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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

A Voz do Cruzeiro merecia um jogo de despedida

"Alberto Rodrigues construiu em nosso imagin�rio mais de 4.000 gols do Cruzeiro. Gra�as a ele, para mim, o futebol tem som, poesia e alma"


21/12/2022 04:00 - atualizado 20/12/2022 22:48

O narrador Alberto Rodrigues
O narrador Alberto Rodrigues, a 'Voz do Cruzeiro' (foto: Itatiaia/Divulga��o)
 

Qualquer crian�a cruzeirense, amante da bola, um dia sonhou em vestir a camisa azul estrelada. Desde novo, eu n�o fui bem dessa turma. N�o por falta de amor pelo clube, desinteresse em ter meu nome gritado nas arquibancadas ou inexist�ncia de desejo em ver meu rosto transformado em figurinha para ser colada ao lado da carimbada do Careca. N�o sonhei por um motivo bem simples. Eu era ruim de bola mesmo.

Sempre tive a consci�ncia do quanto o futuro n�o me reservaria a d�diva de ser um jogador. Restou-me cursar a faculdade de jornalismo, com o intuito de estar pr�ximo aos meus �dolos, nas coberturas esportivas como rep�rter, e quem sabe, at� narrar um gol.

Al�m disso, sou da leva de alguns milh�es de torcedores que cresceram sem poder ver o escrete periodicamente no est�dio ou na TV. Na minha cidade interiorana, Mariana, a imagem do jogo, o gol simples ou a emo��o de uma vit�ria s� chegavam pelas ondas do r�dio, na voz de Alberto Rodrigues, o “Mais Vibrante do Brasil”.

N�o por menos, ao lado de Salom� – a maior torcedora do mundo, ele se tornou o meu grande �dolo na hist�ria do Cruzeiro. Colado aos dois (Salom� e Alberto), est�o Balu, Nin�o Fantoni, Careca, Geraldo II e o Mestre da Gentileza, Dirceu Lopes. Em sua extensa carreira, Alberto Rodrigues construiu em nosso imagin�rio mais de 4.000 gols do Cruzeiro. Gra�as a esse monstro sagrado do r�dio brasileiro, para mim, o futebol tem som, poesia e alma.
Nessa semana, a R�dio Itatiaia, �ltima e mais longa casa de Alberto Rodrigues, anunciou seu desligamento. N�o h� aqui qualquer inten��o de questionar a decis�o da empresa, mas, sim, a de lamentar – com o cora��o partido – o fim dessa era. Nenhum outro �dolo cruzeirense foi titular por tanto tempo. O recorde do goleiro F�bio passa longe da marca da “Voz do Cruzeiro”. Desde o final da d�cada de 1970, era dele a titularidade absoluta nas narra��es de nossas pelejas mundo afora.

A grande maioria da torcida, principalmente os mais jovens, que nem r�dio escutam mais, talvez n�o entender�o a import�ncia de Alberto Rodrigues para a forma��o e aglutina��o da torcida do Cruzeiro entre as d�cadas de 1980 e 2010. A mesma desinforma��o deve povoar a atual administra��o do clube. Por�m, seria de um gesto de extrema grandiosidade a institui��o render a ele uma homenagem oficial. Algo revolucion�rio, justo e marcante.

Pl�nio Barreto, Salom�, Fel�cio Brandi, Pablito, Roberto Batata, Niginho Fantoni e Z� Carlos. Al�m da obviedade por terem sido cruzeirenses apaixonados, todos carregaram uma segunda marca em comum. A de s� terem recebido justas homenagens por suas dedica��es (no caso, ao Cruzeiro Esportes Clube) depois do ostracismo, da aposentadoria ou mesmo da morte, fosse ela tr�gica ou inesperada.

Mudar essa cultura de adiar reconhecimentos, de desd�m aos mais velhos ou de desprezo pela hist�ria � praticamente imposs�vel devido � natureza humana do imediatismo e do mercantilismo das SAFs. Por�m, alguns gatilhos poderia reverter essa infeliz l�gica de “forma not�vel”.

Em 2023, Alberto Rodrigues completar� 60 anos narrando partidas de futebol; a esmagadora maioria, do Cruzeiro. N�o na Itatiaia, onde a miss�o, agora, est� com outro g�nio da narra��o esportiva, meu amigo Pequetito. Mas fica a pergunta quase ut�pica: n�o seria magn�fico o pr�prio clube convidar Alberto Rodrigues, a Voz do Cruzeiro, para um jogo de despedida, onde sua narra��o da peleja reverberasse n�o s� pelas ondas do r�dio, mas tamb�m pelos alto-falantes do Mineir�o? Para milh�es de cruzeirenses, certamente, seria “uma alegria incontida”.
 
 

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