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Estado de Minas LUIZ CARLOS AZEDO

Livro do s�culo 20 levanta discuss�o sobre o Brasil daqui a 100 anos

As ideias de Oliveira Viana parecem renascer das cinzas, como f�nix, diante da interroga��o: que pa�s seremos daqui a 100 anos?


19/08/2020 04:00 - atualizado 19/08/2020 07:54

H� cem anos, o livro de um autor at� ent�o desconhecido, com 37 anos, fez estrondoso sucesso liter�rio e pol�tico: Popula��es meridionais do Brasil, de Oliveira Viana. Escrito entre 1916 e 1918, levou dois anos para ser publicado, pela livraria Jos� Olympio. Somente um intelectual da �poca ousou contest�-lo, Astrojildo Pereira, um dos grandes bi�grafos de Machado de Assis, jornalista, cr�tico liter�rio e anarquista, que se converteria ao marxismo e dois anos depois fundaria o Partido Comunista. O que dizia Viana? Ele definia tr�s arqu�tipos para o povo brasileiro: o sertanejo, o matuto e o ga�cho, os quais pretendia analisar, desenvolvendo um projeto de pesquisa ambicioso, ao qual deu sequ�ncia com a publica��o mete�rica de mais quatro ensaios: O idealismo da Constitui��o (1920), Pequenos estudos da psicologia social (1921), Evolu��o do povo brasileiro (1923) e O ocaso do imp�rio (1924). O primeiro volume de Popula��es meridionais do Brasil dedicou aos paulistas, fluminenses e mineiros; o segundo, ao campeador rio-grandense.  Partia do homem para criticar as institui��es da �poca.

“O sentimento das nossas realidades, t�o s�lido e seguro nos velhos capit�es gerais, desapareceu, com efeito, das nossas classes dirigentes: h� um s�culo vivemos praticamente em pleno sonho. Os m�todos objetivos e pr�ticos de administra��o e legisla��o desses estadistas coloniais foram inteiramente abandonados pelos que t�m dirigido o pa�s depois da independ�ncia. O grande movimento democr�tico da Revolu��o Francesa; as agita��es parlamentares inglesas; o esp�rito liberal das institui��es que regem a rep�blica americana, tudo isto exerceu e exerce sobre nossos dirigentes, pol�ticos, estadistas, legisladores, publicistas, uma fascina��o magn�tica que lhes daltoniza completamente a vis�o nacional dos nossos problemas. Sob esse fasc�nio inelut�vel, perdem a no��o objetiva do Brasil real e criam para uso deles um Brasil artificial e peregrino, um Brasil de manifesto aduaneiro, made in Europa, sorte de Cosmorama extravagante. Sobre o fundo de florestas e campos, ainda por descobrir e civilizar, passam e repassam cenas e figuras tipicamente europeias.”

Oliveira Vianna faz um ataque frontal aos liberais brasileiros, corroborado pela iniquidade social que havia sido desnudada por Euclides da Cunha, ao descrever a guerra de Canudos, n’Os sert�es. Conclu�a que era preciso “coragem infinita” para “contravir ostensivamente �s ideias de liberdade e construir um poderoso Estado centralizado, capaz de impor-se a todo o pa�s pelo prest�gio fascinante de uma grande miss�o nacional”. Ao dizer que era imposs�vel reproduzir aqui no Brasil o parlamentarismo ingl�s, o liberalismo democr�tico � francesa, ou o federalismo e descentraliza��o republicana ao estilo americano, como lembra o falecido jornalista e cientista pol�tico Gildo Mar�al Brand�o, em Linhagens do pensamento pol�tico brasileiro (Hucitec), Oliveira Viana recomendava uma interven��o radical pelo Estado, destinado a promover a industrializa��o e cria��o de bases sociais aptas a sustentar governos liberais, o que alguns viram como uma esp�cie de “autoritarismo instrumental”.

Estado Novo

M�sica para a jovem oficialidade do Ex�rcito, que daria in�cio �s rebeli�es tenentistas, e para o castilhismo ga�cho, o suprassumo do nosso republicanismo positivista mais autorit�rio, que desaguariam na Revolu��o de 1930. A consagra��o das ideias antissistema de Oliveira Viana viria com o Estado Novo, do qual foi o grande ide�logo, e a “Polaca”, a Constitui��o de 1937, redigida por Francisco Campos e outorgada pelo ditador Get�lio Vargas. Ironicamente, Jorge Caldeira, em Hist�ria da riqueza no Brasil (Esta��o Brasil), destaca que o colapso pol�tico da Rep�blica Velha interrompe mudan�as importantes que estavam em curso, alavancadas por nosso mercado interno e a economia do sert�o, como o aumento de rentabilidade da exporta��o de caf�,  a grande acumula��o de capital dos cafeicultores paulistas, que apostaram na industrializa��o, e n�o no patrimonialismo, ao contr�rio das oligarquias rurais que Viana enaltecera.

Segundo Caldeira, em 1920, o Brasil tinha 30 milh�es de habitantes, 13,3 mil ind�strias, 275 mil oper�rios,  produzia 775 Gwh de energia el�trica. O Correio transportava 642 milh�es de itens. Havia 28,5 mil quil�metros de ferrovias, que transportavam 16,5 milh�es de toneladas. Os investimentos, estagnados durante a guerra, eram de 1,1 milh�o de libras esterlinas e chegariam a 2,8 milh�es, em 1929. Exportava-se 11,5 milh�es de sacas de caf�, cujo rendimento era de 40,4 milh�es de libras esterlinas. O percentual da popula��o alfabetizada chegava a 28,8%. Era uma �poca em que o Estado arrecadava 6% do PIB, ou seja, o setor privado ficava com 94%. A Uni�o era respons�vel por 3,5% desse montante, os Estados com 2,% e e os munic�pios com 0,5%. O pa�s crescia gra�as ao desenvolvimento capitalista, a conex�o entre a economia do sert�o e a economia de exporta��o financiava a industrializa��o.

Entretanto, o centen�rio da Independ�ncia desencadearia o questionamento de quase tudo, com a Semana de Arte Moderna, a cria��o do Partido Comunista, as rebeli�es tenentistas, como a Revolta Paulista de 1924 e a Coluna Prestes, no mesmo ano. Qual seria o projeto de pa�s para os 100 anos seguintes? � �poca, esse debate foi hegemonizado pelas ideias de Oliveira Viana, que tiveram sua grande recidiva ap�s o golpe de 1964, no Sesquicenten�rio da Independ�ncia, no auge “milagre econ�mico” do regime militar. Agora, no governo Bolsonaro, a dois anos do Bicenten�rio da independ�ncia, elas parecem renascer das cinzas, como f�nix, diante da grande interroga��o: que pa�s seremos daqui a 100 anos?.

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