Ravena Carvalho ouviu que o Pole Dance n�o era para ela, mas seguiu no esporte e hoje � professora na modalidade (foto: Arquivo pessoal)
Desde a primeira vez que vi uma pessoa dan�ar no pole dance, fiquei chocada. Como pode algu�m girar na barra com tanta agilidade? Poderia eu, com meu corpo gordo, fazer o mesmo? Achei que n�o e tirei a ideia da cabe�a. Anos depois, entrei no quarto de uma amiga e voil�: ela tinha uma barra instalada no quarto. Dei meu primeiro giro e uma imensa sensa��o de liberdade tomou meu corpo. Me enrosquei por ali e que del�cia que foi.
Mas, fui embora e nunca mais voltei � barra de pole dance. Acabei voltando para outros esportes e nunca mais girei na barra - exceto em mot�is, risos. Mas, soube que ali existia um esporte delicioso.
Pole Dance � uma modalidade art�stica que surgiu no Brasil nas �ltimas duas d�cadas e que � desempenhado sobretudo por mulheres e pessoas relacionadas � comunidade LGBTQIA+. A dan�a � feita com o uso de uma barra (pole) e com fortes influ�ncias do circo, teatro e de dan�as sensuais e marginalizadas.
Ano mais tarde, comecei a encontrar colegas que, como eu, s�o gordas e que estavam se aventurando na barra. Soube de um coletivo de mulheres gordas que se re�ne para dan�ar, pessoas que competem e, mais recentemente, um est�dio na cidade em que vivo, que recebe todos os tipos de corpos, sem contra-indica��o, para o esporte.
Lu Senra e Carol Gianelli, que nos pr�ximos dias 05, 06 e 07 de agosto disputam no Festival Mineiro Pole Dance, em Belo Horizonte, investem no bem-estar das mulheres - o est�dio Gira Pole� exclusivo para o g�nero - que frequentam e agora, preparam coreografias para o festival. “O pole dance � para todas”, anunciam.
Entre as frequentadoras, est� a professora Ravena Carvalho, 29 anos. Uma mulher gorda, que depois de tentar v�rios esportes, encontrou no pole dance - e no acolhimento do local - uma forma de fazer as pazes com a atividade f�sica e gostar do pr�prio corpo fora dos padr�es.
Ela conta que sempre teve uma rela��o ruim com qualquer atividade f�sica e que tudo que fez era com a ideia de emagrecer, at� conhecer o pole dance em meio a uma crise de ansiedade e depress�o, depois de tentar pedalar e fazer yoga.
Ravena conta que n�o consegue mais viver sem o pole dance (foto: Arquivo pessoal)
“Eu j� acompanhava a p�gina da escola h� algum tempo e achava incr�vel. L�, conheci a Dani, uma pessoa gorda tamb�m. Ela me inspirou, me deu vontade e me trouxe o pensamento de ‘eu tamb�m vou conseguir’”, relatou,
Mas, na primeira aula que marcou, Ravena se sabotou e n�o foi por achar que n�o daria conta. Foi somente na segunda aula que, mesmo t�mida e desconfort�vel ao ver que o pr�prio corpo era ‘diferente’ dos que estavam dividindo a aula � que ela conseguiu curtir e aderir ao Pole Dance.
“Em poucos minutos eu percebi que ningu�m l� se importava com isso. Que naquele lugar parecia que todos estavam despidos (literalmente). E os medos e inseguran�as se evidenciavam em ficar de ponta cabe�a e n�o em mostrar uma celulite ou estria. E eu nunca mais consegui deixar aquele lugar. Nunca mais consegui viver sem o pole”, conta.
Para ela, o pole mostrou o quanto o corpo � capaz, mas que este mesmo corpo exige paci�ncia. “Dan�ar me mostrou o quanto a minha mente � importante, me trouxe paix�o de novo. Me trouxe aconchego. E eu achei aquilo que eu sempre busquei: uma atividade f�sica que me desse prazer”.
