
Diante da nova m�quina, refletia sobre quanto tempo aquele instrumento moderno lhe seria �til, prevendo que n�o vai costurar tanto quanto o fez naquela da qual ela estava se desfazendo. Claro que n�o penso diferente, mas prefiro n�o contabilizar benef�cios usando o argumento do tempo cronol�gico; h� muitos fatores a� al�m dele. Mas n�o vi em seu rosto nenhum des�nimo. Do contr�rio, a velha costureira planejava iniciar a lida t�o logo eu fosse embora.
O fato de as filhas terem insistido na aquisi��o de uma m�quina para ela naquela altura da vida me levou a fazer associa��o com a hist�ria recente de minha m�e, que em dezembro completa 93 anos. Pouco antes do in�cio da pandemia, em 2020, ela foi submetida a cirurgia de alto risco para troca de uma v�lvula do cora��o. Foi preciso uma a��o judicial para que o plano de sa�de pagasse e ao longo de todo o processo ouvimos o seguinte questionamento: "N�o � um investimento alto demais para quem tem pouco tempo de vida pela frente?"
Se hoje vivemos mais que nossos av�s � porque uma s�rie de fatores mudaram, a come�ar pelo investimento em estudos e pesquisas que tornaram poss�vel este tipo de interven��o em pessoas at� outro dia consideradas com o "p� na cova". Ent�o, a resposta � n�o. A cada dia conhe�o mais hist�rias de idosos com mais de 90 anos, como a de minha m�e e a de dona Aparecida, e s�o elas que nos fazem acreditar que de fato "o jogo s� acaba quando termina".
Um novo equipamento, tenha ele a fun��o de melhorar a capacidade cardiovascular, agilizar a produ��o de roupinhas ou tantas outras coisas, n�o pode ser visto principalmente sobre o aspecto econ�mico. Seja quando for, a fr�gil m�quina de costura de dona Aparecida certamente ser� comandada por novas m�os e novos p�s, assim como quando minha m�e se for sua hist�ria far� parte de uma estat�stica cada vez mais positiva, n�o apenas na �rea m�dica. Afinal, serve de est�mulo para quem acredita que ainda tem muito a viver, mesmo tendo "pouco" tempo.