
A felicidade talvez seja a maior busca humana. Viver bem �, sem d�vida, o objetivo de todo os viventes, inclusive daquele que decide abreviar sua exist�ncia, pois, entre outros motivos, toma essa decis�o porque n�o suporta o mal viver.
N�o � � toa que o mercado de medicamentos ligados �s p�lulas da felicidade tem crescido nos �ltimos tempos. Ilus�o acreditar que o problema da sentido existencial � algo meramente org�nico. Seria f�cil demais. A quest�o � muito mais filos�fica do que farmac�utica.
Muitos adultos interrompem, momentaneamente, suas frusta��es com o comprimido da moda. Jovens se dopam diante das frustra��es e do medo de viver. Em algum momento da vida a conta chegar�. A ang�stia � o �nico sentimento que n�o mente e n�o adianta silenci�-la por muito tempo, ou pensar que que anestesiar-se � uma rota de fuga eficiente. O problema � que a quest�o continuar� l�, pulando em nosso ombro, feito o grilo falante do Pin�quio.
No entanto, a contemporaneidade inventou uma forma mais barata de anestesia do que os caros rem�dios que sustentam a ind�stria farmac�utica: o fetiche tecnol�gico. � por isso que n�o tenho d�vida que esse seria um tema filos�fico discutido pelos grandes pensadores
Nunca entendi a rela��o explicita entre tecnologia e felicidade humana, como alguns advogam. Muito menos a vis�o de que o desenvolvimento tecno-cient�fico est� aliado � ideia de progresso ou avan�o. Sabemos que a hist�ria n�o � uma r�gua num�rica, partindo de um n�mero anterior para o posterior; muito menos uma escada, demarcando antes e depois, pior e melhor.
Afirmo, mesmo correndo o risco de ser generalista: o avan�o tecnol�gico se fundamenta no sepultamento da pouca humanidade que ainda nos resta. Suas cria��es est�o na t�nica de uma esp�cie de puls�o de morte, desfazendo as essenciais rela��es humanas.
O progresso tecno-cient�fico nos auxilia a resolver todos os problemas que n�o ter�amos se ele n�o existisse. O resto � balela, apenas um gozo burgu�s em ver uma s�rie de bot�es emparelhados, com luz piscando e comando de voz. Basta perceber que existe uma rela��o direta entre diminui��o da virilidade e deleite tecnol�gico.
Aposto que o suposto avan�o dos �ltimos dez anos refletir� nossa decad�ncia em rela��o � felicidade. Para fundamentar essa hip�tese, basta verificar: o acelerador de voz do WhatsApp nasceu da falta de tempo para ouvir o outro; os aplicativos de relacionamento surgiram da inaptid�o de encontrar algu�m; o chip de mem�ria da inefici�ncia em guardar recorda��es importantes; as tecnologias educacionais refor�am a inabilidade de uma aprendizagem paciente; o metaverso � resultado da incapacidade de ver alguma coisa al�m do desejo eg�ico de um universo manipul�vel e "s� meu"; a realidade virtual fomentar� a inani��o em sentir experi�ncias humanas atravessadas pelo real.
Perceba. Antes de qualquer felicidade, toda oferta tecnol�gica aponta para aquilo que voc� acabou de perder, n�o para algo que voc� pode ganhar.