Rodrigo Dunshee, vice-presidente do Flamengo, � aquele tipo de cara de pau que apenas o �leo de peroba n�o resolve – para o seu caso, s�o necess�rias umas boas dem�os de verniz n�utico. Depois de reservar hotel em Cuiab� antes que a CBF anunciasse o jogo na cidade, reclama de “falta de isonomia” porque o regulamento reza (rezava) que ambos os clubes deveriam chegar � pra�a do jogo com tr�s dias de anteced�ncia. A regra n�o ser� seguida pelo Atl�tico porque s� h� um hotel com estrutura dispon�vel para realizar treinamentos – o hotel do Flamengo, � �bvio.
A televis�o vende o jogo de amanh� como o tira-teima para se saber “qual o melhor time do Brasil”. O Atl�tico � o atual campe�o brasileiro (terminou 13 pontos � frente do vice, Flamengo) e da Copa do Brasil (o Flamengo n�o chegou na final). O Palmeiras venceu a Libertadores (ganhou do Flamengo) e por pouco n�o levou o Mundial ao fazer jogo parelho com o Chelsea. Mas “o melhor time do Brasil” pode ser o grande campe�o da Ta�a Guanabara de 2021, que s� entrou na disputa para evitar um Galo versus Atl�tico Mineiro.
Tioz�o do Twitter em estado caricatural, Dunshee disse que o Flamengo n�o vive de mesada, uma resposta ao presidente do Atl�tico, S�rgio Coelho, que apenas se referiu ao cargo de fato ocupado pelo vice-presidente, o de bobo da corte. A hist�ria est� a� para provar que, assim como � da tradi��o dos bobos da corte, esse tamb�m tem sua raz�o: no lugar do investimento privado em acordo com a lei e a desportividade, o time de Dunshee prefere o aplauso e o benef�cio dos ditadores e pol�ticos, o dinheiro p�blico na forma de patroc�nios exclusivos, a promo��o e o pagamento de uma concess�o p�blica de televis�o disposta a qualquer neg�cio para minar a liga de futebol nacional, que todos sabem ser a salva��o. Acrescente-se a isso a sempre amiga CBF, o sempre amigo STJD, e adv�m da� o que se conhece por Flamengo.
O Flamengo � o mais puro suco de Brasil, 100% da fruta – apenas o Brasilz�o na veia, em sua completude. Belo por um lado, vamos admitir, sobretudo na democracia racial de sua arquibancada e na festa que sabe fazer o carioca do morro. E ponto. De resto, n�o h� nada de que se possa orgulhar verdadeiramente em sua hist�ria, repleta de ju�zes ladr�es, favorecimentos, suspei��es, imoralidades.
Constrangedor ver Zico em um document�rio sobre a Libertadores de 1981, conquistada na m�o grande, como � de conhecimento mundial (o jornal ingl�s The Guardian qualifica aquele Atl�tico e Flamengo como “o maior roubo da hist�ria do futebol”). Falta grandeza ao deixarem de fora do Flamengo de Todos os Tempos jogadores fundamentais, como Jos� Roberto Wright e Jos� de Assis Arag�o, os �nicos a parar Reinaldo.
Por esse estado de coisas, � t�o bom ganhar do Flamengo, seja na bocha, no pique-esconde ou nessa Supercopa mandraque, cuja sede foi escolhida em reuni�o entre dois setores do clube grande campe�o da Guanabara – o Departamento de Futebol e a CBF. Consta que a Globo n�o gostou, exclu�da que foi desse longevo caso de poliamor. Galv�o nem vai transmitir. Galv�o? Fala, Tino.
O Flamengo � o lado errado da hist�ria. O Galo � o punho cerrado do Rei. O Flamengo � o time do Eduardo Cunha. O Galo, da Dilma. Por isso, ganhar do Flamengo � fazer do mundo um lugar melhor – e se n�o o mundo, pelo menos Belo Horizonte. N�o vai ter golpe! At� porque, n�o h� Wright nem Arag�o. O Galo vai ser campe�o de novo. O Flamengo vai ficar com a medalha do primeiro a chegar no hotel. Se juntar com a Ta�a Rio e a Ta�a Guanabara, j� leva a tr�plice coroa para o balne�rio.