
No outro dia, durante minha caminhada matinal, parei para pegar f�lego e respirar no mirante do Belvedere. Foi nesse momento que fui pega por uma mistura de emo��es. A vista do mirante sempre foi exuberante, mas dessa vez estava ainda mais especial. O cheiro de verde estava forte, pois a trilha havia sido podada recentemente, as folhas e capins estavam espalhados pelo ch�o. Foi nesse contexto que vi v�rias mulheres, algumas moradoras da favela Morro do Papagaio, manifestando sua f� de diferentes maneiras. Algumas oravam, outras cantavam, outras gritavam, algumas estavam de joelhos, algumas com a b�blia ou ter�o na m�o, outras simplesmente contemplavam a serra. Essas mulheres simples conectadas com Deus me emocionaram profundamente. Foi como se eu estivesse testemunhando um momento de transcend�ncia. Aquele lugar m�gico, com cheiro de natureza e a presen�a dessas mulheres t�o devotas criou uma atmosfera de paz e serenidade.
Me coloquei a refletir, sentada numa pedra, como a vista do mirante realmente � fascinante: em um �nico lugar, podemos ter uma vis�o ampla e abrangente da cidade, com suas diferentes paisagens e realidades. Pude ver, de um lado, os imponentes edif�cios do bairro Belvedere, que representam o luxo de uma classe privilegiada. De outro lado, a favela Morro do Papagaio, que � um exemplo da exclus�o. Essa paisagem contrastante � um reflexo da desigualdade social que permeia nossa sociedade. De outro lado, pude ver os ic�nicos est�dios de futebol da cidade, a Arena do Galo, o Est�dio do Mineir�o e a Arena Independ�ncia, que representam a paix�o do povo mineiro pelo esporte. E, ao fundo, a Serra do Curral, que � um dos mais belos s�mbolos da cidade de Belo Horizonte.
As religi�es, muitas vezes, desempenham um papel social importante, oferecendo suporte emocional e espiritual �s pessoas em momentos de dificuldade e, nas favelas, isso se acentua: os templos, muitas vezes, se tornam centros de conviv�ncia e solidariedade, onde as pessoas podem encontrar apoio e conforto em meio aos infort�nios da vida. Devo ressaltar que a diversidade religiosa tamb�m provoca conflitos e intoler�ncias. As diferentes paisagens, religi�es e classes nos mostram as realidades e os desafios da sociedade e como a f� pode se manifestar de diferentes formas e em lugares diversos.
M�e Menininha do Gantois, uma das mais importantes l�deres religiosas do candombl�, costumava dizer que a f� � uma das principais for�as que guiam a vida das pessoas, nos conecta com o divino e nos ajuda a superar desafios e adversidades. J� para o Padre Ant�nio Vieira, no "Serm�o da Sexag�sima", a f� enfatiza a import�ncia da prega��o e da compreens�o correta da Palavra de Deus para a f� verdadeira. Ele argumenta que a f� n�o pode ser simplesmente aceita sem questionamento, mas deve ser entendida intelectualmente e praticada ativamente.
Em um mundo cada vez mais polarizado, � fundamental que respeitemos a diversidade religiosa e compreendamos que a f� pode ser praticada de diferentes maneiras. A presen�a das mulheres no mirante do Belvedere, independentemente da religi�o que seguiam, mostrou que a conex�o com o sagrado pode ser uma fonte de paz e serenidade em meio a realidades t�o distintas. � importante lembrar que a f� n�o deve ser utilizada como um instrumento de discrimina��o ou exclus�o, mas sim como uma forma de promover a solidariedade e a empatia entre as pessoas. Ao nos conectarmos com o divino, podemos encontrar a for�a necess�ria para enfrentar os desafios da vida, e essa � uma mensagem que vale para todos, independente de sua religi�o ou classe social. Portanto, acredito que devemos olhar para a f� como uma forma de uni�o e respeito m�tuo, e n�o como uma fonte de divis�o ou conflito.