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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Entre a sede de vingan�a e os horrores da guerra

A retalia��o de Israel ao Hamas ganha contornos de limpeza �tnica, com a expuls�o dos palestinos da Faixa de Gaza


29/10/2023 04:00 - atualizado 29/10/2023 07:32
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Guerra no Oriente Médio
� uma esp�cie de Lei de Tali�o ao quadrado: olho por olhos, dente por dentes. (foto: MOHAMMED ABED / AFP)
Circula nas redes sociais a foto de dois meninos de m�os dadas, um com a camisa azul de Israel e seu quip�, e outro com a bandeira da Palestina e seu len�o quadriculado. � uma mensagem ut�pica: a conviv�ncia fraterna entre palestinos e israelenses. O presente na Palestina � absurdamente dist�pico. Na guerra da Faixa de Gaza, ambos os lados t�m lugar de fala, com um ros�rio de argumentos para ir � guerra. Entretanto, nada justifica o ataque terrorista do Hamas ao territ�rio de Israel, nem legitima o massacre de civis palestinos, principalmente crian�as, mulheres e idosos pelo Ex�rcito israelense. � uma esp�cie de Lei de Tali�o ao quadrado: olho por olhos, dente por dentes.

Havia um “tit for tat” na rela��o de Israel com seus inimigos na regi�o. A express�o vem do holand�s dit vor dat - “este por esse”, que corresponde � express�o latina quid pro quo – “uma coisa pela outra”. Consistia numa pol�tica que alternava retalia��o ao Hamas, sempre que havia uma agress�o, e coopera��o t�cita, ap�s o cessar-fogo. Essa estrat�gia enfraquecia a Autoridade Palestina, inviabilizava a cria��o de um Estado palestino independente e possibilitava a coloniza��o nos territ�rios ocupados por Israel na Cisjord�nia. Entretanto, saiu do controle. O Hamas se fortaleceu e promoveu um violento ataque terrorista, que pegou de surpresa o governo de Netanyahu.

N�o h� d�vida de que Israel ser� vitorioso contra o Hamas, gra�as ao seu poderio b�lico, que inclui armamento nuclear, e o apoio militar e diplom�tico dos Estados Unidos, que inibe a a��o dos demais inimigos de Israel, principalmente o Ir�. O pronunciamento de Benjamin Netanyahu, ontem, mostra a disposi��o de levar a guerra �s �ltimas consequ�ncias, ou seja, reduzir a Faixa de Gaza a escombros. A ofensiva em Gaza � tratada pelo governo de Israel como uma segunda guerra da independ�ncia.

� uma remiss�o � Guerra do Yom Kippur, em 1973, quando a S�ria e o Egito invadiram Israel, cujo bastidor � retratado no filme Golda – A mulher de uma na��o, interpretada por Helen Mirren. O diretor Guy Nattiv conduz a narrativa para mostrar um modo de fazer pol�tica no qual o objetivo de salvar o pa�s e resgatar seus soldados presos, por�m, nunca esteve descolado da ambi��o de conquistar o reconhecimento diplom�tico e um acordo de fronteira com o principal agressor, o Egito.

Golda Meyerson, Mabovitch quando solteira, nasceu em Kiev, na Ucr�nia, em 3 de maio de 1898. Ainda crian�a, emigrou com os pais para os Estados Unidos (1906) e, em 1921, estabeleceu-se na Palestina. Ali come�ou a trabalhar para a cria��o do Estado de Israel, aliando-se ao movimento sindical Histadrut e ao Partido Trabalhista (Mapai). Foi embaixadora na Uni�o Sovi�tica, ministra do Trabalho, chanceler e secret�ria-geral do Mapai. Tornou-se primeira-ministra em 1969, ap�s a morte de Levi Eschkols. De centro esquerda, o Mapai � sionista e social democrata.

Naufr�gios

Benjamin “Bibi” Netanyahu ocupa o cargo de primeiro-ministro de Israel pela terceira vez. Chefe do partido Likud, j� havia liderado o pa�s de 1996 a 1999 e de 2009 a 2021. Natural de Tel Aviv, � o primeiro-chefe de Estado que nasceu em Israel, em 21 de outubro de 1949. O Likud congrega a centro-direita e a direita conservadora. Foi criado em 1973, como uma coaliz�o liderada pelo partido Herut, que representa os sionistas revisionistas. Acusado de corrup��o, Netanyahu enfrenta forte oposi��o popular, por causa de sua proposta de reforma do Judici�rio, cujo objetivo � transformar a democracia de Israel num regime iliberal.

A retalia��o de Israel ao Hamas ganha contornos de limpeza �tnica, com a expuls�o dos palestinos da Faixa de Gaza, que s� n�o ocorreu ainda porque as fronteiras com o Egito est�o fechadas. Em tese, s� haver� paz quando a sede de vingan�a for ultrapassada pela consci�ncia dos horrores da guerra. E as crian�as que aparecem na foto, qual o destino delas? Sem um acordo de paz que possibilite a erradica��o do terrorismo e a cria��o do Estado palestino, ser�o inimigas pelo resto das suas vidas?

Em setembro de 2015, a imagem de outra crian�a viralizou nas redes sociais: o corpo de Alan Kurdi, de 3 anos, amanheceu numa praia da costa da Turquia. A foto de Nil�fer Demi chocou a opini�o p�blica mundial e desnudou a trag�dia humanit�ria que ocorre no Mediterr�neo, com milh�es de refugiados. Abdullah Kurdi, com a mulher e dois filhos, naufragou num bote de borracha no qual embarcara em Bodrum, na Turquia, para chegar a C�s, ilha grega no Mar Egeu. O objetivo da fam�lia era migrar para o Canad�, e come�ar uma nova vida, com ajuda de Teema, tia do menino, que l� trabalhava como cabeleireira em Vancouver. Somente Abdullah sobreviveu. Poderiam ter feito esse trajeto de avi�o, mas n�o tinham passaportes. Como os curdos da Turquia, os palestinos da Faixa de Gaza s�o tratados como p�rias.

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