
Como o nosso assunto aqui � esporte, nada mais adequado do que centrar o questionamento em como ser� o cap�tulo destinado a essa �rea. Qual ser� o quinh�o de cada um nessa heran�a? Pol�ticos, dirigentes, atletas, ex-atletas, comiss�es t�cnicas dos clubes, m�dicos, jornalistas, torcedores... Voc� se orgulha da sua participa��o nesse roteiro?
Recorrendo � Hist�ria (essa, com o H mai�sculo), a gente v� como o esporte pode extrapolar o simples conceito de pr�tica esportiva e lazer – como vem sendo pregado por muitos por a� para justificar a volta dos campeonatos de futebol no Brasil.
Ele j� foi instrumento de manipula��o de massas. J� foi usado como distra��o pol�tica. J� serviu para segregar comunidades. � nosso dever n�o se curvar a isso mais uma vez, principalmente em meio a uma pandemia – e aqui vai a an�lise de uma jornalista e do papel que ela entende que tem perante a sociedade.
Com o cont�gio pelo novo coronav�rus ainda fora de controle no pa�s (e no mundo, conforme avalia��o da Organiza��o Mundial de Sa�de, embora em outros continentes a primeira onda do surto tenha sido superada) e diante do aumento no n�mero de casos e mortes, soa no m�nimo precipitado falar em mandar times a campo, para disputar competi��es.
� como se o futebol se desconectasse da realidade. Ou, ent�o, tentasse desconectar os outros da realidade.
De certa forma, nos remete a um desses momentos hist�ricos em que o esporte foi usado como um meio, e n�o um fim. Quase uma nova vers�o da pol�tica do P�o e Circo, adotada pelo imp�rio romano, em que a distribui��o de alimento e o entretenimento foram utilizados como ferramentas de estabilidade social, apaziguando os �nimos da camada mais pobre da popula��o diante da grande desigualdade da �poca.
Pense num grande diagrama de PowerPoint (como esses que ficaram famosos nos �ltimos tempos) para entender a conex�o que vem a seguir.
Desde os primeiros relatos de contamina��o pelo novo coronav�rus no Brasil, a Presid�ncia da Rep�blica prega uma “normalidade” no pa�s. Foi da “gripezinha” ao “isolem s� os idosos”.
De estreito relacionamento com dirigentes do Flamengo, a principal autoridade brasileira ganhou um aliado de peso nessa batalha. Um dos clubes de maior torcida do pa�s, com alcance mundial, se colocou na linha de frente para, em primeira inst�ncia, a volta do Campeonato Carioca – mesmo com o Rio de Janeiro imerso em uma das situa��es mais dram�ticas da pandemia.
Depois, veio o aval da Confedera��o Brasileira de Futebol (CBF), com seu presidente, Rog�rio Caboclo, em entrevista publicada pelo jornal O Globo no fim de semana, cravando o in�cio das s�ries A, B e C para o segundo fim de semana de agosto.
Por consequ�ncia, uma press�o se imp�s sobre as federa��es estaduais para que tamb�m retomassem seus campeonatos, caso queiram decidir o t�tulo em campo. Tipo assim: abriu a porteira para passar a boiada. No meio de uma pandemia, sempre importante frisar.
O governo de S�o Paulo, ent�o, autorizou a volta do Campeonato Paulista para o dia 22. Em Minas, a Federa��o Mineira de Futebol reafirmou o retorno do Estadual para o dia 26, embora o pico da COVID-19 no estado esteja previsto para o dia 15, e ningu�m saiba ao certo como estar� o cen�rio nas semanas subsequentes.
Num efeito cascata, o mesmo movimento, de retorno das competi��es, foi feito por federa��es e governantes do Sul (nessa quinta-feira ficou definido que o Ga�cho volta no dia 23) e do Nordeste.
Em mais uma tacada da CBF, foi divulgado o calend�rio revisado das competi��es, incluindo Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Nordeste. Tudo interligado. No meio de uma pandemia.
A coluna Tiro Livre j� mostrou como foi na Europa. Quanto tempo depois do pico da doen�a os campeonatos foram retomados. Aqui, em um pa�s com dimens�es continentais, parece que isso n�o tem sido levado muito em conta.
Nesse contexto, a disputa de competi��es n�o significa t�o somente a retomada de partidas de futebol. Significa uma naturaliza��o de toda a situa��o. Uma esp�cie de adormecimento social. Est�o morrendo pessoas, mais de 1 mil por dia em m�dia no Brasil. A doen�a ainda se espalha. Mas a bola tem de rolar, dizem. Ser� que tem mesmo?, pergunto.