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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Sempre haver� tempo

'Tempo acaba quando termina'


19/09/2021 04:00 - atualizado 19/09/2021 07:55

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(foto: pixabay)
Durante a semana, fui � casa de uma senhora buscar uma m�quina de costura que ela estava doando para a oficina que mantemos em Boa Vista, Roraima, onde trabalhamos com refugiados venezuelanos. Fui recebida com um sorriso enorme estampado em um rosto de uma senhora de 94 anos. "S� consigo fazer dois vestidinhos de crian�a por dia", me contou. A costura � sua distra��o preferida, e tudo o que faz � para ser doado a crian�as carentes. "Eu n�o preciso mais desse tipo de coisa." 

A senhora estava feliz em poder contribuir, mas lamentou ter sido constrangida pelas filhas a trocar de m�quina. "Esta tem mais de 50 anos e ainda funciona muito bem", se orgulhava. E acredito, pois de fato as antigas s�o mais robustas, t�m componentes de ferro, o que as torna muito mais resistentes ao tranco ao qual s�o muitas vezes submetidas diante de m�os e p�s inexperientes. As filhas a presentearam com uma nova "toda de pl�stico, cheia de fun��es desnecess�rias", como ela descreveu ao telefone quando combin�vamos nosso encontro. 

Diante da nova m�quina, refletia sobre quanto tempo aquele instrumento moderno lhe seria �til, prevendo que n�o vai costurar tanto quanto o fez naquela da qual ela estava se desfazendo. Claro que n�o penso diferente, mas prefiro n�o contabilizar benef�cios usando o argumento do tempo cronol�gico; h� muitos fatores a� al�m dele. Mas n�o vi em seu rosto nenhum des�nimo. Do contr�rio, a velha costureira planejava iniciar a lida t�o logo eu fosse embora. 

O fato de as filhas terem insistido na aquisi��o de uma m�quina para ela naquela altura da vida me levou a fazer associa��o com a hist�ria recente de minha m�e, que em dezembro completa 93 anos. Pouco antes do in�cio da pandemia, em 2020, ela foi submetida a cirurgia de alto risco para troca de uma v�lvula do cora��o. Foi preciso uma a��o judicial para que o plano de sa�de pagasse e ao longo de todo o processo ouvimos o seguinte questionamento: "N�o � um investimento alto demais para quem tem pouco tempo de vida pela frente?" 

Se hoje vivemos mais que nossos av�s � porque uma s�rie de fatores mudaram, a come�ar pelo investimento em estudos e pesquisas que tornaram poss�vel este tipo de interven��o em pessoas at� outro dia consideradas com o "p� na cova".  Ent�o, a resposta � n�o. A cada dia conhe�o mais hist�rias de idosos com mais de 90 anos, como a de minha m�e e a de dona Aparecida, e s�o elas que nos fazem acreditar que de fato "o jogo s� acaba quando termina". 

Um novo equipamento, tenha ele a fun��o de melhorar a capacidade cardiovascular, agilizar a produ��o de roupinhas ou tantas outras coisas, n�o pode ser visto principalmente sobre o aspecto econ�mico. Seja quando for, a fr�gil m�quina de costura de dona Aparecida certamente ser� comandada por novas m�os e novos p�s, assim como quando minha m�e se for sua hist�ria far� parte de uma estat�stica cada vez mais positiva, n�o apenas na �rea m�dica. Afinal, serve de est�mulo para quem acredita que ainda tem muito a viver, mesmo tendo "pouco" tempo.

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