Maur�lio Anuncia��o comemora os 43 anos do Club Fantasy, a casa noturna mais antiga em atividade na cidade (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)
Tim Maia j� deu canja na noite de Belo Horizonte. Em sua agenda de shows na capital mineira, por duas vezes fez quest�o de ir � L’Apog�e, boate que foi sensa��o a partir do fim dos anos 1980. Tim passou a noite l� cantando no scotch bar, ao lado de Zuza.
Arquiteta de renome, Freusa Zechmeister assinou o projeto da Tom Marron, que reinou do fim dos anos 1970 at� o in�cio dos 1990. O espa�o era t�o badalado que Pel�, ningu�m sabe se por compromissos com o futebol ou a passeio, deu as caras por l�, numa bela noite.
Muito, mas muito antes de a Olympia, que funcionou nos anos 1990 no subsolo do Edif�cio JK, inovar com o jogo de luzes que abria a pista de dan�a, o bailarino Maur�cio Tobias j� fazia as honras da Jambalaya, boate que funcionou na �lvares Cabral no final dos anos 1970, quando a discoteca era onda.
O bailarino conta que o convite veio de um dos donos do espa�o. “Maurinho queria incrementar a noite de quinta-feira, vazia em rela��o � sexta e ao s�bado. Por amor � dan�a, aceitei o convite sem ganhar um tost�o, mas podendo convidar pessoas para irem comigo”, recorda Maur�cio. Sua equipe chegou a ter 20 pessoas, cujas coreografias entusiasmavam o p�blico.
A inaugura��o da Jambalaya contou com Lauro Corona e L�dia Brondi, atores que faziam sucesso na novela “Dancin'days”.
Le Galop: point da juventude belo-horizontina nos anos 1970/1980 (foto: Arquivo EM)
Quer mais hist�rias?
In�cio dos anos 2000. O palco do Pop Rock Caf� foi pequeno para reunir Rog�rio Flausino, Sideral, Claudio Venturini, Pod�, Frejat e Andreas Kisser, que dividiam os vocais com Samuel Rosa, que comemorava seu anivers�rio.
Leo Jaime tem hist�ria na balada de Belo Horizonte. O Ponteio, muito antes do shopping, era restaurante e boate. Certo dia, empres�rios trouxeram o cantor para se apresentar l�. No auge da carreira, ele literalmente parou a rodovia, com carros dos dois lados e f�s querendo ver o show, meio improvisado, em cima de um caminh�o. Leo deu conta do recado, mas... levou pedrada de f�.
N�o se pode negar: a noite nas boates de Belo Horizonte j� foi uma grande festa. Claro que muita coisa n�o durou por causa do car�ter aventureiro de seus idealizadores. Mas fato � que chegamos at� 2000 com rela��o enorme de casas.
Bem antes da pandemia, a balada j� respirava por oxig�nio, algo diferente das �ltimas cinco d�cadas. Naquela �poca, ningu�m podia reclamar de nada. Em cada esquina havia uma pista para se jogar sem medo de ser feliz.
A coluna HIT, que em mar�o completa 18 anos, acompanhou o per�odo de grande efervesc�ncia dos anos 2000. Anivers�rio bom � anivers�rio com casa cheia, DJ de primeira e quem a gente gosta ao lado. Mas como a pandemia n�o est� controlada e o n�mero de contaminados vem aumentando, o jeito � fazer a festa recorrendo a hist�rias da cidade, muitas delas registradas aqui na p�gina 3 deste caderno.
Come�amos hoje pela reportagem que abre a s�rie “Envelhe�o na cidade”. N�o � a comemora��o ideal para a “maioridade” da HIT, mas nem por isso ser� menos divertida.
Cabar� Mineiro: templo da boa m�sica em BH (foto: Arquivo EM)
A s�rie foi feita em home office (que j� dura quase dois anos), com conversas por telefone, dezenas de trocas de mensagens com muita gente para lembrar, sem saudosismo, momentos que marcaram a balada em Belo Horizonte quando a vida parecia mesmo uma festa.
O recorte come�a nos anos 1970 e segue at� os dias atuais, com a comemora��o dos 43 anos de atividades do Clube Fantasy, no Salgado Filho.
E tamb�m dos 30 anos do Major Lock. “� um pub que virou discoteca, balada e boate”, define Rodrigo Bouchard, criador do espa�o que tem como s�cios, Ramiro Maia e Felipe Marreco.
Entrem nesta viagem, que seguir� sempre �s quartas-feiras na HIT.
