
O presidente Jair Bolsonaro, nessa ter�a-feira (3), nas redes sociais, voltou a apostar todas as fichas na reelei��o do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, al�m de denunciar suposta interfer�ncia externa na pol�tica norte-americana, sem dizer de quem.
Ao mesmo tempo, o mundo aguarda em suspense o resultado do pleito, no qual o democrata Joe Biden � favorito nas pesquisas de opini�o. Como escrevo antes da contagem dos votos, vou aguardar o resultado final; mesmo que, eventualmente, o presidente Trump autoproclame a sua vit�ria, na festa que organizou na Casa Branca para 400 convidados.
Ao mesmo tempo, o mundo aguarda em suspense o resultado do pleito, no qual o democrata Joe Biden � favorito nas pesquisas de opini�o. Como escrevo antes da contagem dos votos, vou aguardar o resultado final; mesmo que, eventualmente, o presidente Trump autoproclame a sua vit�ria, na festa que organizou na Casa Branca para 400 convidados.
Aqui no Brasil, ter�amos o resultado final da elei��o, com precis�o, no �ltimo dia de vota��o, gra�as � urna eletr�nica, � prova de fraudes, nossa melhor jabuticaba pol�tica, testada e aprovada. Nos Estados Unidos, com um sistema de vota��o anacr�nico, que leva v�rios dias, inclusive com voto por correspond�ncia, a apura��o � mais complicada. Pode at� gerar uma crise institucional se Trump se declarar eleito e, depois, a contagem dos votos mostrar que o vitorioso � Baden. Como se sabe, o fato de o presidente ser eleito num col�gio de delegados dos estados permite, inclusive, que o vitorioso n�o seja o mais votado nas urnas.
No dia da elei��o, a maioria dos chefes de Estado manteve sil�ncio obsequioso sobre o pleito. Os l�deres das democracias ocidentais, por�m, torcem pelo democrata Biden, quando nada porque s�o confrontados pelo republicano Trump em todos os f�runs internacionais, at� mesmo na Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte (Otan), o pacto de defesa do Ocidente. Entretanto, ningu�m pode acusar Bolsonaro de incoer�ncia. Como disse o chanceler Ernesto Ara�jo, com a atual pol�tica externa, o Brasil optou por ser “um p�ria” no cen�rio mundial. Sem Trump, por�m, essa linha de atua��o se tornar� insustent�vel, devido ao isolamento diplom�tico quase absoluto. Somente os governos de extrema-direita, como o de Victor Orban, na Hungria, e os tiranos �rabes mais sanguin�rios restar�o como aliados do Brasil nos f�runs internacionais se Biden vencer o pleito.
A n�o ser que Bolsonaro se reposicione. O alinhamento autom�tico com os Estados Unidos, de imediato, n�o muda o posicionamento do Brasil nas cadeias de com�rcio mundial, nas quais nosso principal parceiro � a China. A ideia de um acordo de livre-com�rcio com os Estados Unidos, grande aposta de Ara�jo e do ministro da Economia, Paulo Guedes, n�o � exequ�vel a curto prazo. N�o era com Trump, muito menos com Biden. No segundo caso, para avan�ar nessa dire��o, o Brasil teria que mudar radicalmente sua pol�tica interna em rela��o aos direitos humanos e ao meio ambiente, al�m do posicionamento nos f�runs internacionais em rela��o aos mesmos temas.
Momento dif�cil
Um momento de viragem na pol�tica norte-americana ilustra uma situa��o desse tipo: a elei��o do presidente Jimmy Carter, que governou de 1977 a 1981. No seu governo, o Departamento de Estado deu uma guinada em rela��o �s ditaduras da Am�rica do Sul, todas implantadas com forte apoio norte-americano. Carter pressionou muito o governo do general Ernesto Geisel por causa das torturas e dos assassinatos de oposicionistas nos quart�is, o que ajudou a oposi��o a vencer as elei��es de 1978 e resultou na anistia de 1979. Como naquela ocasi�o, a vit�ria de Biden pode ser um momento de viragem na pol�tica brasileira. Bolsonaro tem dificuldades para aceitar essa mudan�a, mas em torno dele esse assunto est� em pauta, haja vista as declara��es do vice-presidente Hamilton Mour�o, que manteve dist�ncia regulamentar das elei��es norte-americanas.
Um outro fator recomenda mais cautela de Bolsonaro quanto ao resultado do pleito: a nossa situa��o econ�mica. O Pal�cio do Planalto se prepara para uma segunda onda da pandemia de coronav�rus da pior forma poss�vel, ao fomentar d�vidas quanto � efic�cia e necessidade das vacinas contra o COVID-19, o que � p�ssimo. Tamb�m empurra as reformas com a barriga para n�o contrariar interesses corporativos e empresariais. A base parlamentar do governo retarda a aprova��o do Or�amento da Uni�o para n�o ter que anunciar cortes de despesas antes das elei��es. O ministro da Economia, Paulo Guedes, sonha com a prorroga��o da “economia de guerra” para 2021, com o prop�sito de agradar ao presidente Bolsonaro e criar o Renda Cidad�. � uma aposta de jogador compulsivo, que perde todos os bens e a fam�lia, acreditando na sorte grande.
O governo n�o tem prioridades, se movimenta de forma err�tica. A d�vida p�blica brasileira, que j� se aproxima de 100% do PIB, est� sendo rolada a prazo de dois anos, com juros acima de 4,5%, o que � muito perigoso. Se a estrat�gia do governo for prorrogar a “economia de guerra” por mais seis meses, a infla��o vai disparar e a d�vida p�blica crescer� mais ainda, vertiginosamente. Ontem, houve uma reuni�o dos governadores com o presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para discutir uma estrat�gia de vacina��o contra a COVID-19, maneira de evitar uma segunda onda da pandemia no Brasil e evitar a prorroga��o da “economia de guerra”. Quem deveria estar liderando isso � o Minist�rio da Sa�de.