
O ministro da Justi�a, Fl�vio Dino, anunciou ontem que o ex-policial militar �lcio Queiroz fez dela��o premiada e confessou sua participa��o no assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ). No depoimento, o miliciano carioca revelou que a execu��o foi feita pelo policial militar reformado Ronnie Lessa. �lcio tamb�m denunciou a participa��o do ex-bombeiro militar Maxwell Sim�es Corr�a, que foi preso pela Pol�cia Federal. Condenado a 4 anos de pris�o em 2021, por atrapalhar as investiga��es sobre o crime, “Suel” cumpria a pena em regime aberto.
R�u pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, Queiroz foi convencido a fazer colabora��o premiada ap�s desconfiar de Ronnie Lessa, apontado como seu comparsa no crime. Os dois est�o presos em Rond�nia e v�o a j�ri popular pelas execu��es. �lcio descobriu que Lessa mentiu e, com a quebra da confian�a, decidiu fazer a dela��o. � um caso t�pico de “dilema do prisioneiro”, no qual um dos acusados confessa por desconfiar de que ser� acusado pelo outro.
O caso Marielle est� envolto em mist�rios desde quando as investiga��es foram iniciadas. Os atuais respons�veis pela investiga��o das mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes afirmam que a investiga��o do caso avan�ou com a pris�o do ex-bombeiro Maxwell Sim�es Corr�a, o Suel, ontem, e com a homologa��o de um acordo de dela��o premiada com �lcio Queiroz. De acordo com o diretor-geral da Pol�cia Federal, Andrei Rodrigues, Suel atuou na “vigil�ncia” e “acompanhamento” da vereadora.
“Um pacto de sil�ncio foi rompido. Estamos buscando e oferecendo repostas de um crime emblem�tico”, disse F�bio Cardoso, promotor de Justi�a, que participa da investiga��o do caso. N�o est� descartado o envolvimento de outras pessoas no caso, principalmente no �mbito intelectual do crime. Suel, Queiroz e Lessa faziam parte de um grupo de assassinos de aluguel ligados ao chamado “Escrit�rio do Crime”. Na dela��o premiada, Queiroz disse que o sargento da Pol�cia Militar Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macal� e executado em 2021, foi o intermedi�rio entre a "miss�o" da execu��o de Marielle e Ronnie Lessa.
H� pelo menos 13 assassinatos em que os integrantes do chamado "Escrit�rio do Crime" s�o suspeitos de participa��o, entre os quais os de Marielle e Anderson. O grupo de exterm�nio cobrava entre R$ 1 milh�o a R$ 1,5 milh�o por cada execu��o. A vigil�ncia das v�timas chegava a durar at� sete meses, muitas vezes com uso de drones. O grupo de execu��o era formado por policiais, ex-policiais e milicianos, que foram alvo da Opera��o T�natos, deflagrada pela Pol�cia Civil e o Minist�rio P�blico do Rio de Janeiro (MPRJ) em 2020.
O ex-capit�o do Bope Adriano Magalh�es da N�brega, o capit�o Adriano, era apontado como chefe do grupo de exterm�nio. Supostamente, possuiria cerca de 300 im�veis em Rio das Pedras e Muzema, na Zona Oeste do Rio. Apontado pelo Minist�rio P�blico do Rio (MPRJ) como dono da mil�cia da regi�o, Adriano foi morto em fevereiro de 2020, em um s�tio no interior da Bahia, em confronto com policiais.
Milicias e rachadinhas
Den�ncia do Minist�rio P�blico acusou o miliciano Adriano da N�brega de fazer parte do esquema da "rachadinhas" na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo a investiga��o, em 2007, o ent�o deputado estadual Fl�vio Bolsonaro nomeou Danielle Mendon�a da Costa, mulher do ex-policial militar Adriano, sua assessora parlamentar. O caso se tornou uma dor de cabe�a para o ent�o rec�m-eleito presidente Jair Bolsonaro, mas o caso das “rachadinhas” foi arquivado pelo Tribunal de Justi�a do Rio em maio deste ano.
A Justi�a considerou que o processo n�o deveria estar nas m�os do juiz que cuidava do caso, porque Fl�vio tem foro privilegiado. A pedido da defesa de Fl�vio Bolsonaro, o Superior Tribunal de Justi�a anulou as decis�es tomadas pelo juiz Fl�vio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, que permitiram a quebra de sigilo banc�rio e fiscal do parlamentar e de pessoas relacionadas a ele. A Pol�cia Federal segue o rastro dos assassinos de Marielle e Anderson, mas � preciso compreender melhor os motivos para chegar aos mandantes.
Como dizia o escritor norte-americano Raymond Chandler, autor do ensaio sobre literatura policial “A simples arte de matar”, “todo crime deixa um rastro e tem uma motiva��o”. O caso Marielle parece um romance policial noir, com todos os seus ingredientes e personagens emblem�ticos, que misturam pol�tica, corrup��o, crime organizado e assassinatos. Em “A Simples Arte de Matar” (L&PM), Chandler faz uma reflex�o sobre a literatura policial na qual sua experi�ncia de detetive particular o leva � conclus�o de n�o existem pessoas boas e inocentes envolvidas no mundo dos crimes, cujos cen�rios n�o s�o pa lacetes e casas de campo e sim ruas, becos e hot�is duvidosos.
� fato que as investiga��es do assassinato de Marielle e Anderson sempre enfrentaram grandes obst�culos e se arrastaram, at� serem “congeladas”, durante o governo Bolsonaro. A retomada das investiga��es pelo Minist�rio P�blico fluminense e a Pol�cia Federal retomaram o fio da meada. Vamos ver onde v�o dar.