Para quem gostaria de tentar, Ravena deixa um recado: “Ouvi diversas vezes que o pole n�o era pra mim. Alguns diretamente outros em brincadeiras disfar�adas. O acolhimento que eu tenho l� dentro e as supera��es que eu tenho comigo me fazem continuar. Claro que nunca ser� a mesma coisa. Tive que aprender a olhar o meu processo e n�o me comparar. A lidar com as minhas frustra��es. Mas tem sido uma experi�ncia incr�vel”, pontua.
Apesar de n�o frequentar a mesma escola, a internacionalista Andr�a Costa, de 35 anos, h� 7 anos no pole dance, ela fala sobre a resist�ncia que significa ser uma mulher gorda no pole dance.
“Apesar do ambiente do pole dance ser um pouco mais aberto e acolhedor que as dan�as mais “tradicionais”, ser uma mulher gorda ainda significa ter um papel de resist�ncia. Existe uma cobran�a maior das pessoas, al�m da tentativa constante de invalidar ou diminuir nossa dan�a quando somos gordas. � como se precis�ssemos sempre nos provar de alguma forma, brigar pelo nosso espa�o e pelo nosso direito de simplesmente existir”, pontua.
Os benef�cios do pole dance
No mercado do Pole Dance desde 2013, Lu Senra recebe diferentes tipos de mulheres na escola que � exclusivamente dedicada ao g�nero. “A ideia foi fazer um espa�o exclusivo, para facilitar na gest�o e no atendimento e t�m dado certo. As nossas alunas sentem que o Gira Pole � um ref�gio, um espa�o s� delas e �, j� que tudo foi pensado para elas”, conta.
E emenda sobre os benef�cios do pole dance enquanto atividade f�sica regular, que trabalha todos os m�sculos do corpo e � indicada a todas as pessoas, de qualquer faixa-et�ria ou com qualquer tipo f�sico: “� uma dan�a que traz, claramente, muitos benef�cios f�sicos como for�a, flexibilidade, coordena��o motora e equil�brio mas, no final das contas, observamos tamb�m os benef�cios subjetivos, como a desconstru��o de ideais e a forma que as mulheres aprendem a lidar com a frustra��o, a aprimorar a paci�ncia, a socializar o espa�o, trabalhar a auto-estima, o empoderamento, o autoconhecimento e a sensualidade”, acrescenta.
O esporte para al�m da idade
Quem confirma � a professora de educa��o f�sica Maria de F�tima Rodrigues Ponso, de 50 anos. Ela esperou uma vaga para fazer uma aula experimental ap�s ver uma amiga postar fotos na escola e desde outubro do ano passado, n�o abre m�o do esporte que a conquistou.
“Eu confesso que embora seja professora de educa��o f�sica, sou um pouco pregui�osa para manter minhas atividades, tudo que eu come�ava, eu parava e neste caso, eu j� sa� da aula experimental matriculada”, confessa.
Desde ent�o, F�tima n�o se arrepende: “as meninas s�o muito acolhedoras, celebram quando a gente acerta um movimento, sem falar que � um esporte que trabalha muito a sensualidade e a for�a. Eu percebi a diferen�a bem r�pido, porque com o passar do tempo, com a idade, vamos perdendo t�nus muscular, equil�brio, consci�ncia corporal e em um m�s eu j� senti a diferen�a. Foi surpreendente a resposta do exerc�cio pro que eu procurava”, diz.
Sobre o festival
O Festival Mineiro Pole Dance est� na 5ª edi��o e acontece entre os dias 05, 06 e 07 de agosto no Teatro da Cidade, em Belo Horizonte e recebe ao menos 70 artistas de todo Brasil.
Participam grandes nomes da modalidade e tamb�m artistas em in�cio de carreira. As performances ser�o divididas em categorias, que se relacionam aos diversos estilos da modalidade: experimental, exotic, flow a�reo e flow rasteiro.
No mesmo final de semana, tamb�m ocorre a 2ª etapa do 1º Semin�rio Mineiro de Pole Dance. O evento oferece oficinas e debates gratuitos ligados ao universo do pole, dentre eles: empreendedorismo, mercado digital, t�cnicas de dan�a, gest�o de neg�cios, cultura drag queer, gordofobia, performance, processo criativo e feminismo. Mais informa��es podem ser obtidas no site https://mineiropoledance.com.br/
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