
O cen�rio autodestrutivo come�ou com a negocia��o quase fechada com o armador Thiago Neves, passou pela desist�ncia na contrata��o do colombiano Sebasti�n Villa e culminou na not�cia de que Sampaoli teria dado um ultimato aos dirigentes alvinegros por causa dos dois meses de sal�rios atrasados.
Est� equivocado quem pensa que uma coisa nada tem a ver com a outra. Tem muito sim, mas talvez n�o como muita gente esteja pensando.
Tudo isso converge para uma s� palavra: respeito. Se ela fosse de fato exercida (dentro e fora de campo), muitos problemas seriam evitados. Respeito ao pr�ximo, respeito � vida.
Meu amigo Cl�udio Guimar�es foi quem me trouxe essa reflex�o, de como tem faltado respeito no futebol brasileiro de forma geral. Respeito ao torcedor, respeito � institui��o, respeito �s rela��es profissionais... Enfim, est� tudo interligado.
Muito foi falado sobre o caso Thiago Neves. Al�m de toda a complexidade de se contratar um jogador que j� se mostrou desrespeitoso com o Atl�tico enquanto rival e com clubes nos quais atuou, sem empatia at� com as v�timas de Brumadinho, o armador ainda vem de uma temporada muito ruim t�cnica e fisicamente.
Quer dizer: n�o havia argumento que sustentasse a contrata��o sob nenhum ponto de vista.
A torcida fez barulho – mais motivada pelas provoca��es dele ao Galo do que por crit�rios t�cnicos, � verdade – e a diretoria recuou.
Poucas horas depois, o imbr�glio em rela��o a Villa. O atacante colombiano est� afastado do Boca Juniors, acusado de agredir a ex-namorada Daniela Cort�s, segundo ela agress�es f�sicas e psicol�gicas sofridas ao longo de dois anos.
O caso ganhou maior repercuss�o ap�s o que teria sido o �ltimo epis�dio de viol�ncia, documentado por fotos e laudo m�dico. Villa ser� julgado pela Justi�a argentina. Ele tem contrato com o Boca at� 2023 e cl�usula de rescis�o de US$ 30 milh�es.
Mais uma vez, erro de avalia��o do corpo t�cnico e diretivo do alvinegro, de sequer negociar com um atleta que n�o est� afastado do Boca por um motivo qualquer.
Aqui vale uma reflex�o tamb�m a torcedores que foram �s redes sociais contemporizar: muitos que se indignaram com a possibilidade de vinda de Thiago Neves foram complacentes com a contrata��o de Villa.
Para desenhar a quem n�o entende o par�metro, segue uma declara��o do psic�logo Cl�udio Paix�o, que foi entrevistado pela equipe do Estado de Minas para um v�deo sobre a tentativa de volta ao futebol do goleiro Bruno – condenado pelo assassinato e oculta��o do cad�ver, em 2010, de Eliza Samudio, m�e de um de seus filhos.
“Quando estou no lugar do atleta, do artista, que s�o lugares de espet�culo, a vida � colocada como modelo. Quando uma pessoa que cometeu um crime, de repente, � colocada no lugar de �dolo, voc� passa a ideia de que � poss�vel conciliar. N�o � ideia de reden��o. Eu fiz algo extremamente grave, eu desrespeitei, eu violentei uma pessoa, e sou reconduzido ao lugar de fasc�nio, adora��o, admira��o, idolatria. � muito ruim porque vem o pacote inteiro, especialmente para quem come�a a naturalizar a viol�ncia. Come�a-se ent�o a copiar um modelo masculino de desrespeitar a mulher.”
Detalhe: o Brasil � um dos pa�ses com mais alto �ndice de feminic�dio, e estudos j� mostraram que os n�meros aumentaram durante a pandemia de COVID-19.
Nesse cen�rio b�lico totalmente extempor�neo junta-se uma poss�vel irrita��o de Sampaoli com sal�rios atrasados no clube. Essa sim, compreens�vel. Justific�vel. Esperada at�. Pois uma das condicionantes do treinador ao assumir qualquer clube � sal�rios em dia, uma exig�ncia que nem deveria ser necess�ria, por ser premissa de qualquer rela��o de trabalho.
O que nos devolve � seara do respeito.
No fim das contas, resta a constata��o de que toda essa autofagia s�bita no Atl�tico poderia ter sido evitada com um pouco de discernimento. Respeito. Mas aconteceu, e ficam as li��es para todo mundo: do torcedor ao presidente, passando por treinador e diretoria.