
O futebol mineiro caminha para fechar o ano com duas surpresas e uma reprise. Enquanto o multicampe�o Cruzeiro amarga seu pior cap�tulo, o Am�rica vive dias de protagonismo regional. J� o Atl�tico de Lourdes, como h� 50 anos, vive a mesmice de n�o vencer absolutamente nada relevante e de estimular – institucionalmente – sua Turma do Sapat�nis a se alimentar de �dio.
N�s, cruzeirenses, caminhamos para completar 100 anos de hist�ria mergulhados num drama pessoal. Mas para um clube forjado na supera��o de adversidades com t�tulos e respeito, n�o cabe retroalimentar o fel destilado contra n�s. Muito menos �s v�speras do Natal.
Na chegada da data religiosa, tomo a liberdade de usar meus rabiscos para contar a hist�ria de um personagem ic�nico da Na��o Azul, que ostentava dois mantos sagrados ao mesmo tempo: o de sua profiss�o, a batina e o de seu profundo amor, a camisa do Cruzeiro. Padre Am�rico Campos Taitson. Palestrino, cruzeirense e barro-pretense (�s favas o portugu�s correto, jamais cometeria o sacril�gio de intitul�-lo com algo terminado em “ano”).
Am�rico nasceu em Nova Lima, em 1909. Quando caminhava para completar 11 anos de idade, em Belo Horizonte, era fundado aquele que viria ser sua eterna paix�o: o Palestra/Cruzeiro.
Poucos anos ap�s o tri palestrino de 1928/29/30, ele se despediu dos outros seminaristas, no Bairro Cora��o Eucar�stico, e pegou o trem para o litoral. De l� tomou o navio para terminar os estudos na It�lia.
Num dia frio de final de janeiro de 1935, os sinos das igrejas de Roma anunciaram um enterro. Metido em suas leituras no Vaticano, Am�rico certamente n�o p�de se juntar � multid�o formada na despedida de Nininho Fantoni, ex-jogador da Lazio, da Sele��o Italiana e do Palestra/Cruzeiro. Dois anos depois, a capital italiana se encheria novamente com os dobrados da Bas�lica de S�o Jo�o de Latr�o, mas desta vez para anunciar a ordena��o do futuro palestrino, padre Am�rico Taitson.
Em 1943, o j� Cruzeiro Esporte Clube se preparava para estrear oficialmente a camisa azul e branca, quando ali, a poucas quadras de sua sede no Barro Preto, um novo p�roco era recebido com palmas na Par�quia de S�o Sebasti�o, que vivia dificuldades financeiras.
Assim como fez o ent�o presidente-raposa M�rio Grosso para reformar o estadinho JK, em 1945, padre Am�rico buscou doa��es dos fi�is para terminar as obras da igreja. Conseguiu. Entre os seus oper�rios estava um goleiro-pedreiro que tamb�m ergueu as novas arquibancadas do campo do Cruzeiro: Geraldo II.
Por 52 anos, o cruzeirense padre Am�rico celebrou todas as missas de anivers�rio do Cruzeiro; agradeceu por dezenas de t�tulos do clube amado e, como ele mesmo gostava de dizer, colocou em suas ora��es, por milhares de vezes, pedidos para que os jogadores n�o se machucassem. Principalmente seus tr�s maiores �dolos: Tost�o, Dirceu Lopes e Natal. Todo fiel que chegava � casa paroquial em busca de aconselhamento era saudado pelo papagaio do padre com um “ol�, ol�, o Cruzeiro t� botando pra quebr�”.
Viveu uma rivalidade sadia com os padres atleticanos. Certa feita, Dom Serafim, seu arcebispo, sapat�nis roxo, quis fazer uma missa de formatura de seus alunos na Igreja de S�o Sebasti�o. Foi demovido da ideia por padre Am�rico, pois, para ele, o solo sagrado e celeste do Barro Preto jamais poderia ser sal�o de festividade promovida por rivais, muito menos sendo ela uma santa missa.
Em 28 de janeiro de 1995, Cruzeiro e Bahia se postaram para uma peleja da Copa do Brasil. O �rbitro Oscar Roberto de God�i apitou, abaixou a cabe�a e levantou um dedo. Era dado um minuto de sil�ncio em respeito a um �cone da torcida cruzeirense. Horas antes, as cinco estrelas tinham parado de bater no cora��o celeste de padre Am�rico.
No janeiro de 2021, a Igreja de S�o Sebasti�o se abrir� para celebrar o batismo do sobrinho-bisneto do padre Am�rico, o pequenino cruzeirense Diego Taitson. Com essa hist�ria de paix�o estrelada que se renova na fam�lia do inesquec�vel padre celeste, desejo um Feliz Natal a toda a Na��o Azul!