
Nesse tempo, tudo ainda pode acontecer. Seja um milagre para jamais ser esquecido ou a dura realidade, nos empurrando � decis�o por montar o esquema t�tico e psicol�gico para um 2021 inesperadamente tortuoso. A poucos passos de um retorno � S�rie A ou engolidos pelas consequ�ncias dos crimes cometidos contra o clube, n�s, cruzeirenses, fecharemos o ano com a certeza de que tudo poderia ter sido diferente.
Uns ir�o lastimar os seis pontos perdidos antes mesmo do campeonato se iniciar. Far�o falta ou n�o? Afinal de contas, quem foi culpado pela puni��o da FIFA? Outros, debater�o implica��es da pen�ria financeira. Ela justifica a demora por encontrar uma forma��o no m�nimo competitiva para o time?
Haver� a reflex�o sobre a lentid�o da Justi�a, nos obrigando a um ano de espera por cadeia aos criminosos que sangraram o Cruzeiro. Tamb�m ficar� a pergunta de como essa bola de neve formou-se dentro do clube, sob a cumplicidade de um Conselho Paquiderme Deliberativo.
Esses e tantos outros ingredientes, mexidos e harmonizados, formam um caldo com gosto de “faltou um algo a mais”, ou – oremos - de “apesar de tudo, conseguimos”.
Mas na noite dessa ter�a, enquanto assistia as cadeiras do Gin�sio do Horto vazias durante a peleja contra o CSA; ao imaginar a nossa casa, o Mineir�o, no mesmo instante, �s escuras, sem o seu escrete azul estrelado a correr pelo gramado, consegui entender qual ser� mesmo a falta mais sentida desse 2020. Ela � �bvia... O Cruzeiro fechar� o ano mergulhando em saudade da gente! Louco para se jogar nos bra�os da maior torcida dessas paragens!
Quem nasceu dos trabalhadores e trabalhadoras, acostumou-se com o amor de milh�es, jamais se conformar� com o sil�ncio num est�dio de futebol. Pr�ximo de uma �pica retomada ou conformado com mais um ano de pen�ria, n�o importa, o Cruzeiro chegar� ao final desses 15 dias sentindo falta do seu povo. � como se o manto sagrado bailasse, conduzido pelos jogadores, mas, a todo momento, olhando para o vazio das arquibancadas e se perguntando: “Como deve estar a minha torcida?”.
Essa saudade m�tua entre Cruzeiro e n�s, torcedores, me fez lembrar de um conto, protagonizado por dois personagens de cora��o e alma cruzeirenses: o eterno maior cronista do Palestra/Cruzeiro, Pl�nio Barreto e o ex-presidente Juscelino Kubitscheck. Dois amigos de longas resenhas.
Iniciava-se junho de 1966. Em Nova York, exilado, JK recebia a not�cia da morte de Nan�, sua irm� t�o querida. Perseguido pela ditadura militar, o ex-presidente teria dificultado um regresso ao Brasil para ao menos despedir-se dela.
Temendo uma repercuss�o negativa fora do pa�s, os militares acabaram por engolir o retorno de Juscelino, sob a condi��o de proibi-lo de fazer qualquer declara��o. Ele tamb�m deveria tomar o avi�o de volta aos Estados Unidos t�o logo os tr�s dias de luto pela irm� se encerrassem.
Chegando a Belo Horizonte para a cerim�nia f�nebre, JK teve a oportunidade de percorrer algumas avenidas da cidade onde toda a sua hist�ria pol�tica havia se iniciado. Ali tamb�m foi o palco de sua liga��o amorosa com o Cruzeiro Esporte Clube.
Ao adentrar a �rea central da capital, poucos quarteir�es � frente, o carro parou por alguns segundos. Logo, todo aquele aparato fez uma multid�o perceber uma misteriosa presen�a. At� que o primeiro apontou o dedo e gritou: “� o presidente JK”.
A rua foi invadida, tomada de gente a cercar o carro de Juscelino. Entre eles, seu velho amigo Pl�nio Barreto. Toda a amargura vivida por JK, durante alguns instantes, deu lugar ao seu inesquec�vel sorriso largo. Ele abaixou o vidro e disse: "Pl�nio, Pl�nio! Como vai o nosso Cruzeiro?".
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