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A blindagem para a volta de Cuca ao Atl�tico

Cuca � carism�tico, tem forte liga��o com o Galo, mas isso n�o confere a ele nenhuma licen�a especial, nenhum atenuante, diante da condena��o na Su��a


04/03/2021 19:27 - atualizado 05/03/2021 11:34

Cuca comandou o Atlético na conquista da Copa Libertadores de 2013 e anunciou sua saída durante o Mundial de Clubes
Cuca comandou o Atl�tico na conquista da Copa Libertadores de 2013 e anunciou sua sa�da durante o Mundial de Clubes (foto: Ivan Storti/Santos)
N�o sei em qual manual ou regulamento esportivo fizeram constar essa s�lida salvaguarda que rege h� anos o mundo do futebol, garantindo a seus personagens uma esp�cie de absolvi��o pr�via, total, irrestrita e absoluta (o pleonasmo aqui � proposital). Um tribunal que julga n�o quem esteve, em algum momento, envolvido em delito, e sim quem pede que o assunto seja tratado �s claras. Que atrela a uma ta�a ou � idolatria o carimbo da condescend�ncia incontest�vel.

O au� em torno da volta de Cuca ao Atl�tico – e o esfor�o que tem sido feito para limpar a barra do treinador, condenado, em 1989, por envolvimento sexual com uma menor de idade na Su��a – trouxe � tona debates que mostram (mais uma vez) como � preciso desvencilhar o futebol do machismo que est� arraigado nele.

Antes de tudo, vamos aos fatos. Cuca e mais tr�s jogadores do Gr�mio – o goleiro Eduardo Hamester, o zagueiro Henrique (que tamb�m jogou no Corinthians) e o atacante Fernando Castoldi – foram detidos na Su��a, em 30 de julho de 1987, durante uma excurs�o da equipe, e posteriormente julgados e condenados por envolvimento sexual com uma menina de 13 anos.

O caso ficou conhecido como o Esc�ndalo de Berna.

Eduardo e Henrique admitiram a rela��o com a jovem, assegurando, no entanto, que havia sido consensual. Fernando e Cuca sempre negaram participa��o.

Segundo as investiga��es, Fernando ficou vigiando a porta do quarto do hotel em que a delega��o ga�cha estava hospedada e acabou absolvido da acusa��o de ato sexual, mas considerado c�mplice.

Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados a 15 meses de pris�o e ao pagamento de US$ 8 mil cada. Os quatro j� estavam no Brasil na �poca do julgamento e nunca foram extraditados, protegidos pela lei brasileira.

Mat�ria da revista Placar de 24 de agosto de 1987 traz um relato dos dias que se seguiram � pris�o dos quatro atletas. A reportagem aponta que Cuca e Eduardo teriam induzido a garota � rela��o sexual e Henrique ao sexo oral.

Descreve o local onde o hoje treinador ficou detido: um castelo medieval transformado em pris�o, na cidade de Burgdorf, a 28km de Berna.

Na cela, livros (todos em alem�o), aparelhos de r�dio e TV: “Assisti � vit�ria de Nelson Piquet na Hungria”, contou aos advogados Cuca, ent�o com 24 anos. “Fiquei com a impress�o de que ela tinha 18 anos”, disse, a respeito da garota. Essa frase, para muitos, � o atestado da participa��o dele no caso.

Em mat�ria da revista Veja de 12 de agosto de 1987, a mulher de Cuca, Rejane, dizia acreditar na inoc�ncia do marido. “Ele � incapaz de qualquer viol�ncia, muito menos sexual.”

A reportagem conta que aquela era a primeira viagem internacional do armador, rec�m-contratado pelo clube ga�cho. O crime prescreveu em 2004 – o que n�o quer dizer que ele nunca existiu. E ficou abafado. At� Cuca dar seu aval para a contrata��o de Robinho pelo Santos, no ano passado, quando o atacante enfrentava condena��o, na It�lia, justamente por estupro coletivo.

Mensagens de telefone interceptadas pela pol�cia local indicam a participa��o de Robinho e a tentativa, dele e dos amigos, de descredibilizar a vers�o da v�tima.

O que muitos personagens do futebol n�o entendem � que, � luz da lei, esperamos, eles s�o iguais a qualquer um. Se cometem crimes, t�m de ser julgados. E, ao cometer crimes, como figuras p�blicas, deixam um p�ssimo exemplo a quem os idolatra.

Para todos eles, um mea-culpa ajudaria a humanizar a situa��o. Reconhecer o erro seria um passo digno, pra dizer o m�nimo. Era o que se esperava de Cuca quando ele “decidiu” se manifestar sobre o caso, nesta semana.

N�o foi o que ocorreu.

Cuca � carism�tico. Tem uma liga��o forte com o Galo, pela passagem feliz que teve no clube, mas isso n�o confere a ele nenhuma licen�a especial, nenhum atenuante, diante da condena��o na Su��a.

E olha que aqui est� uma jornalista que o admira como profissional.

A verdade � que se o mesmo fato fosse protagonizado por homens an�nimos, imagino que n�o haveria tantos defensores por a�. No futebol, as figuras s�o tratadas quase como semideuses, intoc�veis.

A m�o firme do julgamento alheio s� vale para desconhecidos ou desafetos. Isso sem contar os adeptos da vers�o de que a “mulher se ofereceu” e outras teorias chulas.

Nas �ltimas tr�s d�cadas, Cuca e os demais personagens do Esc�ndalo de Berna optaram pelo sil�ncio. E encontraram uma sociedade permissiva com esse tipo comportamento.

Hoje, a conscientiza��o em rela��o ao respeito ao pr�ximo cobra de todos postura bem diferente. Mais cristalina. Ainda est� em tempo, Cuca.

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