
O jogo contra o modesto time venezuelano, na noite de quarta-feira, foi apontado pelo pr�prio treinador como aquele em que ele poderia ser cobrado por uma exibi��o mais consistente do Galo.
Foi logo depois da derrota no cl�ssico com o Cruzeiro (1 a 0), no Mineir�o, no dia 12, que Cuca soltou a frase que hoje pesa sobre seus ombros. “Me cobre daqui a 10 dias se o Atl�tico n�o vai estar pronto para a Libertadores”, disse.
Pois ficou claro que o Atl�tico n�o est� pronto para a Libertadores.
Isso poderia (e at� deveria) ser encarado de forma mais natural, afinal, � preciso mesmo tempo para uma adapta��o entre t�cnico e equipe, especialmente porque chegaram novos jogadores ao grupo neste ano e principalmente porque a filosofia de trabalho de Cuca � diferente da de seu antecessor, Jorge Sampaoli.
Essa transi��o se tornou ainda mais complicada porque Cuca recebeu um grupo formado majoritariamente por atletas escolhidos pelo argentino, segundo o estilo de jogo que Sampaoli adotava.
Os mesmos investidores que apostaram alto no projeto Sampaoli n�o pensaram muito na continuidade da ideia ao contratar Cuca. E se paga um pre�o quando h� mudan�as assim. A Copa Libertadores, certamente, vai cobrar esse pre�o, por apresentar desafios logo de cara ao novo treinador.
O x desta quest�o foi justamente a responsabilidade que Cuca atraiu para si ao estipular tal prazo. Numa esp�cie de “sa�da pela direita” das cr�ticas pela m� apresenta��o diante do Cruzeiro, o t�cnico jogou toda a expectativa para esse tal 10º dia, o dia em que o time seria diferente. Pelo menos, um pouco melhor do que vinha sendo. N�o foi nem um, nem outro.
Talvez uma das virtudes de Cuca em sua primeira passagem pela Cidade do Galo foi que ele n�o chegou prometendo mundos e fundos.
O come�o, inclusive, foi muito ruim, perdendo as seis primeiras partidas em que dirigiu a equipe: estreou com o rev�s por 2 a 1 para o Botafogo, pela Copa Sul-Americana, e depois vieram 3 a 0 para o Coritiba, 3 a 2 para o Corinthians, 3 a 1 para o Botafogo (todas pelo Campeonato Brasileiro), 1 a 0 para o Botafogo (de novo pela Sul-Americana), e o 2 a 1 para o Cruzeiro, pelo Brasileiro, antes de vencer o Atl�tico-PR por 1 a 0 e conseguir respirar um pouco mais.
O contexto, contudo, era bem, mas bem diferente. Cuca chegava para substituir Dorival J�nior, que deixava o Galo ap�s a oitava derrota no Brasileiro (al�m de quatro vit�rias e tr�s empates) e amea�ado de rebaixamento.
O panorama era desolador. A equipe que ele recebia tinha como titulares Giovanni; Patric, Leonardo Silva, R�ver e Guilherme Santos; Richarlyson, Serginho, Tor� e Maicosuel; Andr� e Magno Alves. Com sua comiss�o t�cnica, Cuca teve de construir um trabalho praticamente do zero.
Desta vez, no entanto, ele pegou um grupo bem estruturado. Que necessitava apenas de ajustes pontuais para dar a perspectiva de bons frutos.
O problema � justamente este: com Sampaoli, o Atl�tico tinha for�a coletiva, proposta estabelecida de jogo, por�m pagava pelas falhas individuais – sobretudo nas finaliza��es. Era um time que sabia o que fazer com a bola at� a chegada � �rea. Como nem sempre traduzia esse volume em gols, acabava ficando vulner�vel defensivamente.
Com Cuca, o que era bom ficou ruim e o que era ruim ficou pior. O Atl�tico esbarra numa fragilidade coletiva que ecoa no rendimento individual dos jogadores, at� mesmo daqueles com potencial indiscut�vel.
Contribuiu para isso, entre outros fatores, o desejo imediato do treinador de mudar a cara do Galo. De mexer at� no que estava funcionando bem. Chegou ao ponto de mandar o zagueiro Igor Rabello a campo para atuar como centroavante, na partida contra a Caldense.
Pode ser que essa nova cara que Cuca queira dar ao alvinegro, uma hora, tenha �xito. Dificilmente ser� agora. Demanda tempo, o que a Libertadores n�o oferece a ele. E todos na Cidade do Galo j� deviam saber disso, inclusive Cuca.
Num cen�rio como esse, melhor n�o fazer promessas que n�o podem ser devidamente pagas. Fica a li��o.