
Para alguns atleticanos, vai ficar na mem�ria como o “t�tulo mais f�cil de ganhar” que o time do Galo deixou escapar. Para os vasca�nos, a frustra��o de ter vivido da alegria da lideran�a ao desgosto do rebaixamento. Botafoguenses, certamente, v�o preferir nem guardar lembran�a alguma da competi��o em que terminaram como o pior dos piores, o lanterna, �ltimo colocado.
Mas o drama maior, meus caros, nunca esteve dentro das quatro linhas. A maior marca do Brasileiro de 2020 estar� do lado de fora dos est�dios: foi o campeonato em que a pandemia de COVID-19 derrotou, de goleada, um pa�s inteiro.
Eu sei que muita gente prefere que o futebol seja t�o somente o �pio do povo. Desconectado de qualquer fator extracampo. Um portal m�gico que leva a uma realidade paralela. Muitos o usam, at� mesmo, de cortina de fuma�a para encobrir desmandos. H� quem esteja nele para favorecer interesses pr�prios, contrariando a ess�ncia de um clube de futebol: a representa��o de muitos, e tantos, e diversos, unidos pelo simples prazer de torcer por uma camisa.
S� que neste Brasileiro de 2020 – que s� terminou na noite de 25 de fevereiro de 2021 – a torcida perdeu o brilho. Literalmente, ficou sem espa�o.
Desde o pontap� inicial, em 8 de agosto do ano passado, o campeonato teve arquibancadas vazias. Bandeiras est�ticas. Vozes artificiais. Gritos de gol mec�nicos ecoando pelas arenas, nascidos das m�os de um DJ e transportados pelos ares por alto-falantes.
Em tempos de mentiras institucionalizadas por governantes, nada al�m de mais uma “fake news”.
Os mais atentos v�o se lembrar que a competi��o come�ou sob protocolos esdr�xulos, considerados ferramentas para minimizar o potencial de cont�gio. N�o podia cuspir no campo. N�o podia abra�ar o companheiro na hora de um gol. N�o podia beijar a bola. Testagem em “massa”.
Nada disso adiantou. Surtos de COVID-19 foram registrados na maioria dos clubes. No Atl�tico, o v�rus ganhou uma m�ozinha da comiss�o t�cnica, que promoveu uma festa em meio � pandemia.
Na noite da primeira rodada, quando Fortaleza e Athletico-PR entraram em campo para se enfrentar no Castel�o, o Brasil tinha acabado de romper a casa das 100 mil mortes causadas pelo novo coronav�rus: para ser exata, 100.543 �bitos.
Naquele dia, eram mais de 3 milh�es de infectados (3.013.369, segundo informa��es das secretarias de Sa�de dos estados).
De l� at� o apito final que determinou o campe�o nacional, foram 201 dias, mais 150 mil mortos e mais de 7 milh�es de casos confirmados da doen�a.
No dia em que o capit�o rubro-negro ergueu a ta�a no Morumbi, o Brasil registrou seu pior momento da pandemia – que nesta sexta-feira (26/2) completa um ano no pa�s –, com recorde de mortes em 24 horas: 1.582.
Paralelamente a esse cen�rio aterrorizante, uma t�mida e sofrida campanha de vacina��o, que atingiu, at� agora, apenas 3% da popula��o.
Por isso, os campe�es que me desculpem, mas n�o d� para celebrar nada.
Nesse espa�o de pouco mais de seis meses, enquanto a bola rolava (meio quadrada, � verdade) pelos gramados de Norte a Sul do pa�s, milhares de brasileiros perdiam a vida de forma cruel.
N�o d� para normalizar a morte de 251.661 pessoas, tantas delas apaixonadas por futebol. N�o d� para achar que � do jogo 10.393.886 pegarem uma doen�a t�o trai�oeira, que pode ser fatal. O esporte n�o pode se prestar a esse papel desumano.
Futebol � paix�o descontrolada, sin�nimo de sorrisos, de reden��o. Mas, em 2020, n�o. O Campeonato Brasileiro n�o deve ser sin�nimo de alegria para ningu�m. N�o deve deixar outra lembran�a que n�o seja a desses macabros tempos.
Acha amargura demais? Infelizmente, � a nossa realidade. E sabe o que � pior? Essa partida que estamos disputando contra o novo coronav�rus n�o vai terminar em 90, 100 minutos. Nem na prorroga��o. E n�o tem disputa de p�naltis ou gol de ouro.
Essa peleja vai continuar. E pelo desprezo pela vida demonstrado pela autoridade maior do pa�s, ainda ficaremos assim por muito tempo. Com est�dios e cora��es vazios.