Chica da Silva: pioneira na Savassi
Eles t�m muitas hist�rias para contar
O que levou muita gente a se dedicar ao mundo (quase) sempre fascinante das boates?
As hist�rias s�o as mais variadas. Alexandre Ribeiro, o Lel�, queria abrir um bar na Floresta. “Mas na inaugura��o, errei a m�o no som e virou boate”, conta, revelando como surgiu o Deputamadre, que h� 19 anos se mant�m firme, apesar de ter fechado por um per�odo na �poca mais cr�tica da pandemia.
Paco Pigalle, que por 31 anos circulou por 11 endere�os com o espa�o que leva seu nome, era praticamente adolescente quando veio a Belo Horizonte. Gostou tanto que quis montar algo com refer�ncias do underground europeu.
“O que existia na �poca na cidade n�o era underground”, observa Paco, que por algum tempo acompanhou o m�sico franc�s Manu Chao.
Com o passar dos anos, ele ganhou fama, um programa na R�dio Gerais e a legi�o de f�s que curtiam as m�sicas africanas e de tantos outros pa�ses que instigavam a curiosidade do mineiro. Com o sucesso, foi inevit�vel que seu bar virasse boate. H� 15 anos, o endere�o de Paco est� fixo na Avenida do Contorno.
O ano � de celebra��o para o Major Lock, que comemora 30 anos. “Era um pub que virou discoteca, depois balada, depois boate. Como o tempo, para se manter, foi se adaptando”, recorda Rodrigo Bouchardet.
2022 tamb�m � anivers�rio do Club Fantasy, a casa mais antiga de Belo Horizonte, com 43 anos em plena atividade. “Fechamos apenas por causa da pandemia”, lamenta Maur�lio Anuncia��o Le�o, que aproveitou o per�odo e renovou o espa�o para reabrir no final de semana. “A casa est� zero-quil�metro”, avisa.
Da d�cada de 1970 para c�, o perfil dos donos das casas noturnas � t�o variado quando o estilo musical que agita ou, em muitos casos, agitava a pista. Muitos aventureiros tentaram fazer a festa, mas tiveram passagem mete�rica.
A hist�ria de Maur�lio Anuncia��o, por exemplo, � sin�nimo de amor e dedica��o � balada. Doido por m�sica, como ele mesmo se define, teve inf�ncia muito pobre. E se virava como podia. Pedreiro, come�ou a criar caixas de som feitas de madeirite para festas em quadras, at� que, por causa da Lei do Sil�ncio, elas foram suspensas. Maur�lio, ent�o, literalmente colocou a m�o na massa e construiu o Clube Fantasy.
“Fa�o de tudo, sei de tudo o que se passa aqui dentro, das reformas necess�rias � administra��o”, conta ele.
Cuidadoso, Maur�lio mant�m com orgulho a cole��o de 3 mil DVDS. “Quem n�o quer dan�ar fica sentado confortavelmente em sua mesa e pode acompanhar os v�deos exibidos nos dois tel�es”, comenta. A Fantasy tem 800 metros quadrados e capacidade para receber 250 pessoas.
A partir da pr�xima quarta-feira (19/1), a se��o “Envelhe�o na cidade” vai contar mais hist�rias das boates e casas noturnas de Belo Horizonte.
SE ESTAS PISTAS FALASSEM...
ANOS 1970
» Caf� Society (Rua Rio Grande do Norte, 1.470, Savassi)
» T�nel (Rua Rio Grande do Norte, Savassi)
» Tom Marron (Rua dos Inconfidentes, Savassi)
» Le Galop (Rio Grande do Norte, 1.470, Savassi)
» Jambalaya (Avenida �lvares Cabral, Lourdes)
» Le Batou Blanc
» Chica da Silva (Esquina de ruas Pernambuco e Inconfidentes, Savassi)
» Club Fantasy (Rua Santa Juliana, 259, Salgado Filho)
» Boate da PIC (Sede do clube, na Pampulha)
ANOS 1980
» Guilden (Avenida Prudente de Morais, Santo Ant�nio)
» The Great Brazilian Disaster (Avenida Get�lio Vargas, Savassi)
» Anjo Azul (Pra�a Raul Soares, Centro)
» Coisa Nossa (Bairro Nova Su�ssa, perto da UPA Campos Salles)
» Chex Eux (Rua Alagoas, Savassi)
» Plumas & Paet�s (Avenida Brasil, Funcion�rios)