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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Parceria com a China pode estressar rela��o com EUA

'Quando Lula se prop�e � forma��o de um clube de pa�ses para negociar paz entre R�ssia e Ucr�nia, com apoio de Xi Jinping, p�e em risco rela��es com Joe Biden'


26/03/2023 04:00 - atualizado 26/03/2023 07:34

Esta foto aérea tirada em 13 de fevereiro de 2023 mostra contêineres no porto de Haikou, na província de Hainan, no sul da China.
Porto de Haikou, no Sul da China (foto: China Out/AFP)
O presidente Luiz In�cio Lula da Silva adiou sua viagem para a China, com uma comitiva de 200 empres�rios e uma delega��o pol�tica da qual faz parte o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Na l�gica geopol�tica do chamado “Sul global”, as rela��es com presidente Xi Jinping s�o as mais importantes para a diplomacia brasileira, por�m, qualquer aproxima��o que possa ser interpretada como uma alian�a principal podem estremecer as rela��es do Brasil com os Estados Unidos, cujo apoio foi decisivo para respaldar a elei��o de Lula, garantir sua posse e frustrar a  tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro. O adiamento �  uma oportunidade de refletir sobre seus objetivos.

O Brasil est� entre dois polos de atra��o da geopol�tica global. A China hoje � o nosso principal parceiro comercial, para o qual exportamos algo em torno de US$ 88 bilh�es, enquanto importamos US$ 47 bilh�es, com um super�vit da balan�a comercial de US$ 41 bilh�es. Em contrapartida, importamos US$ 39 bilh�es dos Estados Unidos, para os quais exportamos US$ 31 bilh�es, um d�ficit comercial de US$ 8 bilh�es. Ocorre que o valor agregado de nossas exporta��es para a China � muito baixo, enquanto os produtos chineses est�o matando a ind�stria nacional, quem perdeu tamb�m seu mercado para os chineses na Am�rica do Sul.

� preciso levar em conta o contexto em que isso ocorre. O eixo do com�rcio mundial se deslocou do Atl�ntico para o Pac�fico. Nossa infraestrutura foi montada originalmente em conex�o com a Europa e os Estados Unidos; agora, est� sendo lentamente convertida para se integrar ao Pac�fico, mas a barreira dos Andes encarece os custos log�sticos. At� 2007, o Brasil acompanhou o boom da demanda mundial, na esteira da desvaloriza��o cambial. A partir da crise de 2008, a ind�stria brasileira sucumbiu � concorr�ncia internacional, aos aumentos de custo de produ��o em reais (principalmente sal�rios) e � forte aprecia��o do c�mbio nominal e real.

A expans�o de PIB observada no p�s 2008 foi toda baseada em servi�os n�o sofisticados e constru��o civil (quadro t�pico de doen�a holandesa). A demanda por bens industriais foi totalmente suprida por importa��es. Houve enorme perda de complexidade produtiva. A produtividade da economia caiu e continuar� caindo, at� que as manufaturas dom�sticas se recuperem. A desvaloriza��o cambial de 2015 n�o produziu a reconstru��o do setor de bens com maior valor agregado.

A tentativa de adensar as cadeias produtivas verticalizando-as, em vez de integr�-las de forma complementar �s cadeias globais de valor, provocou a perda de produtividade e competitividade da nossa ind�stria. Nos �ltimos 20 anos, os produtos minerais e agropecu�rios ultrapassaram em tr�s vezes o valor das exporta��es de bens de baixa, m�dia e alta complexidade.

A principal causa � o com�rcio com a China, que triplicou o valor de nossas exporta��es, mas confinou o Brasil � voca��o natural de exportador de min�rios e produtos agr�colas na nova divis�o internacional do trabalho.

Guerra fria

A expans�o do com�rcio com a China � global. Seu principal parceiro comercial s�o os Estados Unidos, que exportaram tecnologia e empregos para a pot�ncia asi�tica, da qual passaram a importar toda sorte de produtos, desde os mais prim�rios aos eletr�nicos de �ltima gera��o e  redes sociais. A perda cont�nua de mercado para os chineses, inclusive no seu pr�prio mercado interno, provocou a rea��o pol�tica e militar dos Estados Unidos contra a expans�o da influ�ncia chinesa no mundo.

Esse cen�rio havia sido previsto por Henry Kissinger, o negociador do restabelecimento das rela��es entre os dois pa�ses durante o governo Nixon, no seu livro Sobre a China (Objetiva), cujo final � muito perturbador. O ex-secret�rio de Estado norte-americano assinala que o s�culo passado foi pautado por uma disputa pelo controle do com�rcio no Atl�ntico entre uma pot�ncia continental, a Alemanha, e uma pot�ncia mar�tima, a Inglaterra, que provocou duas guerras mundiais. Segundo ele, com a mudan�a de eixo do com�rcio para o Pac�fico, essa  disputa est� se repetindo neste s�culo, entre os Estados Unidos, uma grande pot�ncia mar�tima, e a China, a pot�ncia continental emergente. Como isso se resolver�?

O mundo unipolar liderado pelos Estados Unidos ap�s a dissolu��o da Uni�o Sovi�tica, cujo auge foi o per�odo entre as guerras da S�rvia (Balc�s) e do Iraque (Oriente M�dio), deixou de existir com a emerg�ncia da China. Entretanto, o que est� surgindo n�o � um mundo multipolar, como vinha se desenhando, com o fortalecimento da Alemanha e da Fran�a na Uni�o Europeia e a forma��o dos Brics (Brasil, R�ssia, �ndia, China e �frica do Sul). Com a brutal invas�o da Ucr�nia pela R�ssia, em resposta � expans�o da Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte, instalou-se no mundo um novo clima de “guerra fria". A ocupa��o de parte do territ�rio ucraniano se tornou o palco de uma “guerra por procura��o” entre a OTAN e a R�ssia.

Quando Lula se prop�e � forma��o de um clube de pa�ses n�o envolvidos na guerra para negociar a paz entre a R�ssia e a Ucr�nia, para o qual pleiteia o apoio do presidente chin�s Xi Jinping, p�e em risco suas excelentes rela��es com o presidente Joe Biden. A Ucr�nia n�o quer um cessar-fogo com os russos ocupando a regi�o de Donbass, nem os russos aceitam sair com a OTAN na sua fronteira.

A R�ssia e a China formaram uma alian�a euro-asi�tica, de car�ter autorit�rio, que se contrap�e � hegemonia norte-americana. De dimens�es continentais, o Brasil � uma democracia  emergente do Ocidente. Em termos geopol�ticos, seria um equ�voco envolver o Atl�ntico Sul nessa disputa, n�o apenas por raz�es comerciais, porque isso tornaria inevit�vel a sua militariza��o pelas pot�ncias do Ocidente, numa conjuntura de “guerra fria”.

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