H� poucas semanas, minha irm� e meu cunhado receberam alta do hospital depois de 12 dias internados por complica��es decorrentes da COVID-19, que contra�ram mesmo tomando todas as precau��es e doses de vacina.
Em nenhum momento nossas fam�lias desacreditaram das recomenda��es e protocolos. Do contr�rio, sabemos que se n�o tivessem sido vacinados e mantido o m�nimo de isolamento desde mar�o do ano passado provavelmente as consequ�ncias seriam outras.
Em nenhum momento nossas fam�lias desacreditaram das recomenda��es e protocolos. Do contr�rio, sabemos que se n�o tivessem sido vacinados e mantido o m�nimo de isolamento desde mar�o do ano passado provavelmente as consequ�ncias seriam outras.
Meu cunhado foi internado primeiro, mas foi minha irm� quem teve o quadro mais complicado. Quando passou a n�o conseguir responder �s mensagens ou atender �s nossas liga��es, tentei transformar o quarto dela em um quintal de nossas casas.
Remexi nas fotos impressas desde a inf�ncia e escolhi algumas de momentos significativos e divertidos. Montei cartazes em papel de molde, escrevi frases com caneta hidrocor, usei durex colorido como fazia h� d�cadas quando dava aulas na pr�-escola. Comprei bal�es enormes inflados em forma de cora��o e estrela nos quais mandei imprimir frases que arrancaram gargalhadas.
Quando minha inspira��o parecia chegar ao fim, bastava andar pela casa observando tudo at� encontrar um objeto interessante capaz de significar algo naquele momento. Desde crian�a, tenho o h�bito de carregar coisas de minha resid�ncia para outros palcos. Quando participava de espet�culos no col�gio, no cen�rio havia sempre algo que eu pegava de minha m�e. Certa vez, ela foi surpreendida ao ver em destaque, no ponto alto de uma pe�a, uma de suas panelas, j� tida como perdida, sendo usada como arma de um crime.
Durante dias, parava o carro na porta do hospital, descia correndo, entregava na recep��o pacotes cada vez maiores endere�ados � ala da COVID. Ria de mim mesma, da precariedade e cafonice de tudo aquilo, mas as respostas � minha inten��o, que chegavam pouco tempo depois de deixar a �rea hospitalar, me motivavam a n�o sair da brincadeira.
Fato � que h� sempre uma maneira de transformar os ambientes tornando-nos presentes na vida daqueles a quem amamos. Se n�o podemos acalentar a dor do outro com um abra�o f�sico, o podemos fazer de mil maneiras bastante simples, a come�ar pelo envio de energias positivas. Ser otimista n�o significa negar a realidade e pode tornar mais suport�vel o sofrimento e transformar a vida de todos os envolvidos.
"Cansei de ser linda! Quero ser maravilhosa!" foi uma das frases que enviei para ela junto com uma Mafalda, do Quino, que eu tenho. A bonequinha chegou ao hospital num momento de muita ansiedade e acabou desviando a aten��o da dor para as possibilidades do futuro. Acreditar que temos condi��es de viver melhor em qualquer situa��o nos ajuda a superar as dificuldades e a tornar mais leves e proveitosos os dias que nos restam.