
� dif�cil entender a tese de que o presidente Luiz In�cio Lula da Silva n�o ampliou o suficiente a coaliz�o de governo. Nesta quarta (28), sinalizou que entregar� tr�s minist�rios ao PSD e tr�s minist�rios ao Uni�o Brasil, al�m dos tr�s que j� negociou com o MDB. Igualmente � incompreens�vel a tese de que “o centro est� na periferia do governo”. MDB, PSD e Uni�o Brasil est�o onde sempre estiveram, quem est� se deslocando em dire��o ao centro e at� um pouco al�m � o presidente Lula, tudo com objetivo mais do que justo de garantir apoio no Congresso e neutralizar o golpismo de Bolsonaro.
Lula ganhou a elei��o por uma estreita margem de votos, lida com uma oposi��o de rua enfurecida e perigosa, que j� come�a a registrar a��es terroristas; e enfrenta uma situa��o econ�mica delicada, por causa de um governo que gastou o que tinha e o que n�o tinha para tentar a vencer as elei��es. Administra tens�es com as For�as Armadas que surpreendem pela atitude de alguns comandantes, que se recusam a reconhecer o novo Comandante Supremo, embora tenham se submetido �s loucuras de Bolsonaro por uma quest�o de disciplina e hierarquia. Um deles chegou a dizer aos colegas que bastava uma ordem de Bolsonaro para impedir a posse de Lula.
Vivemos um ambiente que representa um retrocesso pol�tico, o maior desde a redemocratiza��o, com a elei��o de Tancredo Neves em 1985. Lembra o clima pol�tico �s v�speras da posse de Juscelino Kubitschek, em 1955, quando o general Henrique Teixeira Lott impediu o golpe militar que setores conservadores das For�as Armadas e lideran�as da UDN armavam para impedir a posse do presidente eleito e seu vice Jo�o Goulart, vencedores da elei��o de outubro daquele ano.
Durante a campanha, os ataques do udenista Carlos Lacerda contra JK, chamando-o de corrupto e amoral, n�o impediram a vit�ria do pol�tico mineiro, com 36% dos votos sobre seus oponentes: o militar Juarez T�vora (UDN/PDC/PSB/PL), com 30%, Ademar de Barros (PSP), com 26%, e o integralista Pl�nio Salgado (PRP), com 8%, em 3 de outubro de 1955. Naquela �poca n�o havia segundo turno, o que abria espa�o para questionar a legitimidade de sua vit�ria, j� que seus advers�rios estavam todos � direita. E juntos tiveram 64% dos votos.
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Delirante, Lacerda mentia em seus artigos na Tribuna de Imprensa (RJ), para deixar a classe m�dia em p�nico. Dizia que Jango, com a ajuda do argentino Per�n, do PCB e do dinheiro “esp�rio” de JK, contrabandeava um arsenal b�lico da Argentina para “implantar a ditadura sindicalista” no Brasil. Um m�s ap�s a vit�ria da chapa JK-Jango, o coronel Jurandir Bizarria Mamede, ligado � Escola Superior de Guerra, no enterro do general Canrobert Pereira da Costa (chefe do Estado-Maior das For�as Armadas e ent�o presidente do Clube Militar), defendeu o golpe militar contra a posse dos eleitos, que se realizaria no in�cio de 1956. Mamede questionava a legitimidade das elei��es e “a corrup��o e a fraude dos oportunistas e totalit�rios que se arrogam no direito de oprimir a Na��o nessa mentira democr�tica”.
Contragolpe
Um dia antes da posse de Ramos, o general Lott comandou 25 mil homens, que, em poucas horas, tomaram os pontos estrat�gicos do Rio, ent�o Distrito Federal. Lott divulgou uma nota direcionada aos comandantes militares exigindo “o retorno da situa��o aos quadros normais de regime constitucional vigente”. O general garantia a posse de Ramos, que se comprometeu em assegurar a legalidade. No dia 11 de novembro, o Congresso votou o impedimento de Carlos Luz, que acompanhado de Carlos Lacerda, coronel Bizzaria Mamede e parte do Minist�rio se refugiaram no navio Tamandar�.
Os golpistas pretendiam estabelecer um governo paralelo em S�o Paulo com o apoio do governador J�nio Quadros, mas o plano fracassou. Amedrontado, Lacerda tentou fugir do pa�s mesmo com as garantias de sua imunidade parlamentar. Buscou abrigo nas embaixadas de Peru e Cuba, que lhe forneceu asilo pol�tico. Antes do embarque para Cuba, ainda sob o jugo de Fulgencio Batista, derrubado em 1959 pela Revolu��o, o deputado escondeu-se durante tr�s dias em uma caixa-d’�gua seca.
O presidente assumiu em 1956 e o general Lott foi seu ministro da Guerra. Em janeiro de 1959, Lott abandonou a caserna e foi transferido para a reserva remunerada como marechal. A popularidade conquistada em novembro de 1955 garantiu sua nomea��o como candidato na elei��o de 1960, com Jango como vice. Como as elei��es a presidente e vice eram separadas, J�nio Quadros venceu a elei��o e Jango tamb�m, mas essa j� � outra hist�ria.