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Estado de Minas COLUNA

A miss�o da paci�ncia

A obra de S�o Jer�nimo ocupou praticamente toda a sua vida e tornou-se o texto usado largamente nos s�culos posteriores


26/09/2021 04:00 - atualizado 23/09/2021 14:27

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Depois de viver por mais de 30 anos nas grutas de Bel�m, nos anos 347-420, traduzindo a “B�blia” do grego e do hebraico para o latim, S�o Jer�nimo teve suas palavras reproduzidas como uma das joias mais cintilantes do Mosteiro dos Jer�nimos, em Lisboa, na chamada “B�blia dos Jer�nimos”, obra em sete volumes.

A cole��o � decorada com iluminuras de extremo luxo e requinte, considerada por especialistas um dos mais ricos exemplares sa�dos das oficinas florentinas do Renascimento. Cont�m todos os livros da “B�blia” e a hist�ria de S�o Jer�nimo, venerado no pr�ximo dia 30. Texto em latim, dividido em duas colunas, com letras da Renascen�a italiana.

Manuscrita no s�culo 15, em Floren�a, como um presente para o futuro rei Manuel I de Portugal, pode ser apreciada por quem vai a Lisboa no pr�dio do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, na freguesia de Alvalade. Foi legada pelo rei em testamento ao Mosteiro dos Jer�nimos, onde ficou at� o s�culo 19.

A obra foi produzida pela oficina de Attavante degli Attavanti, auxiliado pelos irm�os Gherardo e Monte del Fora, por encomenda de um mercador florentino, e passou por momentos dif�ceis.

Foi confiscada e levada para Paris, retornou a Portugal por interven��o do rei franc�s Lu�s XVIII, que a comprou para ser devolvida. Durante as Guerras Liberais, com a extin��o das ordens religiosas, a cole��o foi salva pela coragem de um frei, que com risco de morte a guardou no Er�rio P�blico quando estava em andamento um plano de assalto ao mosteiro.

Dali passou para o Banco de Lisboa, depois a Casa da Moeda, e, com os volumes intactos, foi finalmente depositada na Torre do Tombo, em 1883, onde permanece como um dos mais preciosos bens ali guardados.

Com as p�ginas em velino (fino papel feito com couro de carneiro) da melhor qualidade, originalmente estava encadernada com pesadas guarni��es de prata, mas hoje a capa � de marroquim (couro de cabra). A escolha do tema da cole��o deve-se � import�ncia de S�o Jer�nimo como tradutor da “B�blia” e o fato de o trabalho ter sido encomendado pelo papa D�maso, um lusitano. No pen�ltimo volume, o frontisp�cio mostra o papa quando ordenou a tradu��o ao santo.

Pensar que tudo come�ou no final do s�culo 4, enquanto um monge disciplinado, austero e de temperamento dif�cil trabalhava � luz de velas e com penas de ave procurando dar a cada vers�culo a tradu��o mais fiel poss�vel da sagrada escritura. Ironia da vida: um dos mais nervosos de todos os santos recebeu uma das miss�es que mais paci�ncia e delicadeza poderiam exigir.

A incumb�ncia fora dada pelo papa D�maso, que desejava uma tradu��o na l�ngua do povo. A obra de S�o Jer�nimo ocupou praticamente toda a sua vida e tornou-se o texto usado largamente nos s�culos posteriores, com o nome de Vulgata (“popular”).

Quando S�o Jer�nimo traduziu o livro de Tobias, j� estava vivendo em Bel�m. Para obter um texto-base, conseguiu de um judeu que guardava a Sinagoga que lhe emprestasse esse livro durante a noite, a fim de que os outros israelitas n�o soubessem. Resultado: S�o Jer�nimo traduziu toda a hist�ria de Tobias e do arcanjo S�o Rafael em uma �nica noite.

Da gruta em Bel�m, cercada de sil�ncio, para o imponente museu de Portugal e a admira��o de turistas do mundo inteiro, o caminho at� parece natural: um monge santo decifra palavras e elas continuam santas pelos s�culos afora. S� mesmo a palavra de Deus. Passaram-se s�culos para que a Igreja chegasse � forma final. Veio ainda a Nova Vulgata ap�s a descoberta de manuscritos na Palestina. Para compreender a fundo a hist�ria sagrada, � preciso entender como pensavam os antigos como S�o Jer�nimo, que por vezes era chamado de Tradutor de Deus.

E para todos n�s, a capacidade de admirar o carinho com que ela foi copiada de m�o em m�o, milhares de vezes, sem altera��es significativas, e abrindo a “B�blia” com a mesma devo��o tal como nossos antepassados a conservaram.

S� quem puder contar os gr�os de poeira do ch�o ou as estrelas do c�u poder� contar as gotas de amor derramadas nos textos das p�ginas de papel-scritta da sagrada escritura desde o G�nesis ao Apocalipse de Jo�o.

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