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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Bolsonaro � um cisne negro na politica brasileira

''Beneficia-se do fato de que qualquer governo � a forma mais concentrada de poder: arrecada, normatiza e coage''


28/11/2021 04:00 - atualizado 27/11/2021 22:17

presidente Jair Bolsonaro discursa em cerimônia na Academia Militar das Agulhas Negras neste sábado 27/11
''O presidente Jair Bolsonaro � um cisne negro na pol�tica brasileira. Sua elei��o era altamente improv�vel, mas aconteceu'' (foto: Clauber Cleber Caetano/PR)
O escritor Nassim Nicholas Taleb � um liban�s que resolveu escrever sobre probabilidades e incertezas ap�s deixar o emprego de “trader” de derivativos na Bolsa de Chicago. Seu livro “A l�gica do Cisne Negro” (Beste Seller) faz muito sucesso entre os executivos, porque trata de eventos raros e da necessidade de estar preparado para lidar com eles.

O t�tulo do livro decorre do fato de que todos os cisnes eram brancos, at� a “descoberta” da Austr�lia. A novidade do cisne negro foi uma demonstra��o da fragilidade do conhecimento humano. O presidente Jair Bolsonaro � um cisne negro na pol�tica brasileira. Sua elei��o era altamente improv�vel, mas aconteceu. O mesmo ainda pode se repetir em 2022.

O Cisne Negro existia, antes de ele ter sido visto pela primeira vez por um explorador do Ocidente. Taleb destaca que eventos dessa ordem ocorrem com muito mais frequ�ncia, mas n�o estamos preparados para perceb�-los. Depois que tomamos conhecimento deles, buscamos explica��es que muitas vezes s�o fantasiosas, porque isso � melhor do que admitir que n�o estamos entendendo nada. Nossas opini�es formadas sobre tudo, como diz a can��o, nos impedem de compreender o que contraria aquilo em que acredit�vamos.

Taleb trabalha com dois conceitos criados por ele, digamos, s�o “tipos ideais”, � moda de Max Weber. O primeiro � o “mediocrist�o”, que se baseia na m�dia de eventos observados; o segundo, o “extremist�o”, aquelas coisas que n�o seguem t�m um padr�o. Por isso, a racionalidade pode virar uma armadilha diante de situa��es imprevis�veis. Cisnes Negros s�o os eventos que causam grandes transforma��es cognitivas.

No chamado “mediocrist�o”, os fatos imprevistos s�o control�veis, seu impacto n�o altera significativamente a m�dia; no “extremist�o”, n�o, o impacto sai do controle, porque extrapola o aspecto f�sico e muda o comportamento. A elei��o de Bolsonaro mudou o comportamento das pessoas. Em todo lugar, nos surpreendemos com o ativismo pol�tico de gente que at� ent�o n�o queriam saber de pol�tica. � assim na fam�lia, entre colegas de trabalho e nos mais diversos ambientes sociais.

A ascens�o de Bolsonaro � presid�ncia teve um impacto na vida nacional que est� muito fora da curva, em todas as �reas. Nas pol�ticas p�blicas, isso fica mais evidente diante dos indicadores de sua gest�o, que confrontam os paradigmas at� ent�o consensuais na sociedade.

S�o os mortos da pandemia de COVID-19, a queda de participa��o nos exames do Enem, o aumento vertiginoso das vendas de armas, as taxas de morte no tr�nsito, os �ndices de desmatamento etc. A transgress�o � ordem estabelecida � estimulada de cima para baixo, em toda a franja da economia formal, das mil�cias de Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, aos garimpeiros do Rio Madeira, no Amazonas.

Forte nos grot�es

� um erro imaginar que Bolsonaro deixou de ser um cisne negro nas elei��es de 2022. N�o morreu nem mudou de plumagem. Os levantamentos apontam o favoritismo do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, a n�o aprova��o do governo federal, a alta rejei��o do presidente da Rep�blica, seu confinamento ao eleitorado mais conservador e diretamente beneficiado por suas decis�es de car�ter ideol�gico ou econ�mico. Entretanto, Bolsonaro continua sendo um cisne negro, porque estrategicamente n�o se sente derrotado.

Beneficia-se do fato de que qualquer governo, mesmo o mau governo, � a forma mais concentrada de poder: arrecada, normatiza e coage. E usa em benef�cio pr�prio a m�o pesada do Estado, no limite de suas possibilidades. Bolsonaro resolveu implementar na marra sua agenda de costumes e ideol�gica, em todos os �rg�os do governo, para agradar sua base eleitoral, que est� sendo fortemente assediada pela pr�-candidatura do ex-ministro da Justi�a S�rgio Moro, que pode tomar-lhe o lugar de cisne negro nas elei��es do pr�ximo ano.

A alian�a de Bolsonaro com o Centr�o � uma for�a eleitoral robusta. A chave da preserva��o dos seus redutos eleitorais nos grot�es do pa�s � essa associa��o com o Centr�o, particularmente no Nordeste. A tradu��o dessa alian�a � o chamado “or�amento secreto”, que chega a R$ 30 bilh�es em emendas parlamentares ao Or�amento da Uni�o, com destina��o n�o-esclarecida at� agora.

O esquema parlamentar encabe�ado pelo presidente da C�mara, Benedito Lira (PP-AL), � a reencarna��o do velho coronelismo patrimonialista. Pesquisas de opini�o n�o captam com precis�o o comportamento dessa fatia do eleitorado, principalmente nas cidades com menos de 50 mil habitantes, que est�o sendo alcan�adas por Bolsonaro por meio de uma cadeia de pequenas r�dios do interior sob controle do governo e das igrejas evang�licas.

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