
Goleiro n�o pode se abater. N�o pode se distrair. Se deixar levar por provoca��o de atacante ou de torcida � pecado mortal. E chorar? Bem, no caso de Everson, ele j� mostrou que goleiro pode sim, ser bom sob as traves e cora��o mole. Um sujeito que se emociona e, de quebra, emociona quem assiste � emo��o dele.
As l�grimas de Everson s�o quase um atestado do bom camarada que ele �. Do qu�o humano ele � - algo que, muitas vezes, � dissociado do jogador de futebol. N�o importa se o assunto � ou n�o futebol, e nunca o futebol � s� futebol, sempre se lembrem.
Dentro e fora de campo, o goleiro do Atl�tico e agora tamb�m da Sele��o Brasileira j� deu algumas provas disso. De como passado e presente s�o t�o entrela�ados e transparecem em sujeitos assim: transparentes.
A mais recente demonstra��o dessa simbiose veio nesta semana. Ao ser questionado sobre o orgulho do pai dele, ex-jogador de v�rzea, por v�-lo vestir pela primeira vez a camisa da Sele��o Brasileira, o goleiro n�o se conteve. Antes mesmo que o rep�rter terminasse a pergunta, deixou escapar as primeiras l�grimas, que em poucos segundos se transformaram naqueles suspiros profundos que brotam da alma.
Em frente �s c�meras, Everson transbordou. N�o por acaso. Ao evocar o passado do pai do goleiro na v�rzea, o rep�rter resgatou naquele homem de 31 anos lembran�as do menino que atuava como gandula nos campos de terra em Pindamonhangaba e olhava admirado para o grande �dolo dele.
"Eu quis ser goleiro vendo meu pai. Ele foi goleiro na v�rzea. Sempre pegava a bola para ele nos jogos e, nos intervalos, eu ia no gol e ele ficava chutando para mim. O meu pai nem luva tinha", contou. "Mas meu pai � meu maior �dolo no futebol, mesmo n�o sendo atleta profissional" disse Everson, emocionado e nos emocionando.
H� pouco mais de um m�s, em 20 de julho, o goleiro j� havia chorado, jogado no gramado no Mineir�o, pra quem quisesse ver. N�o havia torcida, mas os olhos eletr�nicos das c�meras de TV estavam l�, para mostrar ao mundo um hom�o de 1,92 metro ca�do no campo, m�os nos rosto, se debulhando em l�grimas depois de marcar um gol de p�nalti.
N�o foi s� por ter feito o gol que garantiu a vit�ria do Atl�tico sobre o Boca Juniors, pelas oitavas de final da Copa Libertadores. Aquele jogo teve o cen�rio t�pico para fazer de Everson um grande vil�o.
O goleiro alvinegro cometeu uma falha crassa em um gol dos argentinos no tempo regulamentar, que acabou anulado ap�s an�lise do �rbitro de v�deo (VAR). Foram sete minutos entre a bola morrer no fundo da rede do Galo e o gol ser invalidado. Longos sete minutos em que Everson foi levado ao purgat�rio do futebol. E de l� ressurgiu, para fazer outras grandes defesas, pegar dois p�naltis e cravar a classifica��o atleticana com o seu pr�prio gol.
"� o gol mais especial da minha carreira", comentou, deixando escapar algumas l�grimas ao falar sobre as pessoas que o fortalecem nos momentos dif�ceis, de cr�ticas: "Minha esposa e minha fam�lia. Estar aqui, disputando uma Libertadores, contra uma grande equipe, disputando t�tulo... Ter passado pelas quatro divis�es do futebol, tudo ao lado da minha fam�lia".
Voltando um pouco mais no tempo, chegamos a julho de 2019. Convidado de um programa de TV, mais uma vez ele n�o segurou a emo��o ao ver imagens de sua carreira, desde a base, no S�o Paulo; passando pelo Guaratinguet�, onde foi reserva; River-PI e Confian�a-SE, at� se destacar no Cear� e ser contratado pelo Santos.
Novamente, as l�grimas emolduraram as recorda��es.
Em todas essas ocasi�es, Everson exp�s o que ele foi e o que ele �. Uma unidade inviol�vel. Traduziu, em choro, tudo o que superou para chegar ao patamar em que est� hoje, quem esteve ao lado dele na caminhada e o orgulho de cada tijolo que colocou nessa constru��o. E cada choro dele o agiganta ainda mais. Do alto do seu 1,92m.