(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas VIAGEM GASTRON�MICA

Turismo de experi�ncia: mais um pastel de angu, por favor!

Como duas escravas, sem saber, criaram uma deliciosa experi�ncia gastron�mica em Minas Gerais


06/07/2021 06:00 - atualizado 13/07/2021 06:59

(foto: Acervo pessoal)
(foto: Acervo pessoal)

Era uma vez, h� muito tempo, por volta do ano 1850, duas escravas que trabalhavam juntas na casa grande de uma fazenda nas redondezas de Ouro Preto, num distrito chamado Itabira do Campo. Uma se chamava Maria Conga e a outra Fil�. Elas eram cozinheiras de m�o cheia. 


As escravas n�o eram princesas indefesas, mas sim mulheres fortes, que com todas as limita��es que a escravid�o impunha, conseguiam encontrar alternativas para sobreviver saboreando um pouquinho das del�cias do mundo. Ent�o, elas iam juntando os restos de carne e sobras, tudo bem escondido dos donos da casa. 
 
 
O fub� j� era bem comum pelas bandas de l�, e elas criaram uma massa � base de angu – uma mistura de fub� de milho com �gua, para preencher com as sobras que elas guardavam. Ent�o, elas colocavam aquelas sobras dentro da massa, mas tudo tinha que ser bem escondido, afinal elas n�o podiam ser pegas. 

N�o dava tempo de fechar o pastel bonitinho, ent�o elas apertavam na m�o e os pedacinhos da massa saiam entre os dedos. Mas quando essa massa recheada de sobras ca�a na gordura quente do fog�o � lenha! Ahhh! Aquele aroma inundava o cora��o e enchia a boca d’agua! E quando ficava pronto, o alimento n�o era s� para matar a fome, mas para aquecer a alma e dar um pouco de prazer a quem tinha uma vida t�o sofrida.

Eu n�o sei se elas se sentiam assim, mas � assim que eu gosto de imaginar a vida de quem deixou para n�s uma preciosidade em forma de pastel, carregado de sabor e de hist�ria. Os anos se passaram, na verdade mais de um s�culo se passou. Mas Maria Conga e Fil� deixaram uma hist�ria que � revivida at� hoje, cada vez que uma das mulheres mantenedoras do pastel de angu come�a a peneirar o fub�, fazer a massa, o recheio (que atualmente existem diversos) e fechar o pastel. 

Hoje, o pastel n�o precisa mais ser amassado na m�o e apertado entre os dedos sorrateiramente. Fazer o pastel se tornou um patrim�nio daquela cidade perto de Ouro Preto, hoje conhecida por Itabirito. A cidade que tem nome de min�rio, carrega uma das mais lindas hist�rias da gastronomia mineira. 

T�o importante � essa hist�ria, que h� 30 anos, um grupo de mulheres se reuniu para fazer os pasteis de angu da forma mais tradicional poss�vel, obviamente que mantendo o formato do pastel, mas aprimorando seu desenho e cuidando da higiene. Afinal, agora todo mundo j� sabe e n�o � preciso mais esconder! Desse grupo, nasceu uma associa��o. E agora, independentemente de qualquer coisa, muitas mulheres em Itabirito mantem al�m da hist�ria e cultura local, suas fam�lias com a venda dos pasteis de angu. 

Uma delas � a Dona Nilda, que j� consegue abrir as portas de sua pequena f�brica para os visitantes que quiserem saborear o pastel localmente. Na casa dela � poss�vel ver como o pastel de angu � feito com carinho, e como mesmo mantendo a tradi��o, a Dona Nilda consegue inovar. 

Os recheios s�o os mais variados, como o tradicional umbigo de bananeira, que � aquele p�ndulo que se forma abaixo do �ltimo cacho de banana. Tem de torresmo com couve, de frango, de carne seca, de alho por� e at� Romeu e Julieta, a deliciosa mistura mineira de queijo com goiabada. Isso � puro turismo de experi�ncia, que faz com que possamos utilizar todos os nossos sentidos.  

Eu n�o sei se a Maria Conga e a Fil� foram felizes para sempre, infelizmente a hist�ria nos faz achar que n�o. Mas elas deixaram para sempre, num cantinho de Minas Gerais, na cidade de Itabirito, umas das maiores del�cias da nossa gastronomia. O pastel de angu! T�pico, forte e marcante, como eu imagino que as duas deviam ser.

Quer saber mais sobre turismo, al�m de apenas dicas de viagem? Me siga no Instagram @blogdaisabellaricci ou acesse blogdaisabellaricci.com.br

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)