
Ao anunciar a ex-zagueira e ex-capit� da Sele��o Brasileira Aline Pellegrino para o comando do futebol feminino do pa�s – ela ser� a coordenadora de competi��es –, a CBF finalmente ouviu os anseios de quem acompanha a modalidade de perto. Al�m dela, chega Duda Luizelli, que estava no Internacional, para ser coordenadora de sele��es.
No mesmo dia (e talvez n�o seja mera coincid�ncia), a CBF anunciou a equipara��o de di�rias e premia��es das sele��es femininas e masculinas do Brasil. Um abismo se desfez com essa medida – extraoficialmente, dizem que isso representar� um ganho de 70% nos recebimentos das meninas.
Foi um sopro de esperan�a de dias melhores – n�o apenas por ter entregue o comando nas m�os de mulheres, mas por ter entregue o comando a mulheres que entendem do riscado.
A quest�o vai muito al�m da representatividade, por�m � essa representatividade o ponto de partida. Em junho do ano passado, esse assunto foi tratado em Tiro Livre assim que a Sele��o Brasileira foi eliminada na Copa do Mundo da Fran�a.
Um dos questionamentos foi o fato de a comiss�o t�cnica e os cargos diretivos na Sele��o serem ocupados, majoritariamente, por homens. Direta e indiretamente, isso ajudava a reafirmar o qu�o machista o esporte ainda � no Brasil.
Vieram as perguntas: “Quem s�o os homens escolhidos para estar l�? N�o haveria mulheres qualificadas? Ou at� mesmo homens, mas com maior identifica��o e folha de bons servi�os prestados especificamente ao futebol feminino – e, por consequ�ncia, mais bem preparados para a fun��o?”.
Na �poca, o futebol feminino da CBF era chefiado por Marco Aur�lio Cunha. O treinador da equipe era o Vad�o, que cairia dias depois. Uma das citadas na coluna como candidata para a gest�o era Aline Pellegrino, que estava � frente do futebol feminino na Federa��o Paulista e j� tinha uma trajet�ria consolidada na �rea.
Em agosto, come�ou um movimento de mudan�a com a chegada da t�cnica Pia Sundhage. A sueca foi contratada com a proposta de ajudar numa reestrutura��o da modalidade a partir da Sele��o. Ela trazia prest�gio e conhecimento.
Fiz uma mat�ria para o jornal Estado de Minas sobre o que Pia encontraria no pa�s. E uma das entrevistadas foi justamente a Pellegrino. Conversamos por pouco mais de uma hora, e nem tudo entrou na reportagem por absoluta falta de espa�o. Agora fui atr�s daquela entrevista, para observar com outro olhar o que ela falou.
Pellegrino estava otimista e acreditava que os primeiros resultados seriam vistos em dois anos – certamente, n�o poderia imaginar que passaria a fazer parte da miss�o. A experi�ncia de Pia no futebol feminino era um grande trunfo, mas a ex-jogadora fazia uma ressalva: era preciso ter paci�ncia para colher os frutos.
“A gente precisa aproveitar muito tudo o que ela viveu, tudo o que sabe. Estou bem confiante, animada, mas � preciso ter paci�ncia, dar cr�dito, � uma reestrutura��o. N�o � come�ar do zero. J� sabemos que temos talentos, � trabalhar esses talentos melhor. Poder�amos estar mais evolu�dos, mas j� existe um caminho. O que temos � de dar uma condi��o melhor para o desenvolvimento do trabalho”, afirmou.
Aline defendia que era importante entender e respeitar as particularidades do futebol feminino no Brasil. Que a receita do sucesso dele poderia n�o estar na mesma f�rmula adotada no masculino.
Em outras palavrras: comparar as duas realidades e se mirar apenas nisso poderia ser perda de tempo: “Temos de trilhar o nosso caminho, melhorar o que � importante para a gente. No feminino, por exemplo, � muito mais importante ter competi��es do que brigar para jogar no est�dio principal do clube”.
Tamb�m falamos sobre a pouca presen�a feminina na Sele��o e o que ela pensava sobre isso: “Acredito na compet�ncia. N�o � porque � futebol feminino que s� mulher que tem de trabalhar nele, da mesma forma que n�o � s� porque � futebol masculino que deve haver s� homem no meio. Gostaria de ver uma mulher dirigindo time masculino, por exemplo. A modalidade � uma s�, futebol. O importante � todos estarem capacitados para desenvolv�-la”.
Por fim, perguntei a ela por onde passava a evolu��o do futebol feminino brasileiro. Aline foi enf�tica: “A maior diferen�a da �ltima Copa do Mundo para as outras foi a grande m�dia e os patrocinadores. Da� vem a massifica��o, todo o restante da cadeia vai se mobilizando, vai vendo a necessidade de se organizar melhor. As meninas veem o futebol feminino na TV, v�o querer praticar, buscar escolinhas, que v�o abrir mais espa�o para as meninas, e assim vai. A gente entra num ciclo virtuoso”.
A esperan�a � de que esse ciclo esteja sendo encaminhado no Brasil. Essa confian�a � compartilhada por Nina Abreu, que comanda o futebol feminino do Atl�tico, e B�rbara Fonseca, que chefia o departamento no Cruzeiro.
“O futebol feminino entrou em um caminho sem volta. Tenho boas expectativas pelo simples fato de termos uma mulher na gest�o da categoria dentro da CBF. A nomea��o � o exemplo pr�tico que a entidade nos d� de que uma era de preconceitos ficou pra tr�s. Aline tem uma vasta experi�ncia dentro da categoria, tanto em campo quanto na gest�o. Uma unanimidade”, diz Nina.
“A Aline � o nome mais apropriado para assumir qualquer pasta na CBF. A ideia que t�nhamos era de que ela fosse assumir a coordena��o das sele��es, mas o Rog�rio Caboclo (presidente) acabou criando uma nova, de desenvolvimento das competi��es nacionais, e o nome da mais alta compet�ncia � o dela. Tenho certeza absoluta que o futebol nacional vai ganhar muito e, como consequ�ncia, a Sele��o acaba ficando mais forte porque tem em suas bases competi��es de um n�vel melhor. Eles est�o entendendo o processo ideal para a evolu��o do futebol feminino. A escolha da Duda como coordenadora de sele��es tamb�m foi muito acertada”, afirmou B�rbara.
Que os deuses do futebol digam am�m!