lembram Caetano Veloso ao nos fazer sentir que “somos uns bo�ais, enquanto os homens exercem seus podres poderes” em um planeta em extin��o.